Sobre Baladas e Sagas

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 01/07/2025 | História

A arte é uma de nossas maiores companheiras. Quando é historicamente titulada, ganha contornos verdadeiramente místicos. E disso não escapam as sagas e baladas.

As sagas eram verdadeiras jornadas, impressas no papel por todo o imaginário das primeira gerações nascidas na Islândia: surgindo com o intelecto dos primeiros colonizadores da ilha nórdica, lá foram levadas, por eles, quando de sua conquista, estimulada pelo voluntário advento do Cristianismo islandês, por volta do ano 870. Sempre escritas em prosa (não obstante haver vários poemas intercalados), as sagas configuraram a verdadeira literatura medieval islandesa, narrando heróis nos mais diversos caldeirões e contextos de realidade objetiva imaginária, religião e mitologia. Expressas no antigo idioma nórdico, podiam ser relativas a reis, a importantes famílias islandesas (que são chamadas “sagas de islandeses”), a santos e bispos (muito provavelmente da Baixa Idade Média, eis que o Cristianismo, como dito, por lá chegou em cerca de 870, pouco mais de cem anos antes do Alto Medievo) e outras personagens. Naqueles documentos, produzidos por centenas de anos, verifica-se uma linguagem impessoal e sacrificante, probatório dos sentidos pessoais de seus autores, e, assim, das condições climáticas extremas em que se encontrava, ao menos, aquela ilha ao alvorecer do último milênio. Não é sem razão, portanto, que na linguagem ocidental moderna o vocábulo “saga” tenha uma conotação de extremo sacrifício, que foi, documentalmente, exposto por aquele povo nas suas entrelinhas. Prosa medieval, algo que deveria ser, absolutamente, mais difundido.

Já por volta dos séculos XI e XIII tivemos, na Europa Continental, mais especificamente na França, as baladas. Podendo ser comparadas aos atuais concertos, eram, em grande parte, composições declamadas por um dentre três indivíduos, que tinha a incumbência de cantarolar o seu conteúdo. Tivemos em Guillaume de Machault o mais extraordinário exemplo de baladeiro da Alta Idade Média. Como, durante aquele período, a arte clerical era o mais robusto elemento a se considerar divino, nas notórias catedrais com coloridos vitrais denotadores da presença de Deus (especialmente aos servos, comerciantes, e, também, fugitivos do próprio sistema feudal, em cujos territórios, ironicamente, se encontravam), pode-se afirmar que as baladas poderiam, na sua sonoridade, rivalizar aos gênios arquitetônicos clericais, numa imaginação coletiva popularizadora dum mundo ideal, e, assim, inexistente. É a isto que as baladas levavam seus ouvintes, ao revés das sagas, intrínsecas na sua melancolia de heróis e mitos, mas não por isso menos expositivas e belas. Não é sem razão, desta forma, que pessoas como Frédéric Chopin, Franz Liszt e outro viessem, posteriormente, a dar contornos de medievalismo baladeiros nas suas carreiras com a inserção de ritmos igualmente acústicos.

Arte é vida. História é vida. É esta a impressão que desejo, sincera e cordialmente, a vós sempre transmitir.