Sonetos - A Vista da Janela, Ascensão, Devaneios do Luar, Na Calada da Lua...
Por Igor Sena | 08/05/2019 | PoesiasSonetos
A Vista da Janela
Floresce em ti, vermelho aquarela
Espalha em primavera seu aroma de flor
As rosas pintadas vestindo a janela
Escutam, serenas, cantigas de amor
A chuva lá fora ensopando os calçados,
Molhando o vestido azul estampado,
Borboletas esvoaçam de todo o jardim
De girassóis amarelos e rosas jasmins
As nuvens cinzentas que estão a passar
Encharcam o gramado fazendo uma festa,
Com cheiro de terra e lavanda no ar
Peleja lá fora o sarau da floresta
O olhar de criança abrigado em alegria
Observa os tentilhões fazendo melodia
Ascensão
A pior parte de ascender
É não poder descrever
O sentido de ser
E despertar o prazer
Montado na nuvem
Com ares de loucura
Me atento à tortura
De não ter o saber
De não dominar o mundo
De não ter poder profundo
E obter o meu querer
Não encontro o que procuro
As estrelas se movem
Me deixam no escuro
Devaneios do Luar
O brilho da lua se faz presente
Aquela memória invade minha mente
Caminha até mim com leveza de atriz
O ato se segue com a cena que diz:
A lua que sou transpira pelo sol de amanhã
Peço ao dia que amanheça devagar
Para vê-lo aos poucos brilhar
E olhar até chegar de manhã
Lança seu raio que fere
Me mostra o que vem a seguir
Espalha seu calor em minha pele
Antes que a tempestade chegue aqui
Vem com seu corpo iluminado
E me mostra o que é ser amado
Na Calada da Lua
Na calada da lua,
O eclipse nos assombra
A penumbra, na rua,
Apagando nossa lombra
Em meus braços a projeto
Com sinais de alucinação,
Perdidos no trajeto
Que nos trouxe essa paixão
Enquanto a luz não vem,
O relógio me entristece
Deixando, porém,
Nosso amor ascender
Faço aos deuses uma prece:
Que não deixem amanhecer
O Monstro de Frank
Cada um que passa por aqui
Arranca um pedaço de mim
Me transformo a cada dia
Metamorfose sem fim
Não somos os mesmos de ontem
Não voltamos nossos passos
Somos a soma de tudo
Feitos de pedaços
Carregamos em nós
Um pouco de cada
Ouvirão a nossa voz
Nossa força é somada
Não nos perdemos na multidão
Dividimos um só coração
Peço
Um minuto de silêncio para afogar minha mágoa
Uma garrafa de vinho que ajude a esquecer
Embriagado na calçada esperando amanhecer
Um momento obsceno me embaralha as memórias
Preenchendo o vazio de onde haviam nossas histórias
Mergulho de cabeça nesse rio que deságua
Mais um andarilho jogado no relento
Em busca de sustento
Não consigo voltar
Refém da ansiedade,
Me afogo no ar
Tentando respirar,
Vago na cidade
Como peixe sem mar
Puritia
Vem
Faz o dia valer a pena
Me ajuda a escrever um poema
Que nos leve mais além
Retira tua alma do escuro
Quebra o tabu da nudez
Encontra teu corpo seguro
E esquece a vergonha de vez
Rasga este pano que te cobre
Olha no espelho e descobre
A beleza que emana de ti
Mas olha com olhar de criança
Até onde a vista alcança
E faz esse medo partir
Sentidos
A brisa leve me mantém no ar
O som do vento me distrai
A pintura do céu. O luar
Em beleza, são paranormais
Busco em vida, a resposta
Faço uma grande aposta
Me entrego ao encanto
Da leveza em seu canto
Sinto no olfato o perfume do jardim
O calor da tua pele permanece em mim
Mantenho-me atento
Ao brilho no olhar
E um baque violento
Me faz retornar
Meia-Luz
Escorre na pele
Com toque macio
Leveza que expele
Calor e arrepio
Sentindo um segundo
Seus lábios molhados
Mergulha até o fundo
Se vê encharcado
Domina esse mar
Assume o controle
Carrega na boca o sabor apimentado
Projeta na voz um suspiro excitado
Que ecoa no ar
Suplicando mais um gole
-Igor Sena