Samurais e Cavaleiros Medievais: Vínculos e Sanções

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 04/08/2025 | História

A História comparada é sempre um bom modo de nos situarmos no tempo e no espaço, em relação à sequência cronológica dos acontecimentos. E isso vale, também, ao levarmos em conta os valores e códigos dos Samurais e dos Cavaleiros Medievais. Cabe afirmar que os integrantes de ambas as instituições coexistiram, temporal mas não territorialmente, na maior parte da Baixa Idade Média.

Os Samurais surgiram como cobradores de tributos do Império Japonês, por volta de 930 d. C. (poucas décadas, portanto, antes do início da Baixa Idade Média na Europa, que se dá em torno do ano 1000, com a consolidação do seu Feudalismo). Bem depois de sua aparição, e durante o Shogunato Kamakura, muitos foram designados a proteger o Shogun, em cuja pessoa se constituía o ditador militar de facto, num país então não unificado, e cujo Imperador reinava, mas não governavaDe idêntica forma que os protetores dos Shoguns, outros se achavam vinculados aos senhores feudais japoneses, que, devido aos escassos meios de comunicação da época, sobre eles tinham mais poderes que os Shoguns (e, por consequência, os Imperadores, politica e juridicamente silenciados).

Pois bem, o Código de Honra dos Samurais era o “Bushido”, cujos textos, e, por conseguinte, interpretação, variava de feudo a feudo. Independentemente disso, sempre havia implícitos mandamentos budistas, xintoístas ou confucionistas nas suas entrelinhas, a critério dos senhores feudais, aos quais soa Samurais sempre deviam fidelidade absoluta, mesmo que tal se consubstanciasse em atos de sabotagem interfeudais nas frequentes guerras surgidas (na Europa, o início desta relação, que dava mais valor aos laços de fidedignidade que de sangue, era marcada pelo fato de o Cavaleiro, que se tornaria o recebedor do pedaço de terra concedido pelo senhor feudal, e, portanto, seu vassalo, prestar-lhe a Homenagem, consistente no abaixar de sua cabeça, junção de mãos em oração, de modo a pedir forças para o encargo, no Juramento de Fidelidade, por meio do qual se consagrava religiosamente suas armas e habilidades, e, por fim, no recebimento da Investidura da terra, com um beijo no rosto, sendo as normas morais sempre regidas por mandamentos da Igreja Católica Romana, no continente europeu difundidas pelos “arautos”, ou, simplesmente, mensageiros, e cuja fiscalização final cabia ao senhor feudal, responsável pelas questões de justiça no feudo).

A fim de cumprir seus deveres, os Samurais aprimoravam sua perspicácia por meio da meditação, ao passo que os cavaleiros medievais (que, quando não vassalos em si, seriam quase sempre escolhidos dentre os filhos dos vassalos para o exercício de funções sagradas, como o resgate do seu senhor se aprisionado no castelo de outro), sempre praticavam pequenas lutas interfeudais, sem que houvesse uma real ameaça política, como forma de aperfeiçoamento em pequenas guerras de baixíssima letalidade, bem como em torneios e duelos, para o delírio de centenas de todas as classes, além de assim, também, se manter a estabilidade do Feudalismo, por meio da imposição do medo coletivo.

Se os Samurais se mostrassem incapazes de cumprir seus deveres, em especial nos casos de violação do “Bushido”, por si ou por outrem, lhes era sugerido o “Harakiri”, ou seja, o suicídio decorrente da perda da honra, com um corte sobre o ventre, sangrando até a morte. Não havia autoridade política ou religiosa capacitada a evitar esta sanção (os Cavaleiros Medievais que atentassem contra os deveres de fidedignidade em relação aos seus suseranos estariam sujeitos às sanções destes, vez que administradores da Justiça nos feudos, ou diretamente da Igreja, que dominava todo o território da Cristandade Medieval, de modo que era possível haver diversas penas, como a excomunhão ou a tortura, especialmente após a instituição da Inquisição, em 1231, ou, também, a redenção pessoal com o voluntarismo da luta nas Cruzadas).

Com o passar dos séculos, as funções dos Samurais caíram em desuso. Passaram-se os Shogunatos Ashikaga e Tokugawa, este último reposicionador de Edo (Tóquio) como capital, e unificador do Império, numa nova Era de esplendor dos costumes e das artes (e, por fim, a Baixa Idade Média terminou, na Europa, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453).