Seja verdade! Seja crença! Seja verdade não, seja crença. Crença seja não, seja verdade. Verdade crença, seja não. Não crença verdade seja.

Ah a verdade! O que é a verdade se não a crença no que estamos convicto. O que é o amor se não a fé no amor... O que é a justiça se não a fé na justiça... O que é a lei se não a fé na lei... O que é o conhecimento se não a fé naquele que o propaga... O que é a amizade se não a fé no amigo... O que somos nós se não uma crença indissolúvel, perene e eterna. Estamos fadado a crença. Creio logo existo... A crença não é ruim, pois ela é vida que flui e sem crença não há vida. O amigo diz para o outro: até amanhã! Crença que amanhã esteja vivo para outro encontro. O ateu fiel diz: Deus não existe! Não deixa de manifestar crença nesta convicção. Crer é fundamental e vitalício. O problema é a transfusão da crença individual para a verdade absoluta. Um grupo se congrega em nome de uma crença, isto chama-se afinidade, um grupo quer impor sua crença isso chama-se: barbárie e fundamentalismo. Tal como a crença que se transmuta, tal como o amor que amadurece, a verdade se renova no tempo, pois só o tempo é senhor absoluto da verdade. A crença é divina porque ela é eterna, porém quando nós por hábito tornamos uma crença em verdade absoluta, tornamos algo que é eterno e divino em algo que é perecível e humano. Levando a verdade para o caixão, lugar onde morre a nossa crença que imposta mata a crença alheia. Crença é divina a verdade é humana. Crença sim, verdade não... Quando creio, sou livre para crer, agora quando a crença se torna verdade além de mim, ela me aprisiona e não me permite pensar em nada além daquilo que eu externei e registrei fora de mim. "A verdade absoluta se traduz em loucos conduzindo cegos" Creio naquilo que me fortalece, isso é crença. Creio naquilo que me fortalece e o que me fortalece e é bom para mim é também bom para todos, isso é fanatismo, fundamentalismo e barbarismo. Crença e verdade parecem iguais mas são diferentes. Crença quando está dentro de mim é minha verdade. Verdade quando está fora de mim e exposta ao tempo, é fundamentalismo e tudo que está exposto ao tempo, envelhece e caduca. A crença no meu íntimo é eterna, crença imposta nos outros, caduca e envelhece como tudo que é temporal. A crença é como a natureza, cada um tem um olhar sobre ela e deixa se conduzir pela cor, exuberância e odor que mais lhe apraz. Agora quando você gosta de limão e de tanto gostar de limão elege o limão como seu salvador e sai pregando: consuma limão, limão é bom, limão emagrece, limão afina o sangue, limão cura o câncer, sem limão não há vida! Pronto você elegeu e elevou uma parte como se fosse o todo e tornou-se fanático. A crença nunca se impõe, ela é como um texto que não impõe sua leitura e permite que você tire suas próprias conclusões. A crença é como o amor que deve surgir naturalmente e sem imposição, ao contrário da verdade que surge como aquele que diz: você deve me amar porque sou bonito, elegante, educado, tenho dinheiro e igual a mim tá difícil de aparecer, sendo assim é melhor você garantir o seu futuro comigo, ou seja, um encontro cheio de verdades inquestionáveis que aprisionam suas escolhas deliberativas. A crença é libertadora. A verdade é castradora. A crença é simplicidade, porque se fundamenta naquilo que lhe apetece. A verdade é vaidade, porque se fundamenta naquilo que você quer impor, tendo como retorno os aplausos daqueles que por você foram convencidos. A vaidade é o espelho que reflete a parte, o ego, a criatura, o ser humano ou o indivíduo. A simplicidade é o olhar que reflete o todo, Deus e o coletivo. A crença de Guimarães no grande sertão veredas diz: Pão ou pães é questão de opiniães. A verdade do corretor ortográfico diz: opinião! A verdade diz: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato de adultério e na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? E a crença diz: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela. Quando ouviram isto, perseguidos pela consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos mais novos. Crença é paz interior, verdade é violência e discussão externa. Mata-se não pela crença e sim pela verdade.