Sobre Sócrates, Platão, Aristóteles e Alexandre, o Grande: Um Quarteto de Gênios

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 11/12/2024 | História

A transmissão de valores, da mais alta simplicidade ou dos mais grandiosos pensamentos filosóficos, é feita de geração em geração, ou de mestre a pupilo, tendo, nos dois casos, o escopo maior de amplificar as virtudes do ensinando. E assim foi, relativamente, a Sócrates e muitos de seus pupilos, mas, em especial, Platão.

Sócrates, por mais incrível que pareça e até prova em contrário, não nos regalou sua filosofia escrita, cuja complexidade e contemporânea simplicidade objetivava, de forma direta e genérica, atingir os mais profundos conceitos do ensinando. Por exemplo, “conhece-te a ti mesmo”. Tal conceito nos mostra que a influência da personalidade já era dominada pelo grande Mestre (muitos e muitos séculos antes de Lacan, Freud e Jung), estabelecendo, no livre arbítrio, o grande catalisador das obras humanas, nas suas glórias e infortúnios, e consequente geração da felicidade ou seu revés, como inevitáveis seguimentos sofridos, respectivamente, por quem conhece, ou não, a si mesmo. O próprio Sócrates, infelizmente, sofreu o infortúnio de sua sentença capital por eventual infração de corrupção da juventude, paradoxalmente anunciada contra quem conhecia a si mesmo, mas dada por um sistema que, como todos os outros, poderia ser um farol de antecipado Iluminismo, mas não isento de erros dos que, comandando-o, não conheciam a genialidade de alguns de seus filhos. E Sócrates de suicidou com cicuta (ele, que se conhecia, não poderia jamais prolongar a angústia decorrente de uma sentença capital).

Platão, ao contrário de seu Mestre, deixava expressa toda a sua obra. Seus escritos abrangiam não somente filosofia, mas História, matemática e um sem número de ciências, que, ao fim e ao cabo, foi o mais destacado intelectual da Antiguidade. No meu entender, sua obra mais promissora é “A República”, em que o autor deixa claro qual seria a ideal sociedade humana (não esquecendo-nos, obviamente, que, para suas ideias, ele levava em conta os contextos e os conceitos apreendidos de sua época e localização geográfica). Em “A República”, temos uma proposta de contrato social feita por Platão, em que ele oferecia aos seus iguais e contemporâneos uma espécie de Utopia (bem antes da autointitulada e própria “A Utopia”, de Thomas Moore, que seria publicada no ocaso da Idade Média e alvorecer da Idade Moderna) como principal via de acesso à felicidade. Parafraseando o antecessor Sócrates, dita publicação proporcionava o conhecimento dos cidadãos sobre si próprios, à medida que, implícito era, o respeito ao patrimônio público exercido por zelosos guardiões, e daí a felicidade subjacente. Outras profundas obras de Platão, além de seus numerosos escritos esporádicos, era, também, “O Mito da Caverna”, além de ter ele próprio fundado a Academia, primeira Universidade de todo o Ocidente. E de ter, também, doutrinado Aristóteles.

Seguidor fiel das ideias de Platão, e, por conseguinte, de Sócrates, Aristóteles, como um autêntico polímata da Antiguidade, exalava conhecimento sobre a mesmas e além das ciências versadas por Platão. Além disso, criou o Liceu, outra das Universidades que viriam a ser um dos referenciais no Mundo Ocidental. Defensor da escravidão num mundo em que não havia paradigmas que ensinassem a repudiá-la, também rejeitava os trabalhos manuais, que seriam deixados aos medíocres, ao revés dos intelectuais, cujo este adjetivo já lhes bastava e seriam infinitamente mais considerados. E que, como ele, se revestiam das condições de filósofos, historiadores, matemáticos, cientistas. Só que ele também foi de Conselheiro de Alexandre, o Grande, nas suas conquistas do Oriente e Extremo Oriente.

Alexandre, que era Macedônio, não hesitou na observação de suas orientações, em especial na difusão do Helenismo, tendo iniciado o primeiro processo de globalização em grande escala (com a universalização, no máximo de territórios conquistados, da língua e moeda gregas, bem como do dodecateísmo, a religião grega que cultuava os doze deuses, e pela qual o próprio Platão tinha enorme reverência, tanto que propôs que cada mês do ano fosse consagrado, em específico, a um).

Sequências de gênios. Versatilidade. Concatenação de ideias, ainda que nem com todas concordemos. Isto era a Grécia. Isto era a Grande Civilização Helênica.