É comum vermos e escutarmos pessoas dizendo que apesar de não concordarem ou aceitarem determinada situação ou colocação, ficam quietas para não serem tachadas de chatas. É preferível ser chata e mostrar o seu conhecimento, expor a sua opinião, do que assumir o papel de “boizinho de presépio”, ou seja, concorda com tudo.

Questionar faz com que exercitemos a nossa memória, que busquemos conhecimentos/elementos que sustentem as nossas argumentações. É perfeitamente compreensível que a pessoa da qual discordamos nos perceba como chatos, afinal, estamos tirando-a da zona de conforto, estamos mostrando que os argumentos por ela apresentados não nos satisfazem e que queremos algo mais.

Questionar também contribui para o ir e vir do pensamento, fazendo com que ocorram novas sinapses neuronais, pois elas são responsáveis por todas as nossas sensações, sentimentos, pensamentos, respostas motoras e emocionais, etc, portanto, não temos que ficar quietos para não desagradar o outro.

Aqueles que temem ser rotulados de chatos, podem olhar a situação por outro ângulo, ou seja, perceberem que estão contribuindo para que o outro busque novas informações, reflita antes de fazer determinadas colocações, que aprimore seu conhecimento sobre o tema que irá abordar, pois podem ter ouvintes que conheçam um pouco do assunto e acabe não concordando.

Brigamos tanto pelo direito da liberdade, da democracia e nos calamos frente algumas pessoas porque temos medo de como elas nos perceberão, de melindra-las. Na realidade, quando usamos esta justificativa, não estamos dando-a para o outro, mas sim para nós mesmos, que muitas vezes não nos sentimos capazes, ficamos inseguros e com medo de argumentar, de nos expormos.

Quando temos conhecimento, temos argumentos sustentáveis e sabemos o que estamos falando, podemos e devemos assumir o papel de chato e questionarmos aquilo que não concordamos ou que não foi bem colocado. Até podemos causar um desconforto a outra pessoa, mas isso ela terá que trabalhar e dar conta, não cabe a nós querermos resolver esse problema que não é nosso.

Na visão de alguns, esse tipo de comportamento é deselegante, aí vai da opinião de cada um. Penso que mais deselegante é nos dizerem algo que subestime o nosso conhecimento, a nossa capacidade intelectual e quererem que aceitemos como se fosse uma única verdade. Também não devemos impor as nossas colocações como verdades, mas podemos estabelecer um diálogo em que vários vieses podem ser abordadas.

Talvez o importante é que saibamos expressar a nossa opinião, externalizar o nosso conhecimento sem querer torna-lo uma verdade absoluta e nem desvalorizar o conhecimento do outro, quem sabe convida-lo a pensar e analisar suas colocações. Até porque, não detemos todo o conhecimento e sabemos que existem muitos olhares e entendimentos sobre um mesmo assunto.