SÚMULA 308 STJ
Por MARCIO R. LENCO | 06/05/2015 | DireitoMARCIO ROBERTO LENCO
SÚMULA 308 STJ
Direito Cível – matéria de direito imobiliário
UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA
CURSO DE DIREITO
RIO DE JANEIRO
2014
EMENTA: Bem imóvel - Hipoteca entre construtora e agente financeiro – Contrato de compra e venda – Ineficaz contra particular comprador – Violação da súmula 308 STJ.
RELATÓRIO:
- Trata-se de análise de matéria pertinente ao ramo do direito imobiliário, requerida pelo Núcleo de Pratica Jurídica IV solicitando esclarecimento acerca da súmula 308 do STJ, sobre a possibilidade da eficácia da hipoteca diante da promessa de compra e venda de imóvel.
- A análise se debruça na situação criada pelo atual entendimento do STJ, que fulmina a eficácia da hipoteca em face do promitente comprador de imóvel financiado por mútuo imobiliário.
- Procura-se enfrentar o tema trazendo à baila as argumentações do voto que se mostrou paradigma no tocante a hipoteca para confrontar com as normas do Direito Civil e a doutrina. Para, ao final, determinar a pertinência, ou não, do entendimento que fundamentou o julgado.
- A Súmula 308 do STJ pode ser discutível quanto ás hipotecas constituídas antes de firmados os compromissos de compra e venda?
- É o necessário a relatar. Em seguida, exara-se o opinativo.
FUNDAMENTAÇÃO:
- Estabelece o entendimento da Súmula 308 do STJ: “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel” [1].
- No caso sob exame tem-se de um lado a instituição credora que busca se valer de seu direito real, promovendo a realização da hipoteca para receber o crédito representado pelo contrato de mútuo que possui com a construtora e/ou incorporadora.
- Do outro lado existe o promitente comprador de unidade do empreendimento que, tendo realizado a integralidade do pagamento à construtora ou a incorporadora, vê o bem que lhe foi prometido, em risco iminente, e busca se valer, também, de seu direito real, exigindo a baixa da hipoteca, e regularização da propriedade desacompanhada de qualquer ônus.
- Insta salientar que além do código civil e STJ, o comprador também tem assegurado suas garantias reais no código do consumidor. Pois se adquirente de boa-fé e após quitação do valor, nasce a este o direito de efetuar o registro imobiliário de seu bem sem que sobre ele incida qualquer ônus real que tenha sido objeto de avença entre a construtora e o banco financiador, conforme palavras de Tarttuce apregoando que:
“Presente a boa-fé do adquirente, não poderá ser responsabilizado o consumidor pela conduta da incorporadora que acaba não repassando o dinheiro ao agente financiador [2]”.
- Nesse mesmo sentido ao discorrer sobre a Súmula 308 do STJ, também nela própria pode-se extrair o exemplo de aplicação do princípio da boa-fé: A referida súmula visa justamente proteger esse consumidor restringindo os efeitos da hipoteca às partes contratantes. Isso diante da boa-fé objetiva, já que aquele que adquiriu o bem e pagou pontualmente as suas parcelas frente à incorporadora, faz jus a receber o bem livre de ônus[3].
- Desta forma tem assentado o entendimento do Superior Tribunal de Justiça e larga doutrina, no sentido de que, diante das peculiaridades do contrato regente do Sistema Financeiro de Habitação, é ineficaz perante o adquirente de unidade habitacional a hipoteca concedida pela empresa incorporadora em favor da instituição financeira.
A propósito desse entendimento:
RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. IMÓVEL HIPOTECADO. GRAVAME FIRMADO ENTRE A CONSTRUTORA E O AGENTE FINANCEIRO. INEFICÁCIA EM RELAÇÃO AO ADQUIRENTE. SÚMULA 308/STJ. 1. "A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel" (súmula 308/STJ). 2. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO[4].
CIVIL E PROCESSUAL. ACÓRDÃO. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO INSUFICIENTE. EMPREENDIMENTO HABITACIONAL. HIPOTECA INCIDENTE SOBRE UNIDADE AUTÔNOMA. PAGAMENTO INTEGRAL DO DÉBITO PELOS PROMITENTES COMPRADORES. CONSTRUTORA QUE NÃO HONROU SEUS COMPROMISSOS PERANTE O BANCO FINANCIADOR DO EMPREENDIMENTO. EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. EMBARGOS DE TERCEIRO. PROCEDÊNCIA[5].
CIVIL E CONSUMIDOR. IMÓVEL. INCORPORAÇÃO. FINANCIAMENTO. SFH. HIPOTECA. TERCEIRO ADQUIRENTE. BOA-FÉ. NÃO PREVALÊNCIA DO GRAVAME[6] .
- Em mais profunda análise caso não observado esses critérios, o escopo social seria demasiado reduzido. Se por ventura fosse a contratação feita à luz das normas do SFH o compromisso não iria atingir a função social de inserir o adquirente no rol daqueles possuidores da casa própria, pois o compromisso teria sido maculado pela má-fé da construtora ao nunca providenciar o repasse dos recursos ao agente financeiro para permitir a baixa da hipoteca.
CONCLUSÃO:
- Do questionamento inicialmente posto, conclui-se que, à luz dos estudos realizados, devem prevalecer integralmente as argumentações que resultaram na Súmula 308 do STJ.
- Entende, portanto, este parecerista que:
- É perfeitamente aplicável a súmula 308 STJ para as hipóteses de compromissos de compra e venda celebrados antes ou depois da constituição da hipoteca, desde que tenha o referido valor sido integralmente quitado. Devendo o incorporador ou construtor realizar a baixa de gravame se o gravame ocorreu antes. Se depois, por óbvio não se pode dar em garantia o que não lhe pertence.
- Devendo, entretanto, a hipoteca constituída antes de celebrados os compromissos de compra e venda ser prestigiada em sua condição de direito real de garantia caso não tenha o adquirente comprador quitado todo o valor.
Marcio Roberto Lenco
[1] http://www.stj.jus.br/portal_stj/ - (Súmula 308, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 30/03/2005, DJ 25/04/2005 p. 384). Acesso em 02/06/2014.
[2] TARTUCE, Flávio. Função social dos contratos: do Código de Defesa do Consumidor ao Código Civil de 2002. Coleção Prof. Rubens Limongi França: v. 2. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2007, p. 224.
[3] TARTUCE, Flávio. Função social dos contratos: do Código de Defesa do Consumidor ao Código Civil de 2002. Coleção Prof. Rubens Limongi França: v. 2. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2007, p. 224.
[4] . (REsp 593.474/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 01/12/2010 ).
[5] (REsp 600.528/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2005, DJ 17/10/2005, p. 300).
[6] (AgRg no Ag 664.695/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 02/08/2005, DJ 22/08/2005, p. 296).