Cansado de ficar em casa resolvo dar uma caminhada pela minha rua, cujo nome é em homenagem ao escritor negro Lima Barreto, autor do inesquecível conto “O homem que sabia javanês”. É um sábado, diferentemente de outros tempos, ninguém na rua, a não ser o vai e vem de entregadores de encomendas adquiridas pela internet e correio. Vou até o final, pois a rua é curta e quando retorno, encontro um vizinho devidamente mascarado. Precisei tirar rapidamente a minha para que ele me reconhecesse.

Falamos de amenidades, como as filhas dele trabalhando em sua casa e ele proibido de fazer qualquer tipo de barulho como ligar a furadeira ou bater algo com o martelo, problema que também compartilho.  Elas precisam de silêncio e eu estou precisando de fazer um pouco de barulho para me sentir um pouco vivo. Desconsolado ele me fala sobre o seu buffet infantil que precisou fechar, pois as festas acabaram. Sem festas, sem a alegria das crianças, dispensou todos os funcionários e a si mesmo.  O prédio está às moscas e até a cor rosada da fachada desbotou. Talvez tenha sido de tristeza, brinquei, mas ele não achou graça.

Ele está com vários vasos de plantas que trouxe do buffet na calçada. Não podia deixá-las lá abandonadas, sem água, sem uma presença humana. As plantas estavam um pouco caídas, sem viço. Vamos ver agora com rega diária e nosso carinho como elas vão ficar, disse ele. Fiquei cá pensando sobre as plantas. São seres vivos como todos os seres da Terra. Minha irmã conversava com as plantas todos os dias, dizendo que elas gostam da nossa boa companhia. Quando as podava, fazia antes um carinho e explicava a razão da poda. É como cortar as unhas ou os cabelos para nós, explicou ela. E de fato, as suas plantas eram sempre bonitas e viçosas. Talvez ela tenha mesmo razão, pois as plantas nos entregam tantas coisas boas e belas como flores, frutos e pássaros que as usam para fazer seus ninhos ou se alimentarem. Tudo isso sem contar o verde que os poetas há séculos cantam, como o bardo espanhol, Garcia Lorca: “Verde que te quiero verde/ Verde viento, verde rama...” Ou a dor do poeta agoniado, chorando: “Eu não sei que pau eu queimo, na fogueira. Cada pau tem seu destino,”

Imaginem o sofrimento dela com os incêndios no Pantanal mato-grossense e na Amazônia? Os ambientalistas são pessoas com muita sensibilidade e sabem o sofrimento das plantas quando ocorre uma queimada ou um desmatamento. Isso sem falar nos bichinhos que fazem parte do ecossistema, que são torrados sem piedade.

Pensando nessas coisas tristes volto para minha casa e lá chegando, cumprimento todas as minhas plantas, pois elas merecem pela companhia neste período tão complicado.  Evoé pitangueiras, jabuticabeira, ipê, amoreira, manacá, quaresmeira, cafeeiro, limoeiro, coqueiro e todas as outras. Eu vos saúdo humildemente como um invasor do seu planeta, pois são vocês que verdadeiramente lhe dão vida.