Rua do Oriente!

“Se a Rua do Oriente Falasse

 

“Se a Rua do Oriente Falasse.

 

- Ela me diria:

 

Vi-te crescer como um intinerante Rouxinol!

E te avistei cantando, a voar pelos ares de minha vila.

 

- Logo Retruquei!

 

Foi daí onde nasci,

Cresci alimentado por broas

Com as deliciosas Bolachas fogosas e Marai-maluca

Na Bodega do Sr. Roseno.

As palmas feitas na fornalha do Chico Palmeira.

A chegadinha do andarilho ao som do triângulo,

Sentindo o adocicado da puxa vendida nas calçadas

Encobertas com o melaço do açúcar.

 

Amenizando o calor da Rua do Oriente!

 

Deliciei-me com o dim-dim caseiro nas tardes de verão,

A tapioca com coco ralado num prato e bandeja de alguidar.

O refresco de peroba na geladeira do seu Chico Cabeça-torta.

Na bacia, o tijolinho de coco do Raimundo boca-mole

Tudo isso comprado com alguns trocados de vinténs.

 

Lembro-me de todas as peripécias pregadas por mim.

Já faz algum Tempo!

 

Milho verde e cozido ao redor da Pracinha Maria Tomásia.

No Carrinho, a venda do algodão doce rodando feito pião.

O bate-bola com Tadeu, e Rouxinho no Clube Country Clube.

O Futebol-de-salão na casa do Sr. Manés com Gilson e Fernando.  

A brincadeira na chuva fazendo a barragem,

No chão pisado jogando o bila-bojo com (bola-de-gude).

O cortar de cabelo com o Sr. João Paiva e  Sr.Chico Bento.

Pela manhã tomando leite mungido do Seu Lero.

Pegando sanháçu e papa-arroz num bozó na cerca da Cachorra Magra.

As limpezas nas residências feitas por Chico-Capricho.

No inverno, o retelhar das casas tirando goteiras por Seu Zé-Bode. 

O fumo para minha avó comprado na bodega do Sr. Gerardo Malandro.

Tudo isso comprado com algumas moedinhas de cruzeiro.

 

Ao cair da tarde contando “Trinta e Um” no poste

Tirando o Cai no Poço com as filhas do Seu Magela

E as paqueras da outra rua.

No meio-fio da calçada do seu Toim Capoteiro

Correndo e brincando de pega-pega na Rua do Celeiro

Derrubando castanhola defronte

A residência do Sr. Neutônio e degustando com sal.

Admirado pela perfeição da rede de pescar feita na garagem

De portão azul do Sr. Zé do Carmo.

As bombas rasga-lata e traques do Sr. Osmar da Pernambucana.

As bijuterias enterradas na calçada o Seu Zacarias Sena

O fogaréu das fogueiras de Santo Antônio, São João São Pedro.

 

Nas casas da Rua do Oriente!

 

As cocadas da Maria Lulu,

Das ervas e plantas medicinais no quintal de Dona Úrsula

Com a Cidreira, Malva, capim-santo, romã, mastruz e boldo.

Os curiosos na Ponte Grande olhando as cheias do Rio Acaraú.

O sentar nas cadeira de balança batendo papo com os amigos e compadres. 

 

Nas calçadas da Rua do Oriente!

 

Presenciei o vai e vem das lavandeiras

Com suas trouxas de roupas na cabeça

No rosto a alegria de mais um dia de luta.

O grito de goool do Fortaleza

Transmitido pelo rádio de pilha de Sr. Antônio Leão.

O barulho do chocalho e o cheiro do leite

Das vacas paridas do Neusion Vasconcelos,

Vindo a tardinha lá da Corte-Oito, da Vargem-Grande e Marrecas.

 

Vi a entrega do leite nas portas das casas

Levado por jumentos com quatro latões,

Dependurado na cangalha com canecos d'água abastecendo  jarras e potes das casas.

Me encontrei na minha rua empinando pipa (papagaio)

Feito por mim o grude, com papel celofane e palito de coqueiro,

Tiradas na surdina do quintal da casa do Sr. Benedito Frota.

A venda de carvão na lata de querosene,

Para alimentar o fogareiro com a panela de feijão com mocotó.

 

Acompanhei a travessia da Procissão de Ramos,

Percorrendo a Rua do Oriente com a multidão cantando

As novenas de São Francisco nas residências

E o terço das irmãs do Atibones Ximenes tirado nas casas

Com a Imagem de Nossa Senhora da Conceição.

 

Ah! Minha rua. Rua de Origem! Rua do Oriente!

 

Da outrora Sobral na reminiscência da Fazenda Caiçara

De Vila formosa tornou-se uma opulenta Metrópole

Do gado com a charqueada.

O sertanejo ao passar na rua com seu gadinho

Para escapar da seca, levando-o para Serra da Meruoca.

E dos vazanteiros carregando nas costas o seu sustento,

Um surrão de feijão atraído pelo Acaraú.

 

Minha rua! Rua Bela! Rua do Oriente! Meu Passado! Meu Presente!

 

TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO

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Wilamy Vasconcelos é professor, poeta, historiador, memorialista. Cronista e escritor. Em 2020 publicou o Livro Luzia-Homem em cordel e Prosa. Uma homenagem dos 170 anos (1850-2020) ao filho e escritor sobralense Domingos Olympio,  autor do romance Luzia-Homem. Membro da Academia de Letras do Município do Ceará.  Publicou o livro Einstein e Sobral – A cidade Luz em 2019, em alusão ao Centenário da Relatividade (1919-2019). É Autor do livro os “Estados Unidos de Sobral publicado em 2018. Lançou um livro poético “Tempo de Sol” e Sonhos do Amanhã  na Primeira FliNau no Náutico Atlético cearense em Fortaleza.  Uma de suas paixões é escrever literatura de Cordel. Na Literatura Popular escreveu o “Barão de Sobral”. O “Candidato e o Eleitor” . Na crônica lançou o  “Diário de um Professor” e  na Poesia é autor do Poema “Doce Loucura” e a “Poesia é um Saco”. Colaborador de artigos jurídicos e  artigos de  opinião na web.