Sonetos

 

 

A Vista da Janela

 

Floresce em ti, vermelho aquarela
Espalha em primavera seu aroma de flor
As rosas pintadas vestindo a janela
Escutam, serenas, cantigas de amor

A chuva lá fora ensopando os calçados,
Molhando o vestido azul estampado,
Borboletas esvoaçam de todo o jardim
De girassóis amarelos e rosas jasmins

As nuvens cinzentas que estão a passar
Encharcam o gramado fazendo uma festa,
Com cheiro de terra e lavanda no ar

Peleja lá fora o sarau da floresta
O olhar de criança abrigado em alegria
Observa os tentilhões fazendo melodia

 

 

 

Ascensão

 

A pior parte de ascender
É não poder descrever
O sentido de ser
E despertar o prazer

Montado na nuvem
Com ares de loucura
Me atento à tortura
De não ter o saber

De não dominar o mundo
De não ter poder profundo
E obter o meu querer

Não encontro o que procuro
As estrelas se movem
Me deixam no escuro

 

 

 

Devaneios do Luar

 

O brilho da lua se faz presente
Aquela memória invade minha mente
Caminha até mim com leveza de atriz
O ato se segue com a cena que diz:

A lua que sou transpira pelo sol de amanhã
Peço ao dia que amanheça devagar
Para vê-lo aos poucos brilhar
E olhar até chegar de manhã

Lança seu raio que fere
Me mostra o que vem a seguir
Espalha seu calor em minha pele

Antes que a tempestade chegue aqui
Vem com seu corpo iluminado
E me mostra o que é ser amado

 

 

 

Na Calada da Lua

 

Na calada da lua,
O eclipse nos assombra
A penumbra, na rua,
Apagando nossa lombra

Em meus braços a projeto
Com sinais de alucinação,
Perdidos no trajeto
Que nos trouxe essa paixão

Enquanto a luz não vem,
O relógio me entristece
Deixando, porém,

Nosso amor ascender
Faço aos deuses uma prece:
Que não deixem amanhecer

 

 

 

O Monstro de Frank

 

Cada um que passa por aqui
Arranca um pedaço de mim
Me transformo a cada dia
Metamorfose sem fim

Não somos os mesmos de ontem
Não voltamos nossos passos
Somos a soma de tudo
Feitos de pedaços

Carregamos em nós
Um pouco de cada
Ouvirão a nossa voz

Nossa força é somada
Não nos perdemos na multidão

Dividimos um só coração

 

 

 

Peço

 

Um minuto de silêncio para afogar minha mágoa

Uma garrafa de vinho que ajude a esquecer

Embriagado na calçada esperando amanhecer

Um momento obsceno me embaralha as memórias

 

Preenchendo o vazio de onde haviam nossas histórias

Mergulho de cabeça nesse rio que deságua

Mais um andarilho jogado no relento

Em busca de sustento

 

Não consigo voltar

Refém da ansiedade,

Me afogo no ar

 

Tentando respirar,

Vago na cidade

Como peixe sem mar

 

 

 

Puritia

 

Vem

Faz o dia valer a pena

Me ajuda a escrever um poema

Que nos leve mais além

 

Retira tua alma do escuro

Quebra o tabu da nudez

Encontra teu corpo seguro

E esquece a vergonha de vez

 

Rasga este pano que te cobre

Olha no espelho e descobre

A beleza que emana de ti

 

Mas olha com olhar de criança

Até onde a vista alcança

E faz esse medo partir

 

 

 

Sentidos

 

A brisa leve me mantém no ar

O som do vento me distrai

A pintura do céu. O luar

Em beleza, são paranormais

 

Busco em vida, a resposta

Faço uma grande aposta

Me entrego ao encanto

Da leveza em seu canto

 

Sinto no olfato o perfume do jardim

O calor da tua pele permanece em mim

Mantenho-me atento

 

Ao brilho no olhar

E um baque violento

Me faz retornar

 

 

 

Meia-Luz

 

Escorre na pele

Com toque macio

Leveza que expele

Calor e arrepio

 

Sentindo um segundo

Seus lábios molhados

Mergulha até o fundo

Se vê encharcado

 

Domina esse mar

Assume o controle

Carrega na boca o sabor apimentado

 

Projeta na voz um suspiro excitado

Que ecoa no ar

Suplicando mais um gole

 

 

 

-Igor Sena