SUPERAÇÃO -  O MILAGRE DA FÉ

Seis e meia. O som do relógio na torre ecoa na vizinhança da Rua jornalista Deolino Barreto na querida e heráldica Princesa do Norte.  Os pardais, sinhá-açu e pombos fazem voos rasantes entre voando à torre do Santuário São Francisco de Assis. Os cantos dos pássaros machos entretecem e fazem uma tarde-noite mais agradável.

Os primeiros fiéis entram pela porta principal do Santuário e se acomodam. A paz reina naquele recinto.

Aos poucos, os assentos e bancos da igreja se completam com a quantidade dos leigos para ouvir a celebração eucarística. O silêncio toma conta daquela imensidão no corredor e na sacristia. Olhares fixantes nas imagens da Grande Ceia de com Jesus pintado no alto da parede. Do outro lado vê-se São Francisco segurando uma parede que aparentemente se desloca, esboçada pelo artista.

De repente, surge como num nada, a imagem do peregrino. Era ele, Paulo Ricardo Frutuoso. Sorridente cumprimenta todos que se aproximam e com seu andar desajeitado, aperta a mão daqueles que compartilham com seu olhar. Distibui o jornalzinho para todos, com um andar desconcertante e rápido. Ao terminar, vai ao encontro,dos acólitos e Ministros da Eucaristia para fazer a entrada e começar a Celebração.

Paulo Ricardo, para quem não conhece é um rapazote de família simples, mora numa periferia da Cidade Januária e bastante extrovertido. A superação não tem limite para com esse moço de larga amizade nesta cidade. Assim escrito em livros e na dramaturgia, toda cidade tem o seu ator predileto e personagem em foco. Paulo Ricardo é um dentre muitos que aparece nas cidades, logradouros e centros urbanos de nosso Brasil e por não dizer nesse mundo afora.  

O rapaz é um vitorioso. Ele mesmo conta sua história para cada um que lhe interroga. Segundo ele diz para os seus ouvintes “Sou Paulo Ricardo eu não sou um gato.” E solta aquele grito desafinado de um gato miando com a boca escancarada sem nenhum dente na frente.

Muitos o assemelham ao cantor Paulo Ricardo Oliveira, baixista, compositor e ator brasileiro e dono de muitas músicas “Onde está meu amor,  “A cruz e a espada”.

Dede que, certo dia, fiz uma pequena entrevista pensando que o nome Paulo Ricardo fosse um pseudônimo. De prontidão ele me respondeu.

- Meu nome é Paulo Ricardo Frutuoso, tenho 24 anos e minha mão teve vinte e dois filhos.  Já sou casado e tenho um filho.

De supetão ele falou em milésimo de segundo. Numa rajada e rapidez como um fuzil Ar 15. Depois completou que um acidente mudou toda sua vida e de sua família que não era desprovida de muitas coisas.

Quando criança, contava ele, apenas tinha seis anos um fato acometeu por descuido de um de seus vinte e um irmãos brincando com uma espingarda que era de seu genitor puxou o gatilho e o tiro afetou um de seus olhos, causando cegueira.  

Mas, além da deficiência de um dos olhos, Paulo Ricardo também tem outra dificuldade. Puxa por um de suas pernas e tem a mão esquerda sem movimento. Não se sabe se foi de nascença ou se ocasionada pelo tiro, caso fortuito e força maior.

Apesar dessas enfermidades, O menino altruísta leva sua vida normal, quebrando tabus para àqueles que acham a vida sem sentido. Todos da cidade querem bem e brincam nas rodas de amigos da mais alta sociedade. Nas festas de fim de ano, aniversários, casamentos, entrega de troféus, encerramento de cursos de Medicina, de Direito, Enfermagem, Engenharia ele está presente usando roupas elegantíssimas. Sempre de bem com a vida cumprimentando todos e a todas. Tem amizades com moças da alta sociedade. Sempre respeitoso e carinhoso.  

A superação desse rapaz contagia toda a sociedade sobralense. Apesar de sua deficiência física, o Criador mostrou para os de pouca fé que nada disso o incomoda. É um exemplo para todos nós.  Muitas deficiências estão inclusas e obscuras em nosso ser.

Um fato a ser revelado e que seja um exemplo por todos que acham que a vida não vale a pena.  Diz o poeta de Ferreira Gullar.

 “Como dois e dois são quatro.

Sei que a vida vale a pena,

 embora o pão seja caro,

 e a liberdade pequena.”