Saudades de Itamar

Por josé maria couto moreira | 03/03/2016 | Crônicas

Saudades de Itamar Franco

José Maria Couto Moreira*

Tempos conturbados nos induz a reflexões que busquem algo balsâmico que possa elevar nosso espírito.
O Brasil encontra-se assim, queiramos um rápido capítulo de sua vida política e social, como se a bonança esteja pronta a interromper a tempestade. Para todas as circunstâncias que ferem nossas convicções sempre haverá, é a história que ensina, um acontecimento que se desdobrará, pode ser, em bênçãos animadoras. Em fatos recentes de nossa trajetória, a surpreendente morte de Tancredo, então depositário de todas as esperanças, rendeu ao país a Constituição de 88, que dissipou uma expectativa dolorosa e instalou a governabilidade com a efetivação do Estado de Direito Democrático, e fixou, com régua e compasso, as garantias individuais e os direitos sociais difusos, até então um sonho romântico de patriotas e engenheiros de nosso futuro.
O período em que Collor chefiou a Nação, uma torrente de denúncias e de fatos alarmantes quanto à moralidade pública, desaguou em seu impedimento de ocupar a suprema magistratura, e fê-lo dela apear. Em ambiente de perplexidade, incerteza e espanto, o quadro constitucional se recompôs com a posse de Itamar Franco.
O novo mandatário - é memória de ontem - assumiu seus deveres em hora visivelmente difícil, e impôs no planalto o que se sabia como o seu cadinho, isto é, calcinou todas as mordomias e requintes até então presentes na corte (de imediato determinou a alienação do charmoso automóvel Lincoln que servia o presidente), e iniciou sua magistratura preso à sua reconhecida austeridade.
O estilo Itamar, de teor espartano, que exalava forte sensibilidade social, ombreou-se com o desejo do povo, o que lhe valeu, ao final do mandato, uma aceitação popular próxima da unanimidade.
Infelizmente, o nosso estoque de representantes da natureza e feição do sempre lembrado Itamar está escasso. A ele cabe a afirmação de Salazar sobre si: “Devo à Providência a graça de ser pobre”. Conhecer a doutrina de Itamar, ainda que em pronunciamentos esparsos, revela o político, seus anseios e suas preocupações de como atender aos brasileiros, cada vez mais carentes de serviços públicos essenciais, ele que não fora candidato a presidente mas sempre trouxe consigo a inquietação e o desassossego para atingir as necessidades da classe menos favorecida. E, em todas as posições que ocupou, desempenhou-as como apostolado, consagrando-se como servo de um povo pobre e desenganado.
Aliado intransigente da democracia e da austeridade, Itamar governou com sobriedade, e dedicou seu período na presidência em atingir exigências econômicas e sociais que minorassem os efeitos daquela sórdida inflação na vida dos brasileiros, operários e empresários. Itamar exerceu forte estímulo em todas as áreas, e o corolário de sua cruzada foi o vitorioso Plano Real, enfrentada corajosamente, inclusive contra o PT, que se opunha a uma iniciativa patriótica de retirar as pedras de nosso caminho para rumar a seu futuro.
*Advogado

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