Sete Maravilhosos Clássicos Anteriores à Era Cristã

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 11/12/2024 | História

A assimilação da História não se dá apenas por meio da memorização de fatos e datas, nas suas respectivas cronologias. Mas, sobretudo, pelo conhecimento de quais os principais clássicos que marcaram e para sempre a consolidarão, num passado distante, recente e no próprio presente. Dito fato é observado desde o seu início, ocasionado pelo surgimento da escrita na Suméria, por volta do ano 3.500 a.C.

Houve o aparecimento de diversos escritos desde então, mas o primeiro grande clássico da História da Humanidade é “A Epopeia de Gilgamesh”, cravado em escrita cuneiforme por volta de 1.800 a.C. É interessante como os antigos já percebiam as consequências do que seriam o Poder absoluto e suas nefastas consequências. Este verdadeiro épico se centra na figura do Rei de Uruque, para quem foi concedido um companheiro junto ao qual realizaria diversas missões atribuídas pelos deuses, a fim de que não tiranizasse sua própria população. E o interessante é que, após seguidas investidas malsucedidas da deusa Inana, lhe é tirado seu companheiro e ele, então, e ainda que não a houvesse realizado por conta das missões, sente as decorrentes agruras do autoritarismo figurado naquela ausência, passando questionar os deuses a respeito da imortalidade.

Séculos depois, podemos citar “A Ilíada”, atribuída a Homero (cuja existência individual, ou não, é, ainda, objeto de dissenso entre os historiadores), que narra os acontecimentos da Guerra de Tróia, entre troianos e gregos. É de “A Ilíada”, considerada um dos primeiros poemas da História do Mundo Ocidental, que se origina o mito do Cavalo de Tróia. Já, atribuída ao mesmo Homero, há posteriormente a materialização de “A Odisseia”, narrativa da saga de Odisseu (ou, latinizando, Ulisses), cerca de dez anos após a Guerra de Troia.

Platão, vários centênios após, iniciou sua jornada, sobretudo na filosofia, com a publicação de seus escritos, bem como por meio da fundação da Academia, a primeira Universidade do Mundo Ocidental. Mas, para além disso, também escreveu “A República”, em que expõe uma noção íntima do que seria o verdadeiro Estado ideal, capitaneado por guardiões que ganhariam somente o suficiente para manterem-se e estenderiam esta visão aos seios de suas vidas pessoais, retroalimentadas pela honra de servir ao Estado, e vice-versa. Cabe afirmar que “A República”, utópico e épico, não encerra, jamais, a obra de Platão.

Já no Extremo Oriente, também antes de Cristo, surgia um filósofo que criaria a norma de ouro das relações humanas, consubstanciada na Célebre frase “não faça ao outro o que não quer que lhe façam”: Confúcio, o Mestre Chinês, era originariamente funcionário público. Jubilado duas vezes do serviço público por ranço de seus iguais, percorreu grandes distâncias ensinando e aperfeiçoando-se, tendo por base o ensinamento supra e jamais mencionando questões metafísicas. Valores como “a verdadeira glória reside não na ausência do fracasso, mas no fato de nos reerguermos todas as vezes que fracassamos”, “trabalhas no que gostas, e não terás de trabalhar um único dia em sua vida” e “ter um pouco de dinheiro guardado traz tranquilidade, muito traz problemas”, sintetizados no célebre livro dos que a ele sobreviveram, chamado “Os Analectos”, são hoje referência na própria China e em grande parte do Mundo Oriental.

Também na China, contemporaneamente a Confúcio, começava a difundir seus ensinamentos o filósofo Lao Tsé, para quem “uma grande jornada se inicia com um pequeno passo”. As ideias de Lao-Tsé estão muito bem descritas em sua obra “O Livro do Caminho e da Virtude”. Sua existência firmou-o como um deus (daí consolidou-se o Taoísmo, mais na suposta eventual divindade que nos fundamentos terrenos, assim como, em relação a Confúcio, tenha surgido o Confucionismo, também de caráter religioso, embora, como dito no parágrafo supra, ele não mencionasse questões metafísicas).

Por fim, no século III a.C. foi escrito, na Índia, o mais extenso poema de todos os tempos, com cerca de 250.000 linhas, “O Mahabrarata”. Considerado um integrante do cânon hinduísta (sendo o outro “Ramayana”), narra a rivalidade entre Principados, tendo por base a mesma religião. Sua parte mais famosa é o “Bhagavad Gita”.

Livros como estes são absolutamente maravilhosos. É simplesmente fantástico termos tão soberbas obras disponíveis em pleno século XXI, num espetáculo de ancestralidade que se sobrepõe a qualquer espécie de outra ocupação, midiática ou não, da nossa dita contemporaneidade.