(*)

                Muitos servidores públicos atualmente sejam eles das redes municipal ou estadual, se encontram em desvio de função ou de readaptação. Isso ocorre quando este servidor passa a exercer atribuições diversas daquelas que correspondem ao cargo o qual prestou concurso público, foi nomeado e empossado.

Por muitas vezes, essa situação ocorre por conta de sérios problemas de saúde, sejam eles de ordem ortopédica, psicológica, física, entre outras realidades. Mas, e aí, como são tratados estes profissionais que - não por vontades próprias - são submetidos a essa situação?

                Conversando com amigos da área educacional, percebemos em suas falas o quanto se sentem desconfortáveis nesta condição à qual são submetidos por apresentarem uma saúde fragilizada.  Muitos afirmaram que se sentem inúteis na Unidade em que trabalham, outros afirmam que são vistos como aqueles que não fazem nada e ganham por isso, outros como “quebra-galhos”, outros como preguiçosos, entre diversas outras “nominações,” menos nobres.

Diante de tantas colocações, percebemos que por vezes esses problemas de saúde acabam se agravando, pois que profissional não sofre diante de tantos apontamentos negativos? Alguns agravam ainda mais um quadro depressivo, sendo este tão comum nos dias atuais. 

Ficam aqui, então, nossos questionamentos: o que fazer para que essas pessoas se sintam úteis? O que propor em sua nova etapa de trabalho, já que não podem exercer aquele cargo que amam e que tanto estudaram para exercê-lo? Como incluí-lo de forma verdadeira na rotina escolar?

                O objetivo deste artigo é alertar e conscientizar a sociedade de quanto estes profissionais que estão hoje em desvio de função ou readaptados sentem-se desvalorizados profissionalmente, sofrem, são excluídos e/ou restritos de diversas atividades que poderiam ser úteis, entre outros obstáculos para o desenvolvimento de sua identidade profissional. Se perguntarem a um servidor público como anda sua saúde, com certeza ouvirá relatos de queixas a respeito do esgotamento físico e mental. Se esse servidor for professor o problema é ainda maior. A falta de infraestrutura, dupla jornada, excesso de alunos, salários baixos, falta de segurança, desestimula os profissionais, causando diversas doenças, entre elas a depressão.  A falta de saúde do servidor, mais especificamente do professor, repercute na sala de aula, na carreira do professor, além de fazer com que perca sua referência como mediador do conhecimento.

                Hoje o que observamos nas escolas, principalmente, é que estes profissionais estão na maioria das vezes exercendo funções diversas das de sua formação, voltadas a suprir faltas de funcionários, ou simplesmente sem ter o que fazer (ociosos). O processo de desvio realizado desta forma gera angústia, preconceito, sofrimento e exclusão.

                É importante deixar aqui registrado que todos nós podemos, sim, sermos úteis de alguma forma, mesmo estando em desvio ou readaptação. É necessário que se tenha um olhar mais compreensivo e que se possa propor projetos que insiram estes profissionais qualificados de forma que possam realizar um trabalho digno em relação ao estado de saúde em que temporariamente se encontram. Espera-se que políticas públicas sejam pensadas partindo de dados sobre o adoecimento, elaborando estratégias que proporcionem qualidade de vida aos servidores.

(*)Érica Patricia dos Reis Oliveira, Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodrigues Maciel e Sibele Silva Leal Rodrigues, pedagogas, são professoras da rede municipal em Rondonópolis (MT).