Existe uma longa história até chegarmos nas condições em que hoje somos submetidos e para entender esse processo iremos voltar rapidamente ao século XI, momento onde houve o embrionamento do capitalismo, pois este tem suas bases na idade média da Europa e foi quando ocorreu a transição econômica, social e política dos feudos para a cidade, surgindo nesse espaço uma nova classe social, a burguesia, buscando suas riquezas através de atividades comerciais. Por sua demanda surgiram banqueiros e cambistas, como a economia estava em pleno desenvolvimento naquela época eles garantiram seus lucros e dentro desse círculo de comerciantes nascia os ideários capitalistas que estimularam essas visões de lucro, acúmulo de riquezas, controle dos sistemas de produção e expansão dos negócios. Assim inicia-se a ideia de ascensão de poucos com a “ajuda” obrigatória dos menos favorecidos e um dos métodos foi a implantação dos impostos cobrados da população (que comparados a atualidade são irrisórios) ou o uso de mão-de-obra assalariada barata, moeda substituindo o sistema de trocas, relações bancárias, fortalecimento do poder dos ricos e geração das desigualdades sociais, esta última, crucial para que o sistema funcione pois sem a pobreza ou dificuldades financeiras da grande maioria da população o sistema não possui condições de operar.

   Trazendo o contexto para a atualidade é possível pensar que o capitalismo geri nossa forma de vida e de certa forma o faz, mas a verdade é que não sabemos tudo sobre ele, aliás, estamos longe disso. Governo e cooperações, em parceria com a mídia, fazem com que pensemos que seja um sistema organizado e ele é em muitas partes, por isso o único elemento da economia que a população em geral consegue enxergar nesse sistema são somente as compras, mas na realidade é um sistema em crise. A extração, produção e envio para o lixo acontecem fora do nosso campo de visão e por isso as corporações, que recebem apoio do governo, conseguem com facilidade, explorar nossas florestas ao máximo e num ritmo cada vez maior, nós vivemos num planeta finito e só nas três últimas décadas foram explorados 33% dos recursos naturais do planeta, por que precisamos aceitar isso? A verdade é que não sabemos o tamanho de nossa força e o quão grande ela pode ser quando nos unimos porque existe uma barreira que nos impede de perceber isso, o governo, logicamente, é conhecedor desse fato e se utiliza de métodos de controle, manipulação e dispersão para nos manter no lugar em que ele quer, ou seja, abaixo dele e submissos. Um exemplo disso é a privação da internet em alguns países como no caso do governo chinês em que dias antes do 20º aniversário do massacre da praça da paz celestial (tragédia ocorrida em 4 de junho de 1989) o acesso dos seus 600 milhões de usuários foi bloqueado a sites como Twitter, Youtube, Wordpress, Blogger, Hotmail e Bing para conter a revolta da população e ainda gasta bilhões de dólares a cada ano no controle de informações contra o governo que possam circular na rede, postar vídeos ou manter blogs criticando o governo é motivo de cadeia.

   E qual o objetivo do governo? Não é ser para as pessoas e pelas pessoas? A função do governo é olhar por nós, preocupar-se por nós e com nosso bem estar, mas não é isso que vemos, as corporações são de importância significativamente maior e a presidência não toma suas decisões sozinha, sendo muitas vezes influenciada pelas instituições e isso acontece pra que seus interesses sejam atendidos entre ambos, os próprios governantes e grandes corporações conduzem os ‘destinos” estatais em benefício próprio. Como já foi dito, o governo deveria ter o olhar voltado para a população, mas por que então pessoas que fincaram suas origens em locais de recursos naturais não têm o direito de permanecerem no lugar onde construíram seu self, tendo que serem deslocadas? A expressão “Terceiro mundo” não foi criada a toa, existe uma ideologia de hierarquia por trás que possibilita os países desenvolvidos ou de primeiro mundo terem maior domínio sobre os subdesenvolvidos e essa expressão serve para designar para onde foram seus recursos naturais e nos fazer pensar que está tudo bem em se apossar de recursos, mas em terras que não são suas e forçando ainda a retirada dessas pessoas dos seus lugares por direito, alegando que elas não são donas desses patrimônios, com essa “jogada” o governo consegue alcançar dois objetivos que são os próprios recursos naturais e as pessoas, que sem alternativa de vida por terem sido desalojadas, garantem a mão de obra mesmo em condições extremas que lhe são impostas.

   Se pararmos pra pensar veremos que as vezes não pagamos pelo que compramos. Como, por exemplo, um rádio que custa R$10,00 pode vir parar em nossas mãos se esses mesmo R$ 10,00 não paga sequer todas as viagens de navios, transportadoras e até mesmo os salários dos funcionários que nos atendem?  Com certeza existe algo muito errado por trás disso e se não pagamos, quem pagou? As pessoas citadas a pouco pagaram com a perda do seu lugar e dos recursos naturais, crianças do Congo pagaram com seu futuro, pois 30% delas abandonam a escola para ganhar algum dinheiro trabalhando em minhas de ferro, o sistema se resume em exteriorizar os preços o máximo que puder, pagando salários baixos aos empregados e terceiros, restringindo seu acesso aos planos de saúde sempre que possível. Destrinchando os materiais do rádio citado: o metal deve ter sido retirado da África do Sul, o petróleo do Iraque, o plástico, provavelmente da China e talvez montado por uma criança de 15 anos no México.

   Partindo para o consumismo, nosso valor é medido e demonstrado pelo quanto contribuímos para o sistema, nos tornamos uma geração consumista, mas precisaríamos de um “empurrão” para que nos tornássemos cada vez mais compulsivos pelas compras. Logo depois da segunda guerra mundial Victor Lebow articulou uma ideologia que se tornaria a regra principal do sistema capitalista com a seguinte frase: “A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo nossa forma de vida, que tornemos a compra e o uso de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, no consumo. Precisamos que as coisas sejam consumidas, destruídas, substituídas e descartadas a um ritmo cada vez maior.”, mas isso requer uma estratégia bem planejada para que possamos internalizar essa ideia de forma tão empolgante, é aqui que entram a obsolescência planejada, que é a fabricação de produtos que se tornam velhos e ultrapassados, planejando seu sim antes mesmo da ação da natureza como por exemplo um computador de 1990 que durava em média 7 anos e os de hoje apenas 2 anos no máximo funcionando corretamente e a obsolescência perceptiva que nos induz a jogar fora produtos em perfeitas condições e pra que isso aconteça as instituições mudam as aparências das coisas e dessa forma o sistema sabe quem vem contribuindo para ele, por exemplo, usar sapatos de salto fino num ano em que a moda é de saltos largos pode parecer um pouco embaraçoso porque  há uma necessidade imensa de exibir, com boa aparência ou especular, o seu eu para o outro.    Existe uma vontade na sociedade de mostrar-se e causar um efeito no próximo, as pessoas são condicionadas a viverem dessa forma assumimos os valores de uma sociedade de consumo e tentando prever o que o outro gostaria de enxergar em você, prendendo-se a pseudonecessidades e pseudovalores assegurando os lucros para as grandes corporações.

Referências: História das Coisas, https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw

 História do mundo, http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/transicao-feudalismo-para-capitalismo.htm

Nova escola, http://revistaescola.abril.com.br/formacao/paises-controlam-acesso-populacao-internet-474815.shtml

ANCELMO, Leandro, A depressão como mal estar contemporâneo