Wladeslaw Strzeminski foi um artista polonês influenciado pela corrente construtivista nas artes plásticas. Engenheiro naval e militar durante a Primeira Guerra Mundial, perdeu uma perna e o braço esquerdo. Andava com muletas e quando dava suas aulas ao ar livre ao modo dos filósofos gregos, rolava morro abaixo para a alegria dos seus alunos que o admiravam como um mito. Pintava e projetava murais e mobiliários sempre evocando a liberdade de criar.

Mas a vida não foi nada fácil para esse professor de artes e artista incomum. Mesmo tendo sido um revolucionário na juventude, sentia-se um peixe fora d’água sob o totalitarismo stalinista. O marxismo tosco dos soviéticos estabeleceu que a arte deveria estar voltada para a revolução operária e não para satisfazer a necessidade de expressão dos artistas. Isso era visto pelo Partido Comunista como decadência do mundo ocidental.  O chamado realismo socialista excluiu e perseguiu muitos escritores, poetas e pintores da União Soviética e dos países da chamada cortina de ferro, como a Polônia, Checoslováquia, Hungria e Bulgária.

A arte deveria ser engajada na perspectiva da revolução proletária. Nada de arte livre, impressionismo, cubismo, modernismo e outros ismos. Os artistas que não se encaixavam no padrão stalinista estavam excluídos. Não podiam trabalhar, tinham sua carteira de sócios da Associação de Artistas cancelada e estavam proibidos até de comprar tintas e pinceis. Foi o que ocorreu com Strzeminski após ele contestar publicamente o ministro da cultura. Ele pergunta: ao ministro: “O que é arte?”. Se a arte é para servir a uma ideologia, um partido, ela deixa de ser arte para ser propaganda.

Mesmo sendo o maior pintor polonês do século passado, fundador da escola de artes e de prestígio internacional, viveu os últimos anos de sua vida praticamente na miséria, pois não podia trabalhar em nenhuma atividade. Mesmo sendo deficiente físico e ex-combatente, o que o colocaria na condição de aposentado, não tinha direito nem aos cupons de alimentação.

Strzeminski não se submeteu ao regime, permanecendo fiel aos seus princípios de que a arte não deve se curvar à vontade dos ditadores e sim aos ditames da consciência. Como ele, outros artistas na URSS e países satélites tiveram a liberdade suprimida. A chamada Primavera de Praga na antiga Checoslováquia, um lampejo de liberalização contra o totalitarismo soviético teve como resultado a invasão do país por tanques e tropas militares. Boris Pasternak, poeta e romancista russo, autor do “Doutor Jivago”, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, mas foi proibido de sair do país para receber o prêmio.

Enfim, muitas águas passaram pelo rio da vida. Os perseguidores de Strzeminski ganharam o esquecimento e ele foi lembrado neste belíssimo filme dirigido por Andrzej Waja, ganhador do Oscar pelo conjunto de sua obra cinematográfica. Afterimage é uma obra delicada que capta o silêncio das ruas de uma Polônia oprimida pelo medo e a luz que parece incidir teimosamente sobre o espaço e as pessoas como um sinal resistência. E como disse a comissão do “Oscar polonês” sobre o filme: “É uma história universal e tocante sobre a destruição de um indivíduo por um sistema totalitário”.