SERMÃO DA MONTANHA

    (uma singela interpretação)

 

No mais expressivo sermão de todos os tempos: o Sermão da Montanha, que se considera como a Carta Magna do Cristianismo, Mateus anota no Capítulo 5, vv. primeiros, as inolvidáveis sentenças do Mestre Jesus:

 

“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

 

Com isso o Mestre chamava a si os pobres de espírito, ou seja, os humildes, os pequeninos de pouca instrução, mas cujo coração iluminado e sereno se mostra apto a assimilar a nova mensagem consoladora, libertando-os pela vivência do Evangelho do vicioso círculo erro-sofrimento, das reencarnações repetitivas e tão desoladoras.

 

Pelas normas evangélicas, o ser se liberta do cativeiro da dor, da opressão da matéria, do jugo dos poderosos.

 

E prosseguia o Mestre e Senhor:

 

“Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”.

 

Esclarecendo, assim, que as tribulações da vida, os desacertos sociais, as injustiças, resultam da nossa ignorância e dos transviamentos praticados contra a Sua Lei, que é a Lei de Deus. Explicava Jesus que as anomalias do mundo, as dores, as aflições, fazem parte do longo aprendizado da alma, composto de tropeços, desastrosas quedas e de tão pequeninas vitórias por ela alcançadas. Contudo, sendo Deus todo Misericórdia, todo Justiça e Amor, existirá uma causa exata e justa para o nosso sofrer que terá a bênção de depuração da alma, tratando de engrandecê-la, de curar suas chagas para mais venturoso porvir. O conhecimento da Verdade, dos efeitos e de suas causas, abranda as angústias da vida, imprimindo inalterável coragem em prol da superação dos óbices passageiros, escalando e projetando novas metas de realização espiritual.

 

 

 

 

Até porque, o sofrimento vem sempre contrabalançado pelos bons momentos, pelas alegrias e contentamentos que são o prenúncio de uma felicidade mais efetiva, fruto da boa obra, multiplicadora da paz.

 

E dilatava Jesus seus preciosos ensinos ao proclamar:

 

“Bem aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados”.

 

Com tal expressão, o Mestre queria lembrar que o universo é regido por leis eternas e imutáveis, e que a paciência, a calma na luta irão revelar nossa submissão à Vontade de Deus, nossa calma e resignação ante o Poder que dita Sua Lei, nos conduz, nos governa. E que tais virtudes, sendo operadas e trabalhadas em nós, fazem enaltecer qualidades que enobrecem a alma, imprimindo-lhe serenidade, sabedoria e amor; o que não implica, em tempo algum, deva o Espírito a tudo se submeter passivamente, como fantoches desprovidos de ação, vontade e livre arbítrio; ora, isto é antinatural, pois equivaleria a deixarmos o campo livre aos maus.

 

O Mestre, por referida máxima, portanto, indicava nos resguardássemos da violência, da rebeldia que nada resolve, e que, muito pelo contrário, poderão nos prender e nos algemar indefinidamente às dolorosas cadeias da recapitulação, impedindo-nos a liberdade, maior desenvoltura do Espírito imortal.

 

E assinalava ainda mais:

 

“Bem aventurados os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia”.

 

Por tal sentença Jesus apontava que ser misericordioso é condoer-se da miséria alheia, seja material ou espiritual; é apiedar-se dos enfermos, dos órfãos, da indigência; em conformidade, é aceitar o próximo como ele for, com qualidades e defeitos, pois estamos em trabalho de redenção, de aprimoramento espiritual.

 

 

 

Ser misericordioso, portanto, é perdoar sem segundas intenções, é recuar diante de qualquer propósito menos digno, cujo aviltamento rebaixa e degrada o ser. Jesus indicava, pois, que a prática da piedade, da compaixão e da indulgência estarão agindo como molas propulsoras da paz, conduzindo o ser a mais altos vôos de espiritualidade, o aproximando da glória celestial.

 

“Bem aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

 

Nesta máxima, Jesus preconizava as normas de uma conduta reta, sem os prejuízos das teorias enganosas, dos sofismas, dos cérebros frios que escondem a hipocrisia, a insensatez, a devassidão. Em conformidade, veremos em Mateus, Capítulo 5, vv. 27 e 28, que o Mestre condenava o pecado por pensamento ao dizer: “que todo aquele que tiver olhado uma mulher com um mau desejo por ela, já cometeu adultério com ela em seu coração”.

 

Efetivamente, a pureza de coração não deverá estar apenas nos atos, mas também, e, sobretudo, em nossos pensamentos que Deus conhece. Se os retos e puros de coração verão a Deus, os fariseus modernos, os orgulhosos de todos os matizes, os devassos, serão lançados na expiação regeneradora, nos prantos e ranger de dentes que, no arrependimento e na reparação tratará de sua vida nova, de sua libertação.

 

Com efeito, se fomos criados para a felicidade sem jaça, só a teremos pela educação moral, pela disciplina dos dons que Deus nos concedera, nos aperfeiçoando e nos preparando o ser para os inefáveis gozos das almas santificadas e puras.

 

E finalizava Jesus:

 

“Bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

 

 

 

 

 

Em tal expressão Jesus acordava as almas para o pacifismo tendo em vista o funesto engano dos que fomentam a guerra, a discórdia seja ela qual for, desejando tudo superar pela violência comprometendo seus destinos nas arenas do porvir. Depreende-se, por aí, que não há uma só chaga do Espírito que não deva ser apagada, uma só dívida que não deva ser ressarcida e quitada.

 

Isto porque a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, porém de sentido contrário:

 

Lei física igualmente válida para o mundo moral.

 

Em conseqüência, o indivíduo que emite um mau pensamento, ou que incorre em más ações, terá de reabsorver os efeitos deletérios de sua conduta onde quer que esteja, seja aqui, seja ali, ou acolá, na erraticidade sombria do mundo espiritual.

 

É da Lei que seja assim:

 

“Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”. (Mateus, 7:12).

 

Ou: Não faças a outrem o que não queres que para si mesmo.

 

Ou ainda: faças a outrem o que gostaria que lhe fizessem.

 

Como é antinatural que alguém deseje o mal para si, que faça o bem: que seja humilde e solidário, que seja prestativo e colaborador.

 

Estando com a Lei, dela terás a sua proteção.

 

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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