Feito por Edilce Teresinha de Barros Miercalm

Sintetizando o texto: Em busca da construção de sentidos: o trabalho de leitura e produção de textos na alfabetização.  

O texto Em busca da construção de sentidos: o trabalho de leitura e produção de textos na alfabetização, das autoras Ana Carolina Perrusi Brandão e Telma Ferraz Leal, nos traz relatos de professores que atuam na Educação Infantil e Ensino Fundamental (1° ciclo), que só atualmente podemos ter acesso devido às mudanças no processo de alfabetização.

A partir de autores como Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e outros, o processo de alfabetização passou por diversas transformações, de modo que muitos educadores foram abandonando os métodos tradicionais e os manuais de alfabetização para inserção de métodos em que as crianças ganharam espaços para reflexão e criação, sendo considerados sujeitos pensantes e ativos já que a alfabetização é uma construção conceitual.

O processo de alfabetização, segundo as autoras Brandão e Leal (2005), para a criança deve ser um momento de interação, diálogo em que a criança constrói hipóteses e seus próprios conceitos porque a alfabetização passa a ser uma tarefa interessante em que se pode agir sobre ela, transformá-la e recriá-la, tendo uma real apropriação da língua escrita e oral.

Como as autoras (ibidem) explicitam, é necessário formar leitores e produtores de textos a partir da organização do tempo pedagógico, com os professores trabalhando temas interdisciplinarmente que façam sentido no contexto ao qual a criança está inserida, o que está atrelado ao processo da escrita de modo significativo e reflexivo.

Um ponto a ser considerado, apesar do papel de destaque da escrita é a relevância da oralidade que possibilitará a criança à capacidade de compreensão e construção dos próprios textos.

Para que as crianças desenvolvam conhecimentos e segurança para se comunicarem cada vez melhor o professor deve proporcionar situações de debates, discussões em grupo, que possuam gêneros textuais orais e escritos diferenciados, mostrando que a oralidade e escrita se aproximam, incentivando dessa forma o aluno a falar e escutar, criar e recriar.

As práticas orais devem ser valorizadas, embora dominar gêneros orais não seja suficiente para lidar com textos escritos. Expõem que é necessário o professor reservar tempo para leitura, produção de diferentes gêneros textuais escritos, bem como distribuir o tempo entre atividades de apropriação do sistema de escrita alfabético, ortografia, revisão, etc. De forma que as crianças venham a compreender e construir conhecimento com sentido e significação.

O professor deve e pode expor diversos gêneros de textos nas paredes da sala de aula para serem “lidos”.  Textos produzidos coletivamente (séries iniciais) ou em brincadeira de faz-de-conta (educação infantil).  Desse modo, elas vão se familiarizando com os diferentes usos e funções sociais de textos escritos.   

Diversos autores como (REGO, 1988; VAL e BARROS, 2003) e outros, apontam que a criança antes de dominar a base alfabética de escrita, pode construir conhecimentos e habilidades de leitura e produção de textos escritos. Ainda, Cardozo e Madza (1998) defendem que as crianças sendo colocadas no universo de textos de diferentes gêneros e textos diferentes de um mesmo gênero resultarão em aprendizado gradual sobre o que há de semelhante e diferente nos textos.

Um ponto importante é que os aspectos sociodiscursivos ligados aos textos lidos ou produzidos na sala devem ser explorados pelo (a) professor (a) no momento da construção e no momento de leitura desses textos, para ser incentivo às crianças a circulação na escola dos gêneros textuais que estão presentes no mundo fora da escola.  Outro ponto essencial é que o (a) professor (a) deve considerar os assuntos de interesse das crianças em seu cotidiano.  Observar os acontecimentos em sala, ou com algumas crianças em particular, para criar situações de ensino, lançando propostas concretas de trabalho, envolvendo a leitura e produção de textos, como por exemplo, uma festa na escola, reunião de pais e outros.

As autoras reforçam que não há como formar leitores e produtores de textos competentes, sem que desde cedo as crianças tenham muitas oportunidades de ouvir, ler e escrever na escola, textos que tenham significado para elas.  Portanto, as autoras propõem realizar atividades diversas de produção e compreensão de textos orais e escritos, bem como atividades direcionadas a apropriação do sistema alfabético de escrita.

Quando as autoras Brandão e Leal trazem o tópico à produção e a leitura de texto com crianças em fase de alfabetização, elas descrevem o trabalho feito por docentes e quase uma totalidade de um grupo de professoras de Recife compreendem que a leitura e escrita perpassa além da decodificação e codificação, pois ao serem questionadas “Seus alunos são leitores?” suas respostas foram claras. Vejamos uma dessas respostas:

Sim. Apesar de nem todos dominarem a leitura, considero que são leitores pelo fato de realizarem não só a leitura correta de palavras ou frases, mas pelo fato de se posicionarem em relação ao livro que folheiam, da leitura própria que fazem das imagens vistas e observadas (Lívia de Miranda Amorim, Educação Infantil, Escola Municipal Alaíde Pedrosa, Jaboatão dos Guararapes-PE, p.36).

É perceptível que a leitura e escrita de contos infantis predominam nas práticas pedagógicas, cabe ao professor trabalhar os diferentes gêneros textuais, estimular os alunos a participarem ativamente das atividades fazendo que percebam a relação do que aprendem na escola com o contexto em que vive, o docente necessita ser este mediador e facilitador da aprendizagem.

Outro fator que demonstra como o professor pode fazer a diferença no processo de construção da autonomia e criticidade do aluno é demonstrado no relato de uma professora do terceiro ano do primeiro ciclo, onde ela ouviu as reclamações dos alunos sobre estarem descontentes com a qualidade dos lápis utilizados na escola e propôs que eles reclamassem com o fabricante por meio de correspondência e assim foi feito.

Essa atividade envolveu os alunos de maneira que todos participaram com interesse e empenho, pois era um assunto de seu dia a dia, que envolvia sua realidade de modo efetivo e que só se tornou possível devido à professora já ter apresentado e trabalhado diversos gêneros textuais, entre eles a carta de reclamação.

Ao trabalhar o gênero textual carta pessoal e uma carta de reclamação formal a professora Andréa possibilitou aos seus alunos o trabalho de revisão textual, pois ao escreverem individualmente os alunos precisaram textualizar e registrar texto desenvolvendo assim habilidades importantes de escrita.

Já na produção coletiva, eles tiveram a possibilidade de reler trechos para dar continuidade, mudar palavras, rever estruturas das sentenças entre outros. Como afirma Brandão (2005, p.40).

Quanto maior o acesso e a exploração de bons modelos escritos nos diferentes gêneros trabalhados em sala de aula, maiores as chances das crianças se apropriarem da estrutura características correspondente a esses diversos gêneros textuais.

Desse modo, por colocar os alunos em um jogo real de interlocução e por ajudá-los a desenvolverem capacidades de produção de textos essencial à escrita, a proposta didática da professora Andréia tem excelentes qualidades.

As autoras transcrevem um planejamento feito por um grupo de professoras durante o curso “Leitura e Produção de Textos na Alfabetização”, onde é apresentada uma proposta de leitura com crianças em fase inicial de apropriação do sistema alfabético. Neste planejamento o professor pode criar uma expectativa e levantar hipótese sobre o conteúdo que será abordado sempre embasado nos conhecimentos prévios das crianças que lhe será de grande valia ao desenvolver estratégias de leitura para uma ampliação da capacidade leitora.

Posteriormente a aplicação do texto faz-se uma conversação sobre o que foi narrado para um melhor entendimento e organização sequencial da história. É válido inserir atividades escritas juntamente com figuras/desenhos que ilustram a história ouvida. Brandão e Leal (2005) concluem que a preocupação dos professores é de que seus alunos desde os primeiros anos escolares tenham contato com a escrita que lhes dê significado e sentido, e para isso é necessário que o tempo pedagógico seja organizado, ajudando e envolvendo os alunos em situações de produção e compreensão de textos orais e escritos.

REFERÊNCIA

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; LEAL, Telma Ferraz. Em busca da construção de sentidos: o trabalho de leitura e produção de textos na alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.