SANGUE DE POBRE
Nazaré, 07-12-1968

Vou andando e vejo sangue no passeio.
Sangue de um pobre desesperado,
Que morreu desamparado,
Sem ajuda de ninguém
E sem publicidade.

Deixaram-no morrer.
Depois que ele morreu
O povo disse:
-Ele era bom...
Mas ninguém o ajudou a morrer.
Houve a indiferença.

Passou-se algum tempo:
-Isso não aconteceu...
Ninguém se lembra...
O povo já até esqueceu...

Morreu um burguês,
Passou-se cem anos,
O povo diz:
-Ele não deveria morrer...
-Deveria virar nome de rua...
Ou mesmo cidade
Passam-se as gerações
E nem a historia o esquece,
Porque ele morreu confortavelmente
Na mão de uma dúzia de médicos.