RESUMO

Este artigo tem como principal objectivo analisar o conceito de Fenomenologia apresentada por Edmund Husserl, problematizando as abordagens sobre a fenomenologia bem como situar o contexto em que a mesma foi apresentada. Analisa também a percepção de consciência apresentada pela corrente de pensamento denominada Psicologismo e a percepção de consciência apresentada por Husserl, fazendo-se um contraste entre ambas as percepções, enfatizando posteriormente o conceito de fenómeno.

Palavras-chave: Fenomenologia; Fenómeno; Consciência.

INTRODUÇÃO

Edmundo Husserl foi um filósofo e matemático alemão que viveu entre 1869 e 1938. Fundou a ciência do fenómeno que hoje se conhece como Fenomenologia. Husserl rompeu com a concepção de ciência da época e criticou a lógica do Psicologismo. Elaborou sua teoria da consciência transcendental para a sua fenomenologia que influenciou profundamente a filosofia do século XX e XXI.

A relação da verdade, vista de um panorama histórico-reflexivo, foi sempre a correlação entre o pensar e o objecto pensado, estendendo-se no estudo de ambas as partes, tanto do objecto pensado, como do próprio pensamento, uma vez que, um não pode existir sem o outro, afinal, o pensamento não existe por si só, sendo que para ele existir, deve haver algo (um objecto) sobre o qual se vai pensar; da mesma forma, as coisas materiais existentes, um dia foram pensadas, tanto é que não se pode pensar em nada, todo o pensamento ganha existência mediante à presença de um objecto a ser pensado; e todo objecto material é fruto de um pensamento. Husserl, tendo-se deparado com a problemática da consciência, viu-se obrigado a tecer considerações em sua obra A Ideia da Fenomenologia, cujos estudos acabaram por ocupar grande parte da sua vida.

PROBLEMÁTICA DA CONSCIÊNCIA

A problemática da consciência surgira mediante às percepções do Psicologismo e de Husserl, onde segundo o Psicologismo, a consciência se estabelece dentro do próprio sujeito, ao contrário de Husserls que defendia a independência da consciência, pensando-a como um elemento exterior ao sujeito, refutando o pensamento psicologista, o que marcou o antipsicologismo.

Ora, uma ciência que se ocupasse nesta problemática ajudaria, o que desencadeou reflexões que contribuíram para o pensamento husserliano. Frente aos indícios da formação de uma nova forma de pensar, Husserl dedicou grande parte da sua vida estudando essa problemática da consciência, mais especificamente, essa relação entre o sujeito, o objecto e o próprio pensar, que o levou então a fundar sua fenomenologia, sendo definida, em simples palavras, como aquilo que se revela, ou seja, o fenómeno que se revela.

DISCUSSÃO DO FENÓMENO

Para uma melhor compreensão da definição de Fenomenologia de Husserl, é importante tecer algumas considerações sobre o conceito de fenómeno de uma forma geral, tratada no senso comum e também, reflectir o fenómeno dentro do pensamento de Husserl. No senso comum, o fenómeno é entendido como qualquer evento ou objecto observado - como enuncia o dito popular: nenhum fenómeno é fenómeno até ser observado - compreensão essa que abrange apenas uma parte do pensamento, neste caso, o objecto pensado, que quase sempre baseia-se num dado real. Para a compreensão de Husserl, esta ideia do fenómeno não é suficiente para se entender sua Fenomenologia, uma vez que cobre apenas o objecto pensado. Surge então a necessidade de se considerar o fenómeno não apenas no observável (o objecto pensado), mas também no não observável ou abstracto (o pensar em si, ou seja, a percepção), sendo que, para a Fenomenologia de Husserl, o fenómeno não é apenas o objecto pensado, mas também o pensar em si. O fenómeno então passa a ser concebido como tudo aquilo que se revela à consciência do sujeito – entendendo-se aqui o sujeito como sendo o próprio homem - valendo não apenas para o objecto que se revela, mas também para o próprio pensar que se revela.

A ELABORAÇÃO DA FENOMENOLOGIA

Neste sentido, pode-se dizer que, a consciência em Husserl manifesta-se como um elemento exterior ao sujeito, situada em uma instância meta-sujeito e que revela os fenómenos (o pensar em si e o objecto pensado) ao sujeito. Esta acepção possibilita-nos a elaborarmos um fundamento sobre o que viria a ser a Fenomenologia e como já se adiantou, a Fenomenologia é tudo aquilo que se revela, é o fenómeno que se revela e que não necessariamente é observável, ou seja, é a revelação de um fenómeno observável (o objecto pensado) e de um fenómeno abstracto (o pensar em si) que juntos se relacionam.

Torna-se ainda importante frisar que, o objecto pensado, começa sempre na abstração antes de ser observável, afinal, um computador, muito antes de ter-se tornado uma realidade, residia apenas no pensar de alguém que decidira criar esta máquina, logo, fazia-se abstracto, tendo sido apenas observável, no momento em que ganhara materialidade. Porém, é necessário aclarar que, na Fenomenologia, diferente da ciência, seu princípio não se estabelece na origem física do fenómeno, mas se estabelece na completude do fenómeno, ou seja, a Fenomenologia não está preocupada com os elementos inicias que originam o fenómeno, mas está preocupada na revelação do fenómeno como um todo, acabado e completo; assim, no caso da água, o oxigênio e o hidrogênio que a originam, não são estudados na Fenomenologia, o estudo da Fenomenologia então, segundo Husserl, se estabeleceria na água em si, no fenómeno água, já formada e completa, ao contrário da ciência moderna que preocupa-se, primeiramente, com os elementos que originam o fenómeno. Por esta razão, diz-se que Husserl trouxera uma ciência diferente da que já existia.

CONCLUSÃO

Pode-se então concluir, dizendo que, Husserls pensou sua Fenomenologia como sendo a ciência ou estudo dos fenómenos que são apresentados pela consciência cuja existência encontra-se fora do sujeito, ou ainda, a revelação de fenómenos que dependem um do outro para existirem, nomeadamente, o pensar em si e o objecto pensado, fenómenos estes necessários para a compreensão do mundo e que merecem a legitimidade de serem estudados.

REFERÊNCIA

Husserl, Edmund. (2000). A ideia da fenomenologia. Tradução Artur Morão. Rio de Janeiro: Edições 70.