Sim à comissão da verdade
Publicado em 18 de maio de 2012 por Fernando Grecco
"Onde estão os torturadores? Não estão nem esquecidos, nem perdoados...”
(Blog Levante Popular da Juventude)
Em artigo recente, intitulado “A verdade, para quem mais precisa da verdade”, o sociólogo Emir Sader faz referência ao poeta Bertold Brecht e seu famoso texto “As dificuldades para dizer a verdade”. Conclui-se que a verdade, ao findar do processo, deve-se chegar exatamente a quem a necessita.
O País atravessa um momento crucial em sua história. Em poucos períodos, após os militares saírem de cena, a efervescência tomou conta, trazendo à baila uma possibilidade real de esclarecer um período negro da história brasileira. Evidentemente nos referimos à ditadura civil-militar que, por longos 20 anos, censurou, torturou e assassinou homens, mulheres, jovens, enfim, pessoas cujo único pecado era sonhar com uma sociedade mais justa.
As constantes manifestações a que estamos assistindo na atualidade, principalmente por alguns grupos universitários, são produtos de uma história mal resolvida, onde a impunidade não nos permite esquecer toda violência praticada nos porões das delegacias, dos espancamentos que resultaram em morte, das torturas mais vis e degradantes e, por fim, dos nomes sombrios de Romeu Tuma, Sérgio Fleury, Silvio Frota, Olímpio Mourão Filho, Newton Cruz e outros que contribuíram significativamente para mergulhar o País em uma escuridão política onde os frutos negativos refletem ainda nos dias atuais.
A Comissão da Verdade tem uma missão histórica: levar a verdade a quem interessa. Às famílias dos mortos, à imprensa, à sociedade brasileira de forma geral e a todos aqueles que de certa forma engoliram goela abaixo todas as mentiras fornecidas como versões oficiais do governo ditatorial. Absolutamente, assassinos e torturadores beneficiados pela malfadada Lei de Anistia devem, por uma questão primeira de esclarecimento, ter seus nomes revelados.
Todo o atraso econômico, cultural, social e político que a ditadura ocasionou no Brasil jamais serão recuperados por uma Comissão que visa, como foi mencionado, primeiro a esclarecer fatos históricos obscuros do período em questão. No entanto, a elucidação dos acontecimentos é o dever de um governo composto por pessoas que sofreram diretamente com os abusos, torturas e outros métodos animalescos que macularam para sempre a imagem do Exército brasileiro.
É justo sabermos, de forma oficial, sobre o “desaparecimento” de Rubens Paiva, sobre a morte de Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho e de centenas de universitários que idealizavam uma estrutura organizacional mais justa para a sociedade brasileira. Julgamos assaz relevante reverter os conceitos, atribuindo, sim, àquele estado ditatorial o título de terrorista, e não a jovens universitários influenciados por correntes de pensamentos à esquerda que sonhavam com uma república socialista.
Com a história esclarecida, quem sabe, podemos angariar forças para eliminar de logradouros, prédios, grandes rodovias, o nome de torturadores, assassinos, ou, como é o caso de Votorantim, substituir o nome de nossa avenida principal. É inadmissível que esses nomes, ou datas, permaneçam como homenagens a tudo aquilo que representa a tortura, os assassinatos e as formas mais ignóbeis de violência que o ser humano pode praticar. Ocorre que essas reivindicações devem, inicialmente, partir de movimentos populares e serem direcionadas ao poder constituído, e não o contrário, como se imagina.
Por fim, entende-se que toda manifestação popular de apoio à Comissão é bem-vinda, principalmente quando relaciona alguns homens públicos com a ditadura. Homens de aparente conduta ilibada, de bons costumes segundo conceitos burgueses, muitos deles parlamentares, prefeitos, governadores, e que, em um passado não muito distante, serviram de sustentáculo a uma era de sangue que jamais será esquecida.
Fernando Grecco é articulista político.