SE EU FOSSE...

Se eu fosse prefeito...

Se eu fosse governador...

Se eu fosse presidente...

Mas ainda bem que não sou isso!

Sou apenas um professor que, de vez em quando, penso um pouco e, por pensar, acabo dizendo coisas que agrada alguns, provoca riso em outros e irrita aos atingidos pelas farpas das palavras. Principalmente porque, como cantou Belchior, as “palavras são navalhas”. E, sendo navalhas, também eu, “não posso lhes cantar como convém, sem querer ferir ninguém”. Eu canto para ferir!

O fato é que as palavras têm destino certo e finalidade: produzir efeitos! Não sou Deus, mas como Ele disse – pelo menos está na bíblia, em Isaias 55 – “Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito” (no meu caso as palavras saem da ponta de meus dedos sobre o teclado!). O efeito que desejo ver é que os estudantes não sejam apenas números nas estatísticas, mas agentes da aprendizagem.

Mas voltemos ao “se eu fosse”.

É um título que me veio de uma matéria da revista Veja (02/01/13), na qual Gustavo Ioschpe dá algumas dicas de como os prefeitos poderiam otimizar o sistema escolar em suas cidades. Entre as várias sugestões uma não pode deixar de ser executada. Não só nas escolas municipais como estaduais e nas eventuais escolas federais. Qual é a sugestão: “focar na alfabetização”. O articulista afirma o óbvio, que só os responsáveis pela confecção das estatísticas e escolares ainda não perceberam: o aluno deve sair do primeiro ano ALFABETIZADO. “Essa precisa ser a prioridade total do gestor municipal (mas não só. Também nos outros níveis!), pois sem essa competência o aluno não conseguirá progredir em sua vida educacional a contento. O domínio das operações matemáticas nos primeiros anos também é fundamental”, afirma.

Alfabetização (saber ler e escrever) e domínio da matemática básica! Eis a bandeira que todo professor deveria levantar. Professores dos primeiros anos deveriam levantar a bandeira como questão de honra. Como prioridade pessoal: não permitir que o aluno prossiga sem que domine essas competências. O professor deveria se sentir envergonhado em permitir que algum aluno avançasse sem estar alfabetizado. O domínio da leitura e da escrita é trabalho do professor e não depende de intervenção do Estado ou da legislação; dos pais ou da secretaria da educação. Por isso é que o professor alfabetizador deveria ser incentivado a priorizar isso. E ele próprio deveria se dar essa prioridade.

Essa bandeira também deveria ser levantada pelos professores dos anos seguintes. Deveriam exigir que lhes chegassem apenas os alunos já alfabetizados e dominando a matemática básica. Isso deveria ser pré-requisito para ser aprovado; condição sem a qual não haveria evolução para o ano seguinte. Aprende-se história e geografia e ciências e física... quando se sabe ler, escrever e fazer as operações básicas da matemática. Sem isso não há condições de continuar o aprendizado nas outras áreas.

E não adianta colocar a culpa no sistema, no governo ou seja lá em quem for! Os professores deveriam levantar a bandeira e mantê-la levantada, pois o resultado da aprendizagem é resultado do trabalho do professor. Ocorre, muitas vezes, que se o aluno se desenvolve bem e progride ou se a escola tem bom desempenho em todas as avaliações externas, os méritos são computados à direção, às secretaria de educação, ao sistema... Mas se o aluno vai mal a responsabilidade é atribuída ao professor. Portanto, cabe ao professor determinar o ritmo. Ele é o regente da orquestra. A ele cabe o mérito, pois é ele quem faz o trabalho junto ao aluno. A evolução do aluno é mérito do professor... e se houver descompasso, também é resultado do trabalho do professor.

Por essas e por outras é que, se eu fosse prefeito, governador ou presidente determinaria isso: o estudante tem que saber ler, escrever e fazer contas. Eu eliminaria o veneno dos acordos políticos que sepultam o trabalho dos professores e enterram o sistema escolar.

Pagaria melhor os professores e cobraria deles que apresentassem esse resultado. Creio que dessa forma em poucos anos teríamos um país diferente: REALMENTE ALFABETIZADO, podendo fazer bonito naquelas avaliações internacionais que têm nos colocado na lanterninha. Bem atrás de outros países que estão no mesmo nível de desenvolvimento que nós. Mas isso ocorre lá porque lá a educação é levada a sério. Lá a educação é feita por quem entende e não por conveniência política.

Mas isso só se eu fosse alguém com os poderes de fazer isso. Como não tenho esses poderes, faço a denúncia, uso as palavras, esperando que elas produzam efeito.

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO