Sou surda e não sabia: uma breve reflexão cf. Alencar (2019) 

Quem já usara a expressão vocabular 'deficiente auditivo'? Quando pronunciamos a expressão deficiente auditivo, seria alguém que ouve mal, ou até mesmo ouve parcialmente, como alguns de nós que pela velhice passamos a ouvir cada vez menos? Ou até mesmo alguém que é surdo e não nos atrevemos a pronunciar a palavra surdo? E, por causa disso mesmo dizemos, do modo politicamento correto, aquele antiquado eufemismo 'deficiente auditivo'. Imaginemos por 40 segundos sermos deficientes como nossa identidade humana nessa Terra. Acaso poderíamos ser: Deficientes masculinas, ou nós seríamos deficientes femininas, ou mesmo deficiente loiro ou moreno? Pensemos em passar toda uma vida sendo definidos assim, por que a maioria das pessoas nos imaginam em termos de deficiências. Este riquíssimo documentário é produzido pelos franceses Sabrine Herman e Igor Ochronowicz (2009): Pessoas como as outras que não são como as outras, mas são surdas-Bernard Mottez. Pessoas que ouvem mal, deficientes auditivas ou surdas, cada um tem um modo de nos ver e de nos definir. Mas vamos nos apresentar melhor: Meu nome é Sandrine e minha Língua é a dos sinais. Desde que era criança foi sempre a mesma coisa. Todos nos têm pena por que não ouvimos e não falamos, o que causa-nos muita piedade; e, nossos ouvidos estão aqui para enfeitar-nos e, não para escutar. Mas quem somos nós realmente? Desde que fizemos um ano de idade, ou seja, nós nascemos em uma família de ouvintes como a maioria das crianças surdas. 

Palavras-chave: Aparelhos e Oralização. Linguagem de Sinais. Isolamento do Surdo ou Deficiente Auditivo. Percepção Adaptativa do Bilinguismo.

1. Quotidiano de um surdo desde sua infância

Naquela época nós não sabíamos que éramos surdos. Nós ignorávamos isso e nossos pais também. Nossas primeras lembranças são visuais. As cores, as paisagens, as expressões de quem nos cercavam. Tudo isso nos causavam emoções: O sorriso de nossa mãe, aquele sorriso que queria dizer: Eu te amo! 

    Muitas vezes, nossa mãe nos fechava a cara, já sabia que estava brava conosco. E, nós virávamos a cabeça para não vê-la; também nos lembramos dos cheiros, dos odores familiares. E, assim, nós sabíamos que ela chegara. 
    Também havia o toque, sermos tocados, as carícias. Uma mão em nosso rosto, tudo isso era uma ligação. Mas o que nosso pai nos faz: Imita-ns uma rã a coaxar! No consultório o médico pergunta aos pais: 
    -Sandrine, alimenta-se bem? E, desde quando estão desconfiados? Na verdade, aconteceu aos poucos. 
    O título do filme no original francês é Sourds et Malentendus, que significa Surdez e mal-entendidos e, nos faz pensar que há vários mal-entendidos em relação à surdez sobre os quais o mesmo vem esclarecer. 
    Realmente, é isso que acontece: Além dos relatos da vida de Sandrine a partir dela mesma, ou seja, da sua própria perspectiva enquanto surda, que ajudam a esclarecer tais mal-entendidos, complementarmente há pequenos relatos de especialistas em surdez que também contribuem para explicar várias questões e desvelar diversos tabus em torno da surdez e do surdo. 
    Por outro lado, a alteração do título do filme para a sua exibição no Brasil como 'Sou surda e não sabia', em minha opinião é que toca mais direta e profundamente o ponto central do filme, qual seja, a identidade da pessoa surda, conforme Santos (2018, p. 4c).
    Já a partir de alguns pequenos sinais; e agora, apenas pensamos nisso. Iremos fazer alguns testes simples, comenta o médico: 
    -Viram, está tudo norma! Mas faremos testes mais precisos brevemente. 
    Nossos pais demoraram para descobrir que tínhamos surdez. Antes, houve um longo período de dúvida e de espera. Mas durante esse tempo formou-se uma ligação entre nós. Hoje em dia, isso não acontece mais. Uma vez que as novas tecnologias nos permitem tstas recém-nascidos, para sabermos se são surdos ou não. 
    Nesse caso, como ficaria a ligação entre os pais e o bebê? Por que querem detectar a surdez tão cedo? Diz a enfermeira-chefe: -Vamos fazer o teste auditivo, mas podem ficar, será bem tranquilo! Vamos colocar o aparelho na testa do bebê; geralmente, eles não gostam, pois, incomoda-lhes! À esquerda, vamos querida, não se mexa! Viram? É importante fazermos o teste no bebê. Vamos explicar tudo no cartão. Fazemos o teste faz um ano e meio ou dois anos. É um teste muito confiável; e, é uma boa coisa, não?
No começo, reclamam um pouco, mas depois, vamos esperar ela se acalmar, tudo bem? Pronto, vamos ver o resultado na tela. O teste começou no ouvido esquerdo. Isto vai aumentar aos poucos. E, o aparelho diz que está tudo bem. Há histórico de surdez na família?