Se você, como eu, tiver a curiosidade de observar e quiser contar a quantidade de pessoas que passam na rua empurrando um telefone celular pela orelha a dentro, quando chegar em casa você terá perdido a conta. Elas circulam às centenas pelas ruas, completamente alheias ao que vêm e ouvem. Atônitas, elas andam com o olhar perdido, de olho esbugalhado olhando para o nada, totalmente envolvidas pelo assunto que estão abordando e ouvindo do outro lado da linha e algumas assumem uma expressão de total alheamento ao que se passa ao seu redor. Olham a esmo, não fitam ninguém, caminham em ziguezague pelas calçadas, sempre gesticulando, às vezes rindo, às vezes xingando e até mesmo brigando com alguém em voz alta, falando sobre seus problemas particulares sem o menor escrúpulo, seja no supermercado, no ônibus,  no metrô ou nos shoppings. Algumas andam de um lado para o outro, indo e voltando ou em círculos, olham pra cima e pros lados, enfim não olham para nada, pois estão conectadas a um outro mundo distante dali num diálogo virtual, completamente alienadas. Até parecem se sentir bem em mostrar que ninguém a sua volta é mais importante do que a pessoa com quem elas estão falando.

Eu já presenciei coisas incríveis. Há alguns dias, caminhando por uma rua muito movimentada, ouvi uma gritaria se aproximando de mim. Era uma voz de mulher. Voltei-me e dei de cara com uma elegante senhora, que com um moderníssimo telefone vermelho enfiado no ouvido, andava sem rumo, esbarrando nas pessoas e completamente desvairada e indiferente a tudo, de dedo em riste como se realmente estivesse olhando para a pessoa com quem falava, esbravejava uma enxurrada de palavrões impublicáveis. Estava tão agressiva que ao perceber o meu espanto, lançou-me um olhar fulminante que se fosse possível, teria me eliminado ali mesmo. Também uma noite, da minha sala eu escutei alguém falando e chorando alto na rua, discutindo com um homem a quem dizia odiar. Eu te odeio, eu te odeio! - gritava a mulher. Estava encostada numa parede e a sua raiva era tanta que de vez em quando ela se virava e dava socos na parede, indiferente aos olhares curiosos de quem passava. Também vi no metrô uma mulher aos berros, ensinando detalhadamente outra a temperar um arroz. Episódios ridículos.

E sabe de uma coisa? Essa mania insuportável não se trata de tique, nem de toc, nem de nenhum outro tipo de transtorno psíquico, mas simplesmente de um transtorno educacional que está se generalizando ou seja, uma  Síndrome de Falta de Educação, até mesmo misturada a uma certa dose de exibicionismo. Não generalizando, mas também existe muita gente por aí tentando conseguir pelo menos alguns minutos ou segundos de atenção e de fama. Outras sentem necessidade de mostrar o que têm, de exibir seu I-isso e seu I-aquilo pela rua, nem que algum pivete avance e tome o seu  precioso I, que lhe custou os olhos da cara, uma nota preta.

Ai, ai... 

Autora: Junia - 2012