Prezados alunos e alunas. As relações descritas entre a visão estruturalista e a formação da cultura em nosso texto de estudo (apostila I de sociologia do 2º ano) merecem ainda algumas considerações. Primeiramente, é preciso saber contra o “quê” ou contra “quem” o estruturalismo está a se arquitetar. E ele o faz contra a filosofia idealista e existencialista dos séculos XIX e XX, que insistiu na inteira liberdade do ser humano diante da natureza e da cultura. Ou então, na clara distinção entre natureza e cultura. Lembremos Sartre: “Não há essências anteriores ao ser humano; o homem se faz, se constitui, é, portanto, condenado a ser livre”. Tanto a filosofia idealista de Kant e Hegel, como o existencialismo de Sartre, por exemplo, tomam a ideia de Sujeito como central e com ela constroem as teses da liberdade humana. Mas o estruturalismo se opôs a essa visão. Para os estruturalistas, como Lévi-Strauss, Foucault, Althusser, Lacan e outros, há determinadas estruturas que são inconscientes e que permeiam as ações humanas e determinam seu modo de ser e pertencer a esse mundo. Como se houvesse estruturas “inatas” e inconscientes à mente e que determinassem as ações humanas. Também Sigmund Freud vai por essa via, embora ninguém designe Freud como estruturalista. Primeiramente linguistas como Saussure e Chomsky demonstram que as línguas humanas têm uma estrutura fonológica e estrutural encontrada em todas as sociedades, sejam tecnologicamente desenvolvidas ou não. E que a partir do uso desse conjunto de regras fônicas as línguas se organizam. São estruturas fônicas que resultam em regras que, por sua vez, regem o jogo da linguagem. É o que se chama de “fononismo”, a teoria dos sons e as estruturas naturais de que o homem faz uso para articular linguagem falada. O que o estruturalismo nos apresenta, grosso modo, é uma guinada contra o idealismo e contra as teorias da história. O ser humano é bem menos senhor de sua história do que imagina. A respeito desse problema, assim escrevem os comentadores Reale e Antiseri, (1991, p. 959): “Para Lévi-Strauss, existem estruturas e normas (sociais, míticas ou linguísticas) autônomas da vontade humana. E, se estudamos o homem cientificamente, isto é, de indagamos os produtos da atividade humana com método científico, então o homem não se constitui, ele é dissolvido. O homem não é senhor de sua própria história. Ele não age, mas é agido por forças estruturantes inconscientes. O homem, como disse Foucault, está por desaparecer. E Lévi-Strauss acrescenta: No início do mundo, o homem não existia – e não existirá também no fim”. O que devemos concluir das posições estruturalistas? Para mim, uma relativização da ideia de liberdade e de sujeito. Como parece, o estruturalismo aponta normas inconscientes presentes nas civilizações que orientam o modo de agir dos grupos sociais. Cada grupo social tem regras inconscientes (estruturas) diante das quais o ser humano nem sempre tem liberdade absoluta como queria Sartre. Outra coisa, assim percebo, a história nada tem de evolutiva e de sentido. Claude Lévi-Strauss fala em Sociedades Quentes e Sociedades Frias. As primeiras seriam as nossas, as ocidentais que desenvolveram tecnologias e artefatos os mais variados. As Segundas seriam as sociedades indígenas, tribais e que não querem de modo algum serem iguais a nós. Assim, a história não é um caminho reto e também não tem uma finalidade e nem um sentido. A história não é um desenvolvimento lógico e consciente da humanidade, mas antes, o desenrolar de estruturas inconscientes que põem o homem em marcha a partir das regras, do jogo estabelecido por seu grupo social e pela estrutura inconsciente desse grupo. Ou seja, os estruturalistas estão nos dizendo que não há normas fixadas pela autonomia de um sujeito, mas há regras que o inconsciente coletivo de cada grupo estabelece. Mas essas regras são aleatórias e, não poucas, vezes, ilógicas para um mente acostumada com explicações idealistas e subjetivas (pertencentes a um sujeito consciente). Vejamos o que nos diz Mondin (1983, p. 223): “Isso implica que a cultura pode ser tratada da mesma forma objetiva que a natureza e que, por isso, não se deve estabelecer uma diferenciação essencial entre a cultura e a natureza”. Eis, portanto, meus alunos uma chave de interpretação. Se a linguística quer encontrar leis rígidas para a voz, vocalização (foné; φονή), o estruturalsimo pensa (e isso defende) que com a cultura se dá o mesmo. Nesse sentido, cito novamente Mondin (1983, p. 224) porque considero essa passagem adequada para o ponto de vista que procuramos: “Segundo Lévi-Strauss as sociedades não criam nada no sentido próprio e verdadeiro, mas simplesmente escolhem certas combinações dentro de um repertório ideal, que pode ser reconstituído; a possível combinação dos elementos é determinada pelas leis formais do funcionamento incônscio da mente”. Em outras palavras, o homem não só funda estruturas, mas, antes, são estruturas inconscientes que fundam o ser humano. Não é o ser humano que tem estruturas, mas as estruturas da cultura e da natureza têm (contém) o ser humano.