Seja crença, não seja verdade. Você escolhe!?
Publicado em 16 de dezembro de 2015 por Pablo Araujo de Carvalho
Seja verdade! Seja crença! Seja verdade não, seja crença. Crença seja não, seja verdade. Verdade crença, seja não. Não crença verdade seja.
Ah a verdade! O que é a verdade se não a crença no que estamos convicto. O que é o amor se não a fé no amor... O que é a justiça se não a fé na justiça... O que é a lei se não a fé na lei... O que é o conhecimento se não a fé naquele que o propaga... O que é a amizade se não a fé no amigo... O que somos nós se não uma crença indissolúvel, perene e eterna. Estamos fadado a crença. Creio logo existo... A crença não é ruim, pois ela é vida que flui e sem crença não há vida. O amigo diz para o outro: até amanhã! Crença que amanhã esteja vivo para outro encontro. O ateu fiel diz: Deus não existe! Não deixa de manifestar crença nesta convicção. Crer é fundamental e vitalício. O problema é a transfusão da crença individual para a verdade absoluta. Um grupo se congrega em nome de uma crença, isto chama-se afinidade, um grupo quer impor sua crença isso chama-se: barbárie e fundamentalismo. Tal como a crença que se transmuta, tal como o amor que amadurece, a verdade se renova no tempo, pois só o tempo é senhor absoluto da verdade. A crença é divina porque ela é eterna, porém quando nós por hábito tornamos uma crença em verdade absoluta, tornamos algo que é eterno e divino em algo que é perecível e humano. Levando a verdade para o caixão, lugar onde morre a nossa crença que imposta mata a crença alheia. Crença é divina a verdade é humana. Crença sim, verdade não... Quando creio, sou livre para crer, agora quando a crença se torna verdade além de mim, ela me aprisiona e não me permite pensar em nada além daquilo que eu externei e registrei fora de mim. "A verdade absoluta se traduz em loucos conduzindo cegos" Creio naquilo que me fortalece, isso é crença. Creio naquilo que me fortalece e o que me fortalece e é bom para mim é também bom para todos, isso é fanatismo, fundamentalismo e barbarismo. Crença e verdade parecem iguais mas são diferentes. Crença quando está dentro de mim é minha verdade. Verdade quando está fora de mim e exposta ao tempo, é fundamentalismo e tudo que está exposto ao tempo, envelhece e caduca. A crença no meu íntimo é eterna, crença imposta nos outros, caduca e envelhece como tudo que é temporal. A crença é como a natureza, cada um tem um olhar sobre ela e deixa se conduzir pela cor, exuberância e odor que mais lhe apraz. Agora quando você gosta de limão e de tanto gostar de limão elege o limão como seu salvador e sai pregando: consuma limão, limão é bom, limão emagrece, limão afina o sangue, limão cura o câncer, sem limão não há vida! Pronto você elegeu e elevou uma parte como se fosse o todo e tornou-se fanático. A crença nunca se impõe, ela é como um texto que não impõe sua leitura e permite que você tire suas próprias conclusões. A crença é como o amor que deve surgir naturalmente e sem imposição, ao contrário da verdade que surge como aquele que diz: você deve me amar porque sou bonito, elegante, educado, tenho dinheiro e igual a mim tá difícil de aparecer, sendo assim é melhor você garantir o seu futuro comigo, ou seja, um encontro cheio de verdades inquestionáveis que aprisionam suas escolhas deliberativas. A crença é libertadora. A verdade é castradora. A crença é simplicidade, porque se fundamenta naquilo que lhe apetece. A verdade é vaidade, porque se fundamenta naquilo que você quer impor, tendo como retorno os aplausos daqueles que por você foram convencidos. A vaidade é o espelho que reflete a parte, o ego, a criatura, o ser humano ou o indivíduo. A simplicidade é o olhar que reflete o todo, Deus e o coletivo. A crença de Guimarães no grande sertão veredas diz: Pão ou pães é questão de opiniães. A verdade do corretor ortográfico diz: opinião! A verdade diz: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato de adultério e na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? E a crença diz: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela. Quando ouviram isto, perseguidos pela consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos mais novos. Crença é paz interior, verdade é violência e discussão externa. Mata-se não pela crença e sim pela verdade.