João Moreno de Souza Filho[1]

 

Prof.ª Dra. Jedida Melo[2]

Prof.ª Dra. Edlucia Turiano²

 

Introdução

            Sexo é um tema tabu em muitas famílias e em muitos grupos sociais. No entanto, o acesso a literaturas pornográficas e à conteúdos adultos nas redes sociais é comum. Isso nos leva a perguntar? Como algo que é tão comum na sociedade é tabu em muitas famílias e em alguns grupos sociais? A resposta à esta pergunta perpassa pela compreensão da sexualidade e de suas múltiplas manifestações na sociedade. Para esta compreensão, precisamos, também, passar pela arena da educação, da escola pública para investigarmos como o tema é visto em sala de aula (se é visto). Nos basearemos, nesta análise, no artigo de Alaíde Matos e Sônia Oliveira, publicado no seminário “Educação Sexual e Saúde: “Orientação sexual na escola – Contribuição da sexologia sobre o trabalho de orientação sexual na escola.”

Desenvolvimento

            Qual é a diferença entre sexo e sexualidade? Para Alaíde Matos e Sônia Oliveira, “é algo inerente à vida e à saúde que se expressa no ser humano do nascimento até à morte.” Porém este “algo inerente” é um termo muito vago para definir sexualidade. Por isso fui em busca de outras definições para sexualidade, e encontrei as seguintes: “Qualidade do que é sexual”, “Conjunto de caracteres especiais, externos ou internos, determinados pelo sexo do indivíduo.” Esta definição pode ser ampliada com declaração presente no texto “Sexo é igual ou diferente de sexualidade?”, presente no site adolescência .org. No artigo é dito que “sexo se refere à definição dos órgãos genitais masculino ou feminino, e à prática sexual, o coito, enquanto que o conceito de sexualidade está ligado a tudo aquilo que somos capazes de sentir, expressar...” Um ponto forte do artigo é que ele liga a sexualidade ao corpo, assim, é impossível haver sexualidade sem expressão corporal, assim, a sexualidade afeta o ser humano na parte física, nos sentimentos e na razão. 

            Uma das definições mais claras sobre sexualidade foi a dada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1992: “A sexualidade é "uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade, que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental" (OMS, 1992).

            Esta definição da OMS e o que foi dito acima deixam claro que a sexualidade é poderosa e este poder afeta os sentimentos de tal forma que leva muitos a terem uma vida sexual irresponsável. Essa irresponsabilidade atinge, em cheio, a escola através de comportamentos sexuais depravados e de linguagens inadequadas, muitas delas escritas em portas dos banheiros escolares. É nessa seara que entra a escola como uma mediadora, uma ajudadora, no sentido de auxiliar os jovens e adolescentes a desfrutarem da sexualidade responsavelmente. Como isso é possível? Como a escola pode tratar sobre sexualidade e sexo sem perder o foco de sua principal função, a educação formal?

            Sobre a ação da escola no auxílio aos jovens e adolescentes na correta compreensão e vivência da sexualidade, Alaíde Matos e Sônia Oliveira dizem que “a orientação sexual é um dos fatores que contribui para o conhecimento e a valorização dos direitos sexuais e reprodutivos.” Para elas, “o trabalho da orientação sexual na escola é um dos fatores que contribui para a prevenção de problemas graves como abuso sexual e a gravidez indesejada.” Porém elas não apontarem dados que confirmem essa tese. Apesar de isso ser possível, não é o que vemos na sociedade na qual surgem, cada dia, adolescentes que deixam a escola porque engravidaram precocemente. No entanto, precisamos concordar com as autoras que “com a inclusão da orientação sexual nas escolas, a discussão de questões polêmicas e delicadas como masturbação, iniciação sexual, o ato de “ficar”, o namoro, o aborto...” doenças sexualmente transmissíveis, etc., contribui para a segurança dos adolescentes e jovens na vivência responsável da sexualidade.

            A relação escola-família

            Alaíde Matos e Sônia Oliveira concordam que o papel na área da sexualidade é complementar o da família. Assim, não é objetivo da escola ensinar sobre sexo, direcionar os alunos na área sexual, tomar o lugar dos pais, pois eles são os primeiros e principais educadores de seus filhos. Assim, a escola precisa do apoio dos pais e os pais precisam de informações claras da escola sobre os temas que os seus filhos estão estudando na escola. Como disseram as autoras:

Portanto, a relação escola-família propicia informações atualizadas do ponto de vista científico e cultural e ao explicitar e debater os diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais existentes na sociedade, possibilitando ao aluno desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como seus.

            As autoras vão além ao dizerem que:

Não compete à escola, em nenhuma situação, julgar como certa ou errada a educação sexual que cada família oferece. O papel da escola é abrir espaços para que a pluralidade de concepções, valores e crenças sobre sexualidade possam se expressar. No entanto, caberá à escola trabalhar com os alunos à respeito das diferenças a partir de sua própria atitude, ou seja, a de respeitar as diferenças expressas pelas famílias.

Conclusão

            Precisamos entender que os estudantes adolescentes e jovens são fortemente afetados pela sexualidade, especialmente os adolescentes. Esse efeito os atinge no físico e nas emoções, e isso leva a comportamentos frutos do “borbulhar” dos hormônios, e a escola precisa estar aberta e preparada para responder a esta fase da vida e a discutir, abertamente sobre o tema. Essa discussão não deve acontecer somente em uma reunião, mas deve ser um PROJETO de educação sexual que perpassa por: seminários, palestras, preparação e divulgação de cartilhas, debates em sala de aula, etc. Tudo isso deve respeitar a cultura local, dos pais e não deve entrar pela área do liberalismo cujo objetivo maior é a vivência sexual precoce e irresponsável, e não a educação sexual e o debate sobre a sexualidade.

Referências Bibliográficas

MATOS, Alaíde Arjona de. E OLIVEIRA, Sônia Fernandes de. Orientação Sexual na Escola – Contribuição da sexologia sobre o trabalho de orientação sexual na escola: uma revisão Bibliográfica.

Sexo = ou ≠ de Sexualidade?  <disponível em http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/sexualidade. Acessado em 13.06.2018.>

ASSOCIAÇÃO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR -  http://www.apf.pt/sexualidade

[1] Mestrando em Ciências da Educação – FICS

[2] Doutora em Educação – FICS