Sobre não saber ou o princípio da sabedoria

O que sabem os sábios?

Um dos grandes sábios da humanidade disse nada saber. Outro, ao ser indagado sobre o que é a verdade, em vez da resposta, silenciou.

Nosso mundo é o mundo da ciência, entretanto, mesmo a ciência não tem respostas, não nos dá a segurança da resposta certa e definitiva. Pelo contrário, se levada a sério, da mesma forma que a filosofia, ela nos leva à dúvida. O velho Raul, ao cantar “Todo mundo explica”, deu a dica: “o que é que a ciência tem? Tem lápis de calcular. Que mais que a ciência tem? Borracha pra depois apagar”

Partindo desses princípios, apenas com nossas pretensões de certezas, chegaremos não às respostas mas a outras dúvidas, a mais incertezas, à angústia da pergunta não respondida.

Então o que sabem os sábios?

Se lhes perguntássemos talvez nos respondessem que existe muito mais a saber do que aquilo que sabemos. Talvez nos dissessem que sabem apenas que estão aprendendo. Talvez nos respondessem indagando sobre o que é o saber ou o que é ser sábio. Talvez nos dissessem que a sabedoria não é posse do saber, mas busca...

Sendo assim, como nos aproximarmos das atitudes de sabedoria? Como nos encaminharmos em direção à sabedoria? Como adquirir a atitude de quem é sábio e busca sabedoria?

Talvez não tenhamos respostas dos sábios, para esta indagações, mas se os ouvirmos aprenderemos com eles; se os observarmos aprenderemos com eles. E se nos portarmos como eles, com a mesma postura interior que os move, quem sabe aprenderemos o caminho da sabedoria.

O sábio não ostenta o saber. Seu saber se mostra em seus atos. A ostentação é própria do arrogante. O sábio não é do tipo falador. Seu silêncio é seu argumento. Quem muito fala apenas esconde sua ignorância. O sábio não se põe em evidência. Sua sabedoria o faz brilhar. Quem busca se evidenciar é porque não tem luz própria.

E tem mais. Que fazemos para saltar? Flexionamos as pernas e nos abaixamos. Quento maior a flexão da perna, mais nos abaixamos e com isso maior será o impulso para o alto. Que fazem as aves para levantar voo? Flexionam as pernas. A flexão das pernas lhes dá impulso para ganharem os céus. Qualquer semente, pode ser da árvore mais alta, só germina se chegar ao solo e nele se enterrar.

Que isso tem a ver com a sabedoria? Nada! E tudo! Sabedoria é uma coisa e flexão de pernas é outra coisa, bem diferente. Mas, ao mesmo tempo, tem tudo a ver.

Então vejamos: Se entendermos que a sabedoria não é a ostentação, mas o processo humilde de buscar, então a metáfora da flexão nos ajuda a entender esse processo: para atingir um lugar mais alto é necessário, primeiro descer a um estágio mais baixo. E esse partir de baixo não é humilhação, é humildade. E humildade vem de húmus, que no latim significa o solo fértil a partir de onde cresce a semente. E a semente, para germinar, tem que estar inserida no húmus. Se ela não se decompor, não morrer, não se enterrar... não germina.

Qual é, então, o princípio da sabedoria? Admitir que não sabemos. Somente quando admitirmos nossa condição de aprendizes estaremos aptos para aprender. E a primeira lição é entender que o universo que desconhecemos é maior do que o grão de areia que já sabemos. Mas para isso temos que nos colocarmos diante do espelho e termos coragem de nos olhar nos olhos. Somente quando nos colocarmos na frente de nós mesmos estaremos aptos a buscar a sabedoria...

Neri de Paula Carneiro

mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO