SUPERVISÃO PEDAGÓGICA

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA PRÁTICA DOCENTE E NA GESTÃO ESCOLAR

Sônia Chaves Costa

Como um novo paradigma, a ação supervisora tem como tarefa árdua o enfretamento dos conflitos com o objetivo de despertar um outro lado do ser humano, o seu lado altruísta. Por meio de sua mediação, o supervisor abrirá espaço para que o professor possa expressar suas opiniões, seus pontos de vista e suas soluções.

A postura de mediador do supervisor deve ser apoiada pelas regras de conduta que a escola possui e, gradativamente, esse tema pode ser inserido no currículo escolar para que não seja uma ação isolada, mas incorporada ao cotidiano da instituição.

Para que o processo de mediação tenha êxito no ambiente escolar, é necessário um currículo que contemple a cultura da paz. Dessa forma, seria possível ensinar e aprender a mediar conflitos, assim como se faz com outras habilidades.

Perrenoud (2000) assinalou que uma sociedade sem conflito seria ou uma sociedade formada por ovelhas, que se curva sem resistência diante do chefe, ou uma sociedade na qual ninguém pensa. Para o autor, cada pessoa aborda um conflito de acordo com a sua história pessoal e sua formação. Uma equipe pedagógica dependeria de sua maturidade, estabilidade e serenidade pessoais.

O supervisor pedagógico seria esse profissional com configuração mais harmoniosa capaz de apaziguar os conflitos buscando um funcionamento mais harmonioso. Perrenoud assinala que viver com as neuroses do outro exige não somente uma certa tolerância, mas também competência de regulação no sentido de evitar o pior, rompendo os nós e as esperais.

Um trabalho de prevenção deverá fazer parte do cotidiano da escola. Construir pontes para que cada divergência seja trabalhada, vendo a realidade, evitando-se o não enfrentamento das questões que geram o conflito.

Ceccon (2009) sugere um ABC para conviver com os conflitos, destacam-se, a seguir, alguns:

  • A: Identificar e desmontar as armadilhas da comunicação;
  • B: Usar normas de colaboração para uma comunicação produtiva; e
  • C: Retomar a comunicação adotando um diálogo restaurativo.

Segundo o autor, a escola pode desenvolver parcerias com instituições, que tenham afinidades com seus valores, para desenvolver projetos sobre a construção de uma sociedade sem violência. Em seguida, reitera que os líderes escolares, diretores e equipe gestora, devem ser capazes de estimular a capacidade das pessoas de focar a realidade da escola por outro ângulo, reforçando a cooperação e a sinergia, alimentando a alma da escola.

Nesse momento, o supervisor pedagógico pode sugerir atividades que aperfeiçoem essas competências, incluindo domínio de conhecimento e atitude necessária para lidar com o conflito.

Parrat-Dayan (2012) assevera que o conceito de indisciplina pode ser interpretado de diversas maneiras de acordo com o marco referencial, ou seja, se considerar ou o aluno ou o professor ou a escola como um todo.

O papel do supervisor pode contribuir com uma nova forma de lidar com o problema de conflito na escola. Ao focar numa liderança que conecte a equipe para juntos caminharem para atingir um objetivo comum, as ações do supervisor representarão a visão de toda a comunidade escolar, sem privilegiar somente um membro da administração escolar. Essa parceria entre todos os envolvidos torna a solução de conflitos possível.

Refletir sobre a teoria e a prática no momento atual torna-se imprescindível. A sociedade passa por diversas transformações, abalando-se os valores e a moral adquiridos. Como abordar um assunto que o aluno já consultou algo na internet através do Google? O que a escola deve fazer? Como a supervisão pedagógica pode intervir nesse processo de relativização do ensinar da escola e o da informação pelo acesso à tecnologia?

Para Trevisol, de acordo com La Taille (2009), a família é o primeiro grupo social com o qual o indivíduo interage e aprende as regras de convívio social. Quando esse sujeito, por diversas razões, não se apropria de uma base moral no período correto da sua infância no seio da família, ele chegará à escola sem direção, tendo como consequência o pouco valor e significado que a escola terá em sua vida.

Por isso, o supervisor deverá aproveitar possibilidades de parcerias com os responsáveis, trazer esses pais para a escola. A escola só tem a ganhar com esse relacionamento, pois, além de poder contribuir com melhorias no aspecto físico da escola, o intercâmbio pode propiciar divisão de responsabilidades.

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