Saramago e o cinema

        Contar histórias faz parte da vida, sabemos que os diversos tipos de narrativa apresentam certos elementos comuns, no entanto a diferença está no gênero em que a narrativa se insere e a linguagem.

        Comparando o romance de ensaio sobre a cegueira de José Saramago e o filme produzido por Fernando Meireles, chega-se a entender que a linguagem do cinema e da literatura distingue-se pela substância da expressão. Na literária, a estética da escrita concretiza o discurso do sujeito, surge uma preocupação com o texto apresentado por um narrador em um determinado tempo e espaço e o texto é trabalhado pelo autor com recursos estruturais linguisticos .Já no cinematografia ,a imagem é a base para a construção do sentido e não a escrita .A expressão do personagem fica no lugar do texto,através dos recursos de câmera ,iluminação,som e cenário .

         Por meio de vários recursos linguisticos (pictórica, oral, gestual ou escrita) presentes no ato de narrar, as trocas rituais da sociedade que se inscrevem em diferentes suportes, tanto traduzir o verídico quanto para instalar a ficção,a narrativa apresenta-se em todos os tempos e lugares , visto que ela começa na própria humanidade e consistem em um discurso de acontecimentos de interesse humano. A linguagem cinematográfica e a literária, distinguem-se pela substancia de expressão, a cinematográfica centra-se na imagem agregada a outros códigos do aparato visual, enquanto que a substância da linguagem literária se radica no código verbal. Na narrativa encontram-se especificidades nas linguagens embora tenham em comum a referência a fatos e a acontecimentos ordenados no tempo.

         Enfatizando o suporte verbal, a linguagem literária é considerada a arte que imita a essência real e tem para a criação a linguagem verbal. Essa linguagem assume características especiais, como, palavras livres para assumir novos significados e representações, presença de figuras de linguagem, sintaxe característica e tipo textual descritivo. A linguagem utilizada no cinema é especifica, o sentido de transformação é visto na narrativa cinematográfica como uma linguagem predominantemente visual e sonora distante da linguagem escrita verbal dos textos escritos.

        Os signos linguisticos atuam na narrativa como função de esclarecer o mundo visual pelo recurso e a percepção afetiva do espectador está relacionada com os ícones , com as músicas ,com as imagens e com os ruídos que mobilizam os sentidos visual e auditivo.

       A leitura cinematográfica de ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, realizada pelo filme de Fernando Meireles, se aproxima da obra original. No entanto, a valorização de ambientes faz do filme uma outra obra ,uma nova criação. A caracterização vem da utilização de signos e figuras que tentam reproduzir a realidade através de uma linguagem literária estritamente verbal do romance. A linguagem visual e sonora dá dinamicidade ao texto, já no texto escrito, as sensações não são mostradas visualmente, mas organizadas de acordo com recursos da língua e cabe ao leitor apenas decodificar o texto para construir imagens visuais, táteis e auditivas a partir da linguagem verbal.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. 6ª Ed.São Paulo, SP: HUCITEC Editora, 2010.