Supply Chain Management - Desafios Modernos

Supply Chain  Management - Desafios Modernos

Cadeias de valor mundialmente integradas operando com níveis de otimização cada vez mais desafiadores, em redes logísticas contemplando nodos interativos e correlacionados, são determinantes do mercado global moderno, um ambiente no qual eventos incorridos no upstream atingem o downstream (e vice-versa), com magnitude e velocidade que desafiam os modelos e sistemas de Supply Chain Management (SCM) existentes. Tal dinâmica exigirá dos profissionais da área que desenvolvam um arcabouço de conhecimentos abrangentes, atuais e em plena evolução, pontificando uma nova forma de interdisciplinaridade que abrace todas as atividades que impactam ou sofram impactos de eventos que venham a ocorrer nas cadeias de fornecimento, consideradas as várias etapas e processos que se utilizam com o objetivo de atender as demandas da sociedade. Esse universo de conhecimentos inclui tecnologia, finanças, gestão de negócios e de pessoas, riscos  corporativo e compliance, além do elenco clássico de matérias de administração de empresas, legislação, contabilidade e os preceitos de certificação e de gestão da qualidade. Destacam-se, dentre as áreas citadas, a tecnologia da informação e compliance regulatório.

Por uma ótica objetiva, é possível concluir por meio de pesquisas, que as décadas de avanços em sistemas produtivos, em modelos logísticos, operacionais e nas comunicações, permitiram à sociedade desenvolver um universo mercadológico em que demandas de todos os possíveis anseios foram geradas e atendidas, desde a oferta de itens básicos e provisões de primeira necessidade como alimentos, medicamentos, vestuário, ferramentas, até os itens demandados mais excêntricos, luxuosos e incomuns, demandas por objetos de desejo como supercarros, viagens de avião em suntuosos espaços de primeira classe onde refeições exclusivas são servidas, iates, dentre tantos outros objetos de mero deleite representantes dos desejos das pessoas de possuir, se destacar no meio social o de vive. Modelos capitalistas de geração desenfreada de riquezas e exploração desmedida dos recursos foram desenhados ao redor da evolução das cadeias de valor.

Por outro lado, nem mesmo a mais avançada tecnologia ou os mais bem elaborados protocolos de gestão de cadeias de valor são capazes de assegurar à sociedade a ininterrupta, total, temporânea e previsível certeza com relação ao atendimento de uma demanda, ainda que seja de curto prazo. O ambiente atual é marcado por mudanças constante e inovações disruptivas em todos os setores da economia – grande desfio aos profissionais de SCM.

O exemplo que a humanidade testemunhou durante a pandemia recente de coronavírus, quando lockdowns interromperam o abastecimento de materiais essenciais para a produção industrial, evidenciam a magnitude dos efeitos de uma interrupção nos vários elos desde o consumidor ao upstream das cadeias de fornecimento, e deixam claro que SCM é uma das mais importantes áreas do conhecimento, como restou provado no período de caos da ruptura nas cadeias de valor. Tais rupturas não impediram, por exemplo, o suprimento de alimentos e medicamentos, serviços sociais e suprimento de energia, comunicação, saúde e segurança, por força de gerenciamento hábil de cadeias de fornecimento no mundo todo.

Para a indústria, impactos gravíssimos - alguns irreparáveis - se difundiram de forma sistêmica, impactando as cadeias inter-relacionadas em suas rotas, custos, estratégias e objetivos, levando muitas organizações à redução nos volumes de operação, perda de fatias de mercado, ou mesmo a extinção do negócio por completo. Nesse viés, resiliência e flexibilidade foram os drivers da superação, com a adoção de novos moldes organizacionais e padrões de alocação de recursos, novas tecnologias (especialmente videoconferência) e reformulação de modelos logísticos e operacionais (como a jornada de trabalho híbrida), dentre outros. Estes conjuntos de fatores, assim, garantiram que  a sociedade pudesse se amoldar à nova realidade em que o mercado digital, apoiado justamente em Supply Chain Management e em tecnologias inovadoras, assumiu o papel de novo modelo de central de negócios.

Ainda, mesmo com a miríade de desafios impostos pela nova realidade, temas em evidência como o meio ambiente, governança e transparência, segurança cibernética, inclusão e diversidade não deixaram de ser pilares de sustentação de estratégias – por exemplo, estratégias logísticas, estratégias de expansão e otimização das cadeias de valor - reafirmando o compromisso da área de SCM para com os principais drivers da sociedade.

Por fim, a inteligência artificial evoluiu recentemente de maneira extraordinária, saltando de uma posição em que se limitava a poucas e seletas atividades organizacionais e governamentais para a palma da mão dos indivíduos, passando a ser ferramenta digital para fruição da sociedade suas relações pessoais, profissionais, estabelecendo novas formas de se gerar, adquirir  e transmitir o conhecimento. Milênios atrás, na Grécia antiga, com os robôs criados por Hefesto - deus da Metalurgia na mitologia grega - como citado por Homero, ou os que foram imaginados por Descartes, nos anos 1600, já denunciam o fascínio humano por tecnologias por inteligência autônoma criada pelos homens. E mais recentemente,  impulsionados por Alan Touring e seu teste (teste de Touring) que brilhou nos tempos da Segunda Guerra, os homens sempre viram em inteligências não humanas um caminho a ser trilhado e muitos foram os que, de certo modo, anteviram um futuro que começa a se tornar realidade hoje.

Nesse aspecto de novas tecnologias com uso de IA, o papel do SCM será primordial para a criação de modelos de fornecimento avançados, especialmente, via desenvolvimento de cadeias de valor que atendam aos SDGs e à otimização destas  cadeias, com geração de resultados através da satisfação de demandas incontáveis da sociedade em todo o mundo, solucionando questões complexas que incluem desde processos de manufatura autônomos até programas de distribuição de recursos para erradicação da fome e moléstias, além de se manter íntegra enquanto  área do conhecimento e área profissional de relevante papel no mercado. É possível que as modernas formas de inteligência artificial em conjunto com princípios seculares de gestão se alinhem para formar um SCM mais completo e resiliente.

É necessário que a IA e todo seu potencial sejam aproveitados pelo SCM incorporando meios de cobrir as demandas dos povos em um modelo de colaboração entre o pensamento inato dos homens e as capacidades inigualáveis das máquinas, em que os caminhos sejam plataformas evolutivas que beneficiem a todos, sem gerar desigualdades, e sempre lado a lado – homem e máquina. Desta forma, Supply Chain Management cumprirá mais um papel de expressivo valor aos povos: o de permitir que a sociedade seja mais eficiente, evoluída e mais justa.

Mario M.S. Soriano