Suméria: A Primeira de Todas as Civilizações
Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 18/09/2025 | HistóriaMuitas pessoas perguntam sobre o que seria a pré-história. Tais questionamentos a associam, na sua maior parte, com um passado irremediavelmente distante, antecessor à própria existência humana. Embora essa não seja uma errônea concepção, vale mais como uma genérica lição de história natural, eis que o rompimento entre a pré-história, e a história propriamente dita, se deu por iniciativa humana, com a invenção da escrita, ocorrida antes do ano 3.000 a.C. Dita invenção se deu no território do atual Iraque, por isso mesmo constituindo-se na primeira, embora fragmentada, de todas as civilizações: a Suméria, então situada dentro dos limites da Mesopotâmia (denominação grega da região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, e cuja tradução literal significa "entre rios").
A classificação da Suméria como um todo civilizacional fez com que, por conseguinte, possamos chamar as suas religiões de primeiras da própria história humana, embora não haja provas de qual teria sido, exatamente, a primaz (a lógica, presumível, se reveste do fato de a mesma ser, ou decorrer, da última das religiões pré-históricas, já que a localização geográfica do surgimento da escrita gerou a conversibilidade de religião, pré, em histórica, de modo que uma das fés sumérias proporcionou a elaboração de uma arquitetura sacra até o momento única, consistente na construção de templos subsequentemente menores dentro de outros, chamados “zigurates”). A fusão de escrita e religião, então, transmutou-se no primeiro dos épicos conhecidos ("As Epopeias de Gilgamesh"), realizado de modo cuneiforme e cuja narrativa traduz o que seria uma relação entre autoridade e deuses, daquele conjunto de menores teocracias.
Digo isso porque não se pode chamar a Suméria de civilização única. Como no primeiro parágrafo mencionado, era fragmentada. Parece óbvio que emergiu como um único assentamento, teocratica e politeisticamente governado por reis-sacerdotes, mas que, com o passar dos séculos e em razão das constantes migrações internas (que se davam por motivos econômicos, na sua maioria direcionadas aos limites dos dois principais rios), se dividiu em várias cidades-estado, adotantes de ideologias político-religiosas daí consequentes e similares, ainda que as características dos respectivos deuses, e suas próprias identidades, viessem a, constantemente, cambiar-se.
A Suméria foi extinta, como uma trupe de entidades políticas, culturais e idiomáticas (estas últimas, num natural percorrer evolutivo, ocasionado pelo aumento das distâncias geográficas, gerado pelas migrações acima referidas) antes do ano 2.000 a.C. Seus sucessores foram babilônios e outros, mas sua herança estará para sempre marcada em cada um de nós, seus mais distantes e orgulhosos descendentes.