Resumo

Saúde Sexual Reprodutiva constitui uma prioridade na prestação de cuidados de saúde pelo Governo de Moçambique. Várias iniciativas vem sendo implementadas no País desde o mais alto nível de direcção como a iniciativa Presidencial para a Saúde da Mulher e da Criança, onde todos os segmentos da sociedade moçambicana foram chamados para se envolverem na busca de soluções para responder à problemática da saúde da mulher e da criança no País. Porem, segundo mostram os resultados preliminares do Censo de 2017 tornados públicos pelo INE (Instituto nacional de Estatística), a província de Nampula tem 6.102,867 habitantes em uma área de 81.606km² e os dados relativos ao índice de prevalência de doenças transmissíveis sexualmente e o HIV até no ano de 2017, apontam em 4,6%, factor esse que conduz à necessidade da intensificação na difusão de informações sobre saúde sexual quer por parte dos profissionais da saúde tanto quanto aos da educação em temas transversais ou mesmo palestras como forma também de contribuição na redução das desistências da rapariga na escola Assim, buscar-se-á ao longo do trabalho, analisar os factores que concorrem à frequente desistência da rapariga nas escolas, embora que ainda o Governo e os seus parceiros de cooperação estejam a intensificar campanhas de combate às desistências de raparigas nas mesmas. Ao longo do trabalho, pretende-se defender a hipótese de que a gravidez precoce derivada à fraca difusão da matéria sobre a sexualidade conduz à desistência das raparigas nas escolas. Contudo, o trabalho é fruto de pesquisas bibliográfica e documental e a evidência dos resultados apresentados é consubstanciada por dados resultantes de entrevistas e questionários colectados no decurso do trabalho de campo realizado na Escola Primaria Completa Maria da Luz Guebuza, arredores da cidade de Nampula.

Palavras-Chave: Educação. Juventude. Rapariga. Sexualidade. Saúde sexual.

Introdução

O sexo assim como a sexualidade são temas cada vez mais presentes nas escolas, nos serviços de saúde, nos meios de comunicação social, nas famílias, nos grupos de amigos e até nas instituições religiosas, empresas e diferentes grupos da sociedade.

Como são assuntos ligados à vida, sempre vão estar no ápice do dia, gerando dúvidas, polémicas, debates, discussões e questionamentos que precisam ser tratados de maneira franca, simples e sem constrangimentos, (CORSA/ECOS, 2008 p. 16).

Com isso, poucos jovens recebem preparação adequada para as suas vidas sexuais. Isso os deixa potencialmente vulneráveis à coerção, ao abuso e a exploração, à gravidez e às infecções transmitidas sexualmente (ITS) incluindo o HIV.

Na verdade, falar sobre sexualidade é falar de nossa história, nossas emoções, nossas relações com as outras pessoas, nossos costumes e nossos desejos.

É uma das forma de expressão, comunicação e afecto que se manifesta a todo o momento, seja por meio de um gesto, de um olhar ou de uma acção. É a energia que nos motiva a encontrar o contacto e a intimidade e que se constrói passo a passo, a partir do momento em que nascemos.

A sexualidade é, portanto entendida como sendo uma construção sócio-cultural que sofre influências dos valores e das regras de uma determinada cultura, do tempo e do espaço em que vivemos.

Ora vejamos, se conversarmos, com uma mulher mais velha, de uns 70 ou 80 anos, provavelmente ela nos contará que, quando era jovem, tudo o que se referia a sexo era associado à “coisa feia”, “perigosa” e que uma mulher “direita” só poderia ter relações sexuais depois de casada. Se for um homem dessa mesma idade, ele provavelmente nos contará que sua primeira experiência sexual foi com uma prostituta contratada pelo pai ou por um tio, (CORSA/ECOS, 2008 p. 16).

Hoje graças à ciência e à luta dos movimentos sociais, muita coisa mudou, mas, infelizmente, outras e tantas continuam complicadas. Uma delas é acreditar, por exemplo, que não se deve conversar sobre sexo nas escolas, pois isso poderia estimular adolescentes e jovens a iniciar sua vida sexual precocemente.

Antes de tudo, é preciso entender que a sexualidade não se restringe somente ao acto sexual, pois envolve sentimentos e nos motiva a procurar contacto físico e afectivo. Nesse sentido, a nossa sexualidade é um processo que se iniciou com o nosso nascimento e vai ate a nossa morte.

Apesar de, nos dias de hoje, o tema da sexualidade ser tratado com mais naturalidade, se comparado ao início do século XX, por exemplo, ainda tem muita gente que não só tem a maior dificuldade de falar desse assunto como, também, tem um monte de preconceitos e acredita nas coisas mais estranhas: que masturbação faz crescer pelo na mão; que a menina não engravida na primeira vez que transa; que “tirar fora” na hora de gozar é uma forma de evitar uma gravidez.

Portanto, foi em função dessas considerações que se julgou oportuno avançar com a concepção deste artigo em que se pretende analisar os factores que concorrem à frequente desistência da rapariga nas escolas embora que ainda o Governo moçambicano e os seus parceiros de cooperação estejam a intensificar campanhas de combate às desistências de raparigas nas mesmas.

No que se refere a sua estrutura, as ideias centrais do artigo são apresentadas em três itens principais. Num primeiro momento, debruça-se acerca do que é educação sobre sexualidade e por que ela é importante. Num segundo momento, fez-se a apresentação daquilo que são os objectivos da educação sobre a sexualidade. No qual identifica-se a responsabilidade do professor na sala de aulas de agir, em parceria com os pais e a comunidade no sentido de garantir a protecção e o bem-estar das crianças e dos jovens.    

Por último, buscou-se explicar aquilo que constitui os círculos de sexualidade. Essa explicação compõe uma visão sobre as diferentes formas que a nossa sexualidade afecta o nosso comportamento de maneiras diferentes.

 

Aspectos metodológicos

Dada a natureza polémica que envolve a matéria sobre a sexualidade, optou-se em desenvolver esta abordagem não somente numa forma de análise e interpretação do objecto de pesquisa de forma pessoal mas também baseando-se nas diferentes concepções ideológicas do mundo, dado que a educação em saúde visa através do aprendizado, ao implemento da responsabilidade do indivíduo sobre sua saúde e a de sua comunidade.

Desse modo, a reflexão teórica desenvolvida que a sexualidade considera um temas cada vez mais presente nas escolas, nos serviços de saúde, nos meios de comunicação social, nas famílias, nos grupos de amigos e até nas instituições religiosas, empresas e diferentes grupos da sociedade permitiu compreender que são assuntos gerando dúvidas, debates, discussões e questionamentos que por sinal, precisam ser tratados de maneira franca, simples e sem constrangimentos algum.

Contudo, para o entendimento dessa questão, foram efectuadas pesquisas bibliográfica e documental com relevância para o tema e a área de estudo. A evidência dos resultados apresentados no trabalho, foram, de igual modo, consolidados por dados resultantes de entrevistas e questionários colectados numa amostra de 24 estudantes de 6ª e 7ª classe, dentre os quais 16 do sexo feminino e 8 masculino no decurso do trabalho de campo realizado na Escola Primaria Completa Maria da Luz Guebuza.