Nosso estado encontra-se à deriva, sem governo, sem soluções rápidas e plausíveis e, por consequência, há um recrudescimento da violência, sobremodo na cidade do Rio e nas que compõem a região metropolitana, inclusive a Baixada Fluminense.

Claro que altos índices de violência influenciam, direta e perversamente, os preços de produtos relativos a itens de segurança pessoal e patrimonial, arrastando, consigo, nesse redemoinho de preços elevados, as apólices de seguros, em particular, as de seguros automotivos (carros, caminhões e motos).

Tanto assim que o jornal O Globo, em sua edição de n° 30.496, em 03.02.17, trouxe interessante reportagem, na seção Rio, com o seguinte título:  A CONTA DA VIOLÊNCIA – O IMPACTO NOS SEGUROS.

Na referida reportagem nos é demonstrada, com quantidades de ocorrências e números percentuais inquestionáveis, a razão do aumento no valor das apólices de seguros automotivos, de 20% em relação ao ano anterior.1

Embora a reportagem mencione, apenas e tão somente bairros, o principal instrumento utilizado pelas seguradoras para precificar seguros automotivos é o CEP do logradouro, tanto de pernoite quanto o de maior circulação. Outros elementos também influenciam no estabelecimento de maior ou menor preço (prêmio, na designação técnica) como, por exemplo, o tão incompreendido, porém absolutamente indispensável, questionário de perfil (idade, tempo de habilitação, uso do veículo, etc.).

O CEP influencia tanto no preço (prêmio) do citado seguro que, por exemplo, em Copacabana, dependendo do logradouro, pode haver variação de até 18% entre um CEP e outro dentro do referido bairro.

Não bastasse o aumento da quantidade de roubo e furto, mencionado na reportagem do jornal O Globo, acima referida, o informativo virtual diário do CQCS – Centro de Qualificação dos Corretores de Seguro, matutino dos mais importantes e acreditados do setor de seguros, apresentou-nos importante notícia com o título SEGURO DE AUTOMÓVEIS VÃO AUMENTAR DEVIDO A CRISE NA POLÍCIA CIVIL.2

Segundo tal notícia, em razão da interrupção dos serviços de tecnologia da informação da Polícia Civil, ocorrida a partir da data de 01.04.17, motivada pela crise econômica na qual está mergulhado o estado, teríamos elevação no preço (prêmios) das apólices, da ordem de 20%, novamente.

Assim, confrontada as duas notícias, chegaríamos a incríveis 40% de aumento o que, inexoravelmente, inviabilizaria o mercado de seguros.

Na reportagem do jornal O Globo, supracitada, o percentual de elevação (20%) é creditado às considerações da FenSeg – Federação Nacional de Seguros Gerais3 e, no matutino diário do CQCS, tal percentual provém de estudos do SINSEG RJ/ES – Sindicato das Seguradoras dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo4.

É importante frisar que o aumento virá de qualquer forma, aliás, já está presente nos sistemas de cálculos da seguradoras, porém não dizem respeito, somente, aos seguros novos mas, também, às renovações que ocorrerão ao longo deste ano.

Tal cenário apresenta, ainda, mais um efeito perverso que influi diretamente na elevação do valor (prêmio) a ser pago: os veículos com elevados índices de roubo e/ou furto.

De acordo com a SUSEP – Superintendência de Seguros Privados5, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda e responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro, nos últimos 12 meses (2016), somente na região metropolitana do Rio de Janeiro, foram estes os modelos preferidos pelos ladrões:

POSIÇÃO NO RANKING

MODELOS

UNIDADES SEGURADAS

INDICE DE ROUBO/FURTO

(%)

QUANTIDADE DE VEÍCULOS ROUBADOS/FURTADOS

 

1
Fiat Pálio
21.413
1,14
244
2
VW Gol
20.915
1,30
272
3
Chevrolet Celta
17.533
0,65
114
4
Chevrolet Corsa
17.095
0,70
120
5
VW Fox
13.345
0,82
109
6
Fiat Uno (novo)
12.648
1,17
148
7
Honda Fit
12.381
0,51
63
8
Renault Sandero (todos)
12.083
0,55
66
9
Fiat Siena (todos)
11.430
1,01
115
10
Honda Civic
10.358
1,02
106
 

Todavia, os veículos se alternam nos sinistros de roubo ou furto pelas mais variadas razões sendo ora por peças únicas (Renault e Fiat), ora para fuga rápida nos bairros (VW Fox) ou para fugas longas (Honda Fit) ou, ainda, para desmanche e venda de peças no mercado negro (Chevrolet Corsa e Honda Civic), etc.

Assim, podemos observar no quadro a seguir, com informações oficiais atualizadas pela SUSEP – Superintendência de Seguros Privados, os sinistros de roubo ou furto ocorridos nos dois primeiros meses deste ano – janeiro e fevereiro - considerada, novamente, a região metropolitana do Rio:

POSIÇÃO NO RANKING

MODELOSa
UNIDADES SEGURADAS
INDICE DE ROUBO/FURTO
(%)
QUANTIDADE DE VEÍCULOS ROUBADOS/FURTADOS
 
1
Hyundai HB20
10.096
3,35
338
2
Peugeot 208
1.764
2,72
48
3
Ford Fusion
1.030
2,52
26
4
VW Crossfox
1.773
2,42
43
5
Fiat Siena 1.0
7.756
2,38
185
6
Chevrolet Ônix
5.660
2,30
130
7
JACb
1.993
2,28
45
8
Chevrolet Cruze
2.459
2,24
55
9
Ford Eco Sport
7.995
2,20
176
10
Fiat Siena 1.4/1.6
5.066
2,15
109
 

a – Considerados apenas marcas com mais de 500 apólices na região da amostra.

b – Considerados todos os modelos da marca.

Comparando-se os dois quadros demonstrativos, verificamos que no ano de 2016, a média do IVR – Índice de Veículos Roubados ou Furtados foi de 9,10% ao passo que, somente no primeiro bimestre de 2017, tal índice atingiu 2,53% ou seja, quase um terço (27,80%) de todo o ano anterior projetando, para o melhor cenário imaginável, mantidas as atuais condições em que se encontra nosso estado, que o índice de 2016 se repita no que, infelizmente, não devemos apostar.

Ante a todos esses números, o que é possível fazer para que um dos mais estimados patrimônios dos brasileiros e, em particular, dos cariocas e fluminenses, possa ser protegido?

Vejamos algumas opções possíveis a serem observadas, com as respectivas vantagens e desvantagens de cada uma delas.

1 – COBERTURA COMPREENSIVA (COLISÃO/INCÊNDIO/ROUBO)

Converse francamente com seu Corretor de Seguros, pondo-o a par de sua realidade financeira e busque contratar ou renovar sua apólice dentro de limites possíveis porém condizentes com os riscos envolvidos, sobretudo na ocorrência de possíveis sinistros.

Isto porque, a tendência do segurado ou futuro segurado é determinar pequenos valores para coberturas realmente importantes, tais como: APP – Acidente Pessoal por Passageiro (Morte e Invalidez), RCF-V/DM – Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos/Danos Materiais, RCF-V/DC – Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos/Danos Corporais, etc.

Isto porque, ao contratar baixos valores de coberturas, o segurado possivelmente incorrerá em despesas financeiras complementares, na ocorrência de sinistros, pois aqueles valores tenderão a não serem suficientes.

Por outro lado, ao contratar as coberturas adicionais, principalmente aquelas vinculadas à Assistência 24 Horas, busque junto com seu Corretor de Seguros, aquelas que realmente terão importância a fim de evitar gastos desnecessários com coberturas adicionais que, na maioria das vezes, sequer serão utilizadas.

2 – COBERTURA PARCIAL

Percebendo a crise financeira que o país atravessa, algumas seguradoras inovaram em seus produtos e criaram seguros automotivos com coberturas específicas. Assim, hoje é possível contratar seguro auto com cobertura somente para roubo e/ou furto (sem franquia); para colisão (terceiros); etc.

Claro que os valores (prêmios) a serem pagos por tais apólices serão, evidentemente, mais acessíveis do que os das apólices compreensivas e todas, também, possuem coberturas para Assistência 24 Horas.

O seu Corretor de Seguros poderá indicar qual das modalidades de apólices melhor se adequa ao seu caso, objetivando equalizar o binômio custo x benefícios.

3 – SEGURO AUTO POPULAR

Apólices do tipo compreensiva (colisão/incêndio/roubo), destinadas a determinados modelos de automóveis, sobretudo os chamados carros populares, com custo mais acessível.

O custo mais acessível da apólice deve-se, sobretudo, ao fato de que as seguradoras, em caso de sinistro parcial (aqueles que permitem reparos do veículo), possam utilizar-se de peças não originais – peças "genéricas" ou adquiridas em ferros-velhos legalmente certificados – propiciando que o conserto fique mais em conta.

Além do número restrito de modelos que se adequam a tais apólices, entendo que a maior resistência a tal contratação diz respeito aos segurados que possuam carros 0Km ou adquiridos até um ano, também 0Km, pois estes resistem ao fato de ser utilizada peça genérica ou usada (recondicionada) em seu veículo novo.

Todavia, seu Corretor de Seguros poderá apresentar detalhadamente tal produto e, juntos, escolherem aquela apólice que melhor atenderá às suas necessidades.

4 – PROTEÇÃO AUTOMOTIVA

Muitos proprietários, objetivando um preço (prêmio) mais em conta, caem no verdadeiro "conto da sereia" aos buscarem tais associações, totalmente ilegais e sem respaldo financeiro para arcar com suas responsabilidades em caso de sinistros.

Basta consultar site como "Reclame Aqui" para que se tenha uma noção do mal que tais associações causam aos seus "segurados", na realidade, associados.

A SUSEP e a Polícia Federal, constante e consistentemente, vêm realizando operações contra tais associações.

Oportunamente publicarei artigo sobre tais associações de proteção automotiva, verdadeiro engodo securitário.

4 – AUTO SEGURO

Por decisão própria, alguns proprietários optam por destinar parte de sua renda mensal para criação de uma poupança a ser utilizada na hipótese ocorrência de algum sinistro.

Além de ser uma atitude que requer uma postura financeira extremamente severa, poderá acontecer que tal poupança não seja suficiente para o total de reparos necessários, principalmente se envolver terceiros.

Por fim, considerando que a colisão, em tese, pode ser evitada pois muito depende do modo como condutor procede no trânsito (salvo o caso de ser atingido por terceiros porém, nesta hipótese, os custos a eles pertencerão) e que o incêndio, de idêntico modo, depende do proprietário, já que está diretamente ligado à boa manutenção do veículo, temos visto crescer no mercado o número de apólices que cobrem o maior e totalmente inevitável risco ao qual estamos todos expostos, sem ingerência alguma, qual seja, o roubo ou furto.

Qualquer que seja a opção a ser escolhida, procurem sempre um Corretor de Seguros para assessorar o processo de escolha e contratação de um seguro que realmente lhe proporcione tranquilidade.

 

1 Dados fornecidos pelo ISP RJ – Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (www.isp.rj.gov.br).

2 https://www.cqcs.com.br/noticia/seguros-de-automoveis-vao-aumentar-devido-crise-na-policia-civil/, consulta em 04.04.17.

3 www.cnseg.org.br/fenseg

4 www.sindicatodasseguradorasrj.org.br

5 www.susep.gov.br