Todas as pessoas sonham, quer elas se lembrem ou não. Seja rico ou pobre, imperador ou mendigo, doente ou pleno de suas faculdades físicas e mentais, todos os indivíduos sonham e mais ainda, sempre ou em algum momento da vida tendem a lembrar-se dos sonhos. Se existe algo no plano material que tende a igualar os seres, pode-se chamar isto de sonho. Mas por qual motivo os sonhos ocorrem? Qual seria a sua função? De qual material eles provém? O que podem revelar sobre nossa saúde física e metal?

A pouco mais de 100 anos, no início do século passado, nosso ilustre autor Sigmund Freud procurou responder a todas estas perguntas por meio da sua mais famosa e genial obra:_ A Interpretação dos Sonhos. Freud se debruça sobre os segredos dos delírios oníricos e seus significados. O autor faz um passeio por toda a literatura onírica remontando-a desde os primórdios com Aristóteles, até escritos mais atuais a sua época citando autores Wundt.

Freud descobre que na antiguidade até Aristóteles os autores não consideravam os sonhos produto da psique de quem o sonhava e sim a própria inspiração divina. Foi somente a partir do filósofo grego, que passaram a considerar que os sonhos reinterpretavam por meio de imagens, pequenos estímulos corporais noturnos. Mas não era uma reinterpretação comum, esta era exagerada e super dimensionada. E aqui muito interessa esta conclusão de Aristóteles, já que mais tarde, por intermédio de suas pesquisas, Freud também constata essa afirmação e vai desenvolver tal ideia.

Para Freud os sonhos são produto tanto dos estímulos corporais noturnos, quanto dos ambientais e ainda dos pensamentos diurnos inconclusos, não terminados. Ou seja, aqui o que o autor nos revela é que : “Os sonhos são excreções de pensamentos mortos na casca” (Freud, 2019)

Para melhor compreendermos o que de fato o autor quis dizer considere a seguinte analogia: _ Todas as manhãs temos uma folha em branco nas mãos, esta é preenchida ao longo da vida de vigília diurna, por sentimentos, pensamentos, devaneios, acontecimentos vários, sejam estes concluídos ou não. Sejam tais sentimentos resolutos ou não. Ao adormecer esta folha preenchida será relida pelo inconsciente e cada vírgula ou ponto final não colocado, cada palavra faltante, cada sentimento inconcluso será concluído por meio das imagens oníricas. Elas têm força curativa e prestam ao cérebro cansado um serviço de “válvula de escape”. Por outro lado, a um homem cujo qual fosse tirada a capacidade de sonhar, em dado momento este experimentaria um estado tamanho de perturbação mental pela sobrecarga de “lixo emocional” acumulada na psique que tornar-se-ia praticamente insuportável tal existência. Portanto, para Freud, segundo sua teoria de interpretação dos sonhos, estes devaneios oníricos tem a função de curar a psique. Os sonhos possuem força curadora e aliviante.

A que se considerar ainda a respeito da correlação dos sonhos com a saúde, não somente a mental, mas igualmente a física. Por meio dos sonhos é possível provar de relaxamento físico, mas também através dos devaneios oníricos é possível experimentar certo desconforto, os quais se bem observados poderão revelar os sintomas de malefícios que em vigília a pessoa não experiência de modo algum. A exemplo, podemos citar os sonhos de alguém cuja digestão não está em perfeito estado, ou mesmo alguém com problemas no trato intestinal. Os sonhos dessa pessoa poderão apresentar-se como terríveis pesadelos, tendo em vista os movimentos e esforços peristálticos que o organismo esforçar-se-á enquanto o sujeito prevalece inconsciente. Tais movimentos influenciarão diretamente nas fantasias oníricas do sujeito inconsciente. Dessa forma, poderão ocorrer terríveis pesadelos para que o mesmo desperte e o organismo possa ficar em posição melhor para digestão. Ou mesmo tenha que levantar-se para usar o banheiro.

O caso é que, para a teoria da Interpretação dos Sonhos de Sigmund Freud os sonhos tem como fonte onírica não somente às águas da consciência e dos pensamentos, mas tem também como origem o organismo e todo o ônus biológico que vem junto com este. Assim sendo, às fontes oníricas tem como raízes tanto os pensamentos da vigília, como o passado do indivíduo, e ainda pode ser estimulado por seu próprio organismo, ou seja, os estímulos corporais que o sujeito sente enquanto permanece em sonolência.

Além destas fontes, a que se falar também nos estímulos ambientais, uma vez que, também chegou-se a conclusão, de que o sujeito mesmo inconsciente ainda é capaz de captar os estímulos ambientais enquanto dorme, assim sendo o corpo funciona como uma antena, capaz de sentir o ambiente que o cerca, mesmo a consciência estando ausente em tal momento.

A exemplo podemos citar uma pessoa que ao sentir frio enquanto dorme sonha que está passeando na neve, ou o sujeito que sente sede e sonha bebendo água, logo acordando para poder saciar sua sede. Dessa forma, podemos concluir que além das fontes psíquicas e biológicas os sonhos também tem como sua fonte onírica os estímulos ambientais, pois estes são capazes de interferir em suas imagens fantasiosas.

Face a todo o exposto Freud ainda declarou que os sonhos são a realização do desejo de quem sonha. E quanto a tal afirmativa existe inúmeras controvérsias de quem não concorda com tal teoria. Porém, o autor em seu livro apresenta exemplos de como os sonhos se distorcem e transformam a realidade fazendo o ego desdobrar-se para a realização dos ocultos desejos do id. Não obstante concordar com o autor, esta afirmativa é polêmica e trás a baila uma série de antíteses que não caberiam neste artigo. Contudo, podemos concluir que os sonhos tem como função a limpeza de nossa psique, bem como a realização dos desejos do id, para que este deixe o ego trabalhar em vigília sem culpa e sem qualquer tipo de ansiedade.

Referências:

FREUD, Sigmund (p.15- 115); Tradução do alemão Renato Zwick, Porto Alegre, RS: L&PM, 2019.