A arte se revela de muitas formas, pintura, escultura, literatura, música etc. É compreensível que constantemente através dos anos venham surgindo novos artistas e com eles novas formas de expressão que divergem e até mesmo se distanciam dos grandes expoentes de suas respectivas épocas. Um exemplo, na pintura, do barroco-rococó de Manuel da Costa Ataíde, o mestre Ataíde ao grafite de Francisco Rodrigues da Silva, o Nunca. No entanto, no caso específico da música, a coisa está feia, vejamos.

Dois dos compositores mais tocados e vendidos atualmente no país se encontram no estúdio de gravações do qual são sócios proprietários na sala iluminada e climatizada de sofás macios em um dia ensolarado e quente, e se cumprimentam:

- Diga aí mano.

- Fala meu.

- Vamo fazê música.

- Vamo lá.

- Eu digo Vá.

- Eu digo Vô.

Os dois juntos:

           - Eu digo Vá Vô Vô.

           - Aí meu que letra.

           - Só duas cabeça mermo pra tanto talento mano.

           - E o resto meu?

           - Os cara improvisa, vai tocando e falando o nome da banda. É sucesso na certa mano.

           - Isso prova que o jovem tem bom gosto meu.

           - Só jovem não mano, tem muito coroa aí que curte a gente.

           - E quem num curte, tô nem aí, escuta mermo, é cada paredão meu.

           - Os carro tão que é só som, mal cabe o motorista, eles adoram nossas letra mano, põe nas altura, último volume, placa balançando, e ainda canta junto.

           - É incrível meu. Vamo compô mais?

           - Segura essa mano:

Tira tira tira tira tira tira a minha

Ela tá lôcona

Fora da coisinha.

           - Meu essa tá muito comprida, os cara não vão conseguir cantar a música toda.

           - Eles divide mano, cada um decora uma parte da música, é só cantá em dupla de dois.

           - Valeu meu, essa vai estourá.

           - Não, pera aí meu, agora é minha vez, covardia, dexa eu usar a minha criastividade, botá meu cabeção pra funcioná, escuta só essa, não meu, presta atenção...

           - Vamo porra, dexa de suspenso, canta logo mano.

           - Ah se eu te cego

                Ah se eu te cego

              - Da vista, Da vista.

           - Dá na vista meu, tu acha?

           - Né isso não mano, eu completei a letra.

           - Pôxa, eu tenho certeza, vai sê show, exportação meu, exterior.

           - Falar em estrangero, tu reparô que o gosto musical se sofisticou no mundo todo, num é só aqui que se dá valô a música de qualidade não mano.

           - É, aí, é, sê tem razão meu.

           - Vamo fazer uma parada pra rapaziada gospel mano.

           - Vende bem meu.

           - Pô mano, eu acho que tô tendo uma inspiração.

           - Né caganeira não meu, cólica?

           - Não, escuta só, coisa de Deus mano.

             A minha filha é do Senhor.

           - Meu, num vai fazê os corôa dizer: minha mesmo não ou os boy gritá: dê cá cumpade.

           - Mano, nosso Senhor, o lá de cima.

           - Ah bom, assim sim.

           - Tá ficando tarde mano, vamo cuidá nas melodia, nos ritmo.

           - Vamo botá qualquer ritmo meu, letra universal pô.

           - Tem razão mano, se a gente põe sertanejo, os cara também grava forró, tanto faz mermo.

           - Tá tarde meu, já me vou.

           - Té mais mano, fui.