O stress tem sido considerado a doença do século. Diante de um cenário moderno com muitas demandas em vários aspectos, se caracteriza como uma fadiga que exaure forças desnecessárias onde os propósitos definidos não existem. O relativismo e subjetivismo em busca de propósitos sem o fundamento, o ser se perde junto com essa energia dispersada no imediatismo do fútil. O stress se revela como um mal no qual se perdeu o proposito com limites dentro do razoável e do aceitável. Não aceitar nossos limites humanos, focados no limite e aceitável, é caminhar para uma falsa transcendentalidade, como se fossemos escravos dos apelos, onde somos obrigados a dar satisfação daquilo e para aquilo que não nos compete. Com o crescimento da filosofia que entroniza o homem colocando apenas nele próprio, toda responsabilidade, ele assume o papel apregoado pela nova religião, de que o homem é um deus. Sendo ensinado a ser deus esse homem passa a ter uma postura insatisfeita. Estando num continuo estado de insatisfação ele se lança ao mar de apelos que não cumprira e se os cumprirá, já serão renovados dentro de um ciclo vicioso.

                O acumulo do cansaço fútil, movido por falsos propósitos ou ideais utópicos do que é o sucesso tem sobrecarregado com insatisfações, onde o vazio continua. Atender demandas que se reciclam na finitude e no pragmatismo do descartável, onde um ponto não demarca o proposito, com causa e fim, tem sobrecarregado com apelos de vozes loucas e embriagadas, delirantes e perdidas. O homem é levado, sem pontos que delimitam sua capacidade e humanidade, para a arena do fútil, onde se comporta como um herói do desnecessário, da ilusão e supérfluo. Os propósitos verdadeiros são negligenciados, se retira do individuo a essência do ser e o substitui pela do ter, enfim, o que mais precisamos ter para sermos realizados e termos a leveza da felicidade que flui, sem as preocupações de novamente, num ciclo vicioso, de atender demandas, de dar satisfações, de preencher com aptidões novamente desenvolvidas, com intuito de sermos aceitos, de fazer parte. O cristianismo em si, que tem como Cabeça aquele que promete alívio e descanso, tem incutido nas mentes um espirito de cobrança, de exigências. Obviamente que todo viver cristão, individual e coletivo envolve esforço e participação, no entanto, quando ele deixa de ser uma expressão livre, voluntaria movida pelo verdadeiro poder, que ele nutre, é porque os artifícios com esse intuito se destacam, também gerando canseira. Nesse sentido, não são os métodos que precisam ser discutidos avaliados ou reciclados e sim, averiguar se aquilo que vivemos é o verdadeiro cristianismo ou apenas mais uma crença humana que objetiva interesses.

                O Stress como acumulo de cansaço se revela numa impotência construída, admitida e entendida frente a uma realidade pessimista e se mostra como algo intransponível, tendo como consequência a depressão. Não porque seja intransponível, mas porque o continuo comportamento de super-herói adotado frente às demandas, esta equivocado, onde, então, o mais simples e básico parece exaurir aquilo que não mais se tem. Não somos transcendentes ou imanentes. Como humanos que somos, precisamos reconhecer nossa limitação. Não temos obrigações além dos limites que nossa humanidade nos impõe. Viver além destes limites de forma continua sobrecarrega e dinamita os alicerces da nossa estrutura. Reconhecer os limites da humanidade dentro de um contexto razoável é o caminho para o aprendizado do descansar. Reconhecer essa limitação não é sinônimo de fraqueza como se apregoa e sim uma autoaceitação, que nos torna satisfeitos e realizados. Talvez a síndrome do pensamento acelerado, seja consequência desta constante inquietação da mente, que subjetiva, diluindo o alcançável e o possível, lançando a mente para a inquietação continua. Produzindo um cansaço que se acumula. Um cansaço inútil  que não produz nada mais a não ser insatisfação, porque somos instigados,  de que sempre podemos mais.

                A propaganda enganosa que nos empurra para a concorrência, que gera insatisfações sob o pretexto da novidade, nada mais é do que uma escravidão transvestida com as roupagens do narcísico hedonista. O culto ao eu, criado e incentivado com efervescências que despertam sensações súbitas e voláteis, parece ser um misticismo disfarçado onde de imediato se quer sensações. Sensações estas que por fim se tornam num ciclo vicioso  que precisa de doses cada vez mais fortes. Tal como uma droga, chega um ponto onde essa droga não produz mais o efeito e o desespero frente a um estado de tolerância construído, faz com que o stress se revela tal como é. Exaurindo as forças de tal modo que não mais exista disposição e energia.

                Assim como tem casas de tratamento e de desintoxicação apoiando dependentes químicos, assim as igrejas precisam ser centros de apoio para desintoxicar pessoas  com esse estilo moderno, hediondo vazio e escravista. Permitir e criar meios para a contemplação que ajuda no autoconhecimento é o caminho e refugio para um mundo que vive na efervescência, feito um mar revolto que leva e joga. Encontrar o oásis e as ilhas frente esse dura realidade que por fim é justificado pela formação de uma estrutura econômica interdependente no suprimento do vazio e reciclável, é o grande desafio coletivo e individual.

Maciel Fillvoch