RESUMO

Este projeto experimental tem o objetivo de utilizar os meios audiovisuais em conjunto com as mídias sociais para dar visibilidade aos trabalhos produzidos dentro da cena da música alternativa em Santarém (PA), compreendendo as características da cena local, e as afirmações de identidade cultural através da música. Além de criar um canal de comunicação que possibilite que o conteúdo produzido dentro da cena musical alternativa santarena possa chegar a qualquer pessoa interessada no tema em qualquer parte do país, através da internet.A cena musical alternativa santarena se mantém ativa e dinâmica graças aos esforços de integrantes da mesma que fazem o possível para superar as adversidades, com pouco ou nenhum apoio, e a dinâmica criada na cena enriquece o cenário cultural da cidade e é digna de ser pesquisada, registrada e divulgada.

Palavras-Chave: Projeto experimental, Cena musical, Mídias Sociais.

INTRODUÇÃO

Este projeto tem como principal motivação a dinâmica cultural da cena musical santarena, que possui pouca visibilidade no meio do jornalismo cultural. Pensando música não como um prazer passageiro ou apenas mais um produto a ser consumido, mas como um estilo de vida. Dentro dos trabalhos produzidos pelas bandas da cena underground santarena, pouquíssimos trabalhos conseguiram algum espaço junto à mídia tradicional. Assim como poucas delas conseguem gravar o material em plataforma física e conseguir promover a distribuição do mesmo.

            A cena alternativa santarena é muito rica, seja em trabalhos autorais ou nos gêneros musicais que nela se encontram. Toda essa diversidade musical não é registrada pelo jornalismo cultural e a história da cena vai se perdendo devido à dinâmica cultural, conforme as bandas vão se desfazendo e os membros, por inúmeros motivos, acabam se desligando da cena.

            Como os meios de comunicação tradicionais não são a forma mais acessível de divulgar os trabalhos produzidos na cena, os meios de comunicação alternativos se tornaram a resposta para a falta de apoio das bandas underground. O ambiente virtual se tornou uma extensão da cena, dentro dele as fronteiras físicas, principal fator limitante para a interação dos membros distantes, não são um problema. Boa parte das interações entre os membros se dá no ambiente virtual, a troca de informações e experiências que antes acontecia somente nas rodas de conversa em ambientes isolados foi transferido para o ambiente das mídias sociais.

            Com a crise da indústria fonográfica e a popularização da internet o mercado musical vem sofrendo grandes alterações, dentre elas talvez a mais significativa seja a preferência pela música distribuída em plataformas digitais em detrimento dos discos físicos. Com a música sendo distribuída através das redes sociais, o rádio e a televisão perdem em parte sua influência sobre o público e um pouco do seu poder de alavancar a carreira de um artista.

            Junto com os novos meios de distribuição da música surge a possibilidade de segmentar os gostos, agrupar fãs de um mesmo gênero num ambiente virtual, além de personalizar a plataforma de forma que parte da identidade do consumidor seja refletida naquele site ou aplicativo.

            A cena da música alternativa santarena conta com vários exemplos que se encaixam nessa realidade, músicos com um bom repertório musical, uma quantidade razoável de trabalhos autorais, mas que não contam com nenhum espaço de divulgação que não sejam a internet ou as apresentações ao vivo, que ficam restritas ao público que já participa da cena. E ainda assim a maior parte da divulgação dos eventos se dá através da internet, nas mídias sociais.

            Não há nos meios de comunicação tradicionais da cidade algum programa que possibilite a divulgação dos trabalhos produzidos pelas bandas locais, a preferência é para os trabalhos de musicais regionais tradicionais, como o carimbo ou o brega. O máximo que iremos encontrar são páginas no facebook ou blogs voltados para o anúncio dos eventos realizados na cena alternativa, e ainda assim o acesso acaba ficando restrito, mais uma vez, apenas aos membros da cena que já acessavam o conteúdo.

            A interação entra banda e público, e entre os próprios membros da cena, também acontece em grande parte no ambiente virtual, que consequentemente se materializa nas apresentações ao vivo. É importante que estas ferramentas sejam utilizadas de forma que o conteúdo produzido pelos músicos da cena alternativa seja melhor aproveitado pelos usuários das mídias sociais, de forma que o trabalho disponibilizado em rede não se perca, nem permaneça restrito em âmbito local. Mas que possa chegar a toda e qualquer pessoa que possa ter interesse no trabalho desenvolvido dentro da cena.

            Para que possa haver um melhor aproveitamento desse projeto é necessário que alguns conceitos, que norteiam o trabalho sejam compreendidos. Como o termo underground, adjetivo diversas vezes atribuído às bandas do gênero rock.

            A palavra underground surgiu por volta da década de 1960, devido às manifestações contraculturais da época. Esse termo se tornou sinônimo de “independente” e “alternativo”. E essas duas palavras são características importantes da cultura underground, ou seja, a forma de distribuição e produção dos produtos culturais (Maia, 2014). Características que se encaixam na cena musical alternativa santarena.

            O conceito de cena também precisa ser compreendido, o termo cena musical surgiu para caracterizar o meio do gênero jazz, na década de 1940. O termo não abrangia apenas o gênero, mas também o público, o local dos shows, críticos e gravadoras. O termo se popularizou por volta dos anos 1980 e 1990 para determinar práticas musicais de determinados espaços urbanos (Janotti Jr, 2011). Este conceito também se encaixa na cena musical alternativa de Santarém, pois a cena local vai além dos gêneros musicais que nela se encontram, a cena underground santarena é parte integrante do cotidiano de seus membros.

            Junto com estas duas definições outra questão deve ser pensada para o andamento do projeto, a questão das plataformas digitais como meio de consumo de música.Herschmann (2011) afirma que nunca a música esteve tão acessível, mas também jamais foi tão difícil estabelecer o seu valor de troca, num mercado de bens e serviços culturais. Não há como separar a tecnologia do consumo de música atualmente. Para Janotti Jr. (2011) consumir música nos dias de hoje é estar conectado a uma rede cultural que une indivíduos que compartilham do mesmo gosto musical, que vão aos shows e são influenciados por seus ídolos. Indivíduos que tomam a iniciativa de aprender a prática de determinado instrumento musical, formam uma banda e decidem gravar um disco inteiro usando o computador.

             A mobilização dessas pessoas para divulgar sua criação vai permitir que entrem em contato com pessoas de dentro e fora das cenas locais, e é essa movimentação que permite que as cenas cresçam e se mantenham vivas. E todas essas ações colaboram para que a música se afirme como um produto de forte presença em diferentes espaços do mundo atual (Janotti Jr, 2011).

            O principal objetivo deste projeto é criar um produto que possa dar visibilidade ao trabalho de artistas, que até o momento, tem estado à margem dos meios de comunicação tradicionais, além de servir como ponte entre o público que ainda desconhece o cenário musical alternativo de Santarém e os membros que já fazem parte da cena.