RIO 2016: TEREMOS ALGUM MOTIVO DE ORGULHO?

 

NELSON DE MOURA JUNIOR

A grande maioria das pessoas esquece a festa de gastos que foi o Pan-Americano do Rio de Janeiro em 2007. Se o desempenho esportivo foi superior a 2003 (54 medalhas em 2007 e 29 medalhas em 2003) quase o dobro, as despesas multiplicaram-se nada menos que nove vezes. O valor inicialmente orçado era de R$ 390 milhões, mas de acordo com os números do TCU (Tribunal de Contas da União) o gasto final chegou em R$ 3,58 bilhões.

Foram abertos 35 processos para apurar as irregularidades que vão de superfaturamento em serviços de hotelaria, montagem da infra-estrutura da Vila Pan-Americana, superfaturamento de materiais e serviços contratados a pagamentos feitos em dobro ou contratos modificados sem a apresentação de justificativas, e como sempre acontece, ninguém foi e nem será punido.

Como os Jogos Olímpicos são um evento de uma magnitude muito maior, se o Brasil seguir o mesmo rumo, os R$ 25 bilhões previstos transformar-se-ão em R$ 225 bilhões, uma ótima oportunidade para “os mesmos” engordarem suas contas pessoais e a população pagar a conta novamente.

Cedendo às pressões dos Estados e municípios o governo federal não vai excluir da lista de prioridades da Copa do Mundo de 2014 as obras de mobilidade urbana que não foram licitadas até dezembro de 2012. Antes, o governo dizia que, “se esse prazo não fosse cumprido, o empreendimento seria excluído da matriz de responsabilidades". Caso não houvesse a mudança, muitos dos empreendimentos poderiam ser excluídos da lista de prioridades, colocando em risco um dos principais legados do Mundial e também dos jogos olímpicos.

O Brasil almeja ficar entre os 10 primeiros colocados no quadro de medalhas. Vamos analisar alguns números e ver se isso será viável. Até hoje a melhor colocação do Brasil foi em 1920 nos jogos da Antuérpia (Bélgica) conquistando 15º lugar, o segundo melhor desempenho ocorreu somenteem Atenas (Grécia) 2004 quando o Brasil terminou a competição no 16º lugar. Nas 27 edições dos jogos olímpicos em apenas quatro edições o país sede não figurou entre os 10 melhores, em 1948 Londres sediou os jogos e a Grã-Bretanha ficou em 12º lugar, 1968 o México ficou na 15ª colocação, em 1976 o Canadá ficou em 27º e em 2004 nos jogos de Atenas a Grécia terminou a competição em 15º lugar. Nas outras 23 edições os países sede foram, no mínimo, 8º colocados e em 9 ocasiões foram vencedores.

Em Londres 2012 o Brasil ficou 22º lugar e em 2008 23º, atualmente nosso país ocupa a 37ª posição no ranking geral do Comitê Olímpico Internacional com 23 medalhas de ouro, 30 de prata, 55 de bronze, totalizando 108 medalhas no geral. Caso a tendência das últimas seis edições dos jogos Olímpicos seja mantida (Barcelona 92 / Atlanta 96 / Sidney 2000 / Atenas 2004 / Pequim 2008 / Londres 2012) para o Brasil ficar entre os 10 primeiros nos jogos do Rio de Janeiro deverá conquistar pelo menos 27 medalhas, sendo pelo menos 8 de ouro.

ANO

CIDADE / PAÍS

VENCEDOR

POSIÇÃO PAIS SEDE

COLOCAÇÃO DO BRASIL

1896

Atenas / Grécia

USA

Não Participou

1900

Paris / França

França

Não Participou

1904

Saint Louis / USA

USA

Não Participou

1908

Londres / GB

GB

Não Participou

1912

Estocolmo / Suécia

USA

Não Participou

1920

Antuérpia / Bélgica

USA

15º

1924

Paris / França

USA

Sem Classificação

1928

Amsterdã / Holanda

USA

Não Participou

1932

Los Angeles / USA

USA

Sem Classificação

1936

Berlim / Alemanha

Alemanha

Sem Classificação

1948

Londres / GB

USA

12º

34º

1952

Helsinque / Finlândia

USA

25º

1956

Melbourne / Austrália

URSS

25º

1960

Roma / Itália

URSS

40º

1964

Tóquio / Japão

USA

39º

1968

México / México

USA

15º

35º

1972

Munique / Alemanha

URSS

41º

1976

Montreal / Canadá

URSS

27º

41º

1980

Moscou / URSS

URSS

18º

1984

Los Angeles / USA

USA

19º

1988

Seul / Coréia

URSS

19º

1992

Barcelona / Espanha

EUN

25º

1996

Atlanta / USA

USA

25º

2000

Sidney / Austrália

USA

52º

2004

Atenas / Grécia

USA

15º

16º

2008

Pequim / China

China

23º

2012

Londres / GB

USA

22º

Agora vamos fazer a projeção de quais esportes poderão trazer medalhas de ouro. Apesar de ser uma modalidade relativamente nos jogos, o vôlei já proporcionou 20 medalhas (6 de ouro, 9 de prata e 5 de bronze), seguido da vela com 17 medalhas (6 ouro, 3 prata e 8 bronze), além deles o Brasil já conquistou ouro no atletismo, judô, natação, tiro, hipismo e ginástica artística.

           

Na natação, a única possibilidade real de medalha de ouro ficará com Cesar Cielo que em agosto de 2013, no campeonato mundial de natação realizado na cidade de Barcelona, sagrou-se tri-campeão mundial na prova dos50 metroslivres, além de conquistar o ouro nos50 metrosborboleta, porém essa prova não faz parte do calendário olímpico. A única questão é como estará o nadador até 2016 quando já terá completado 29 anos. Thiago Pereira estará com 30 anos e com remotas possibilidades de subir no lugar mais alto do podium.

Há menos de três anos para os jogos a estrutura para os nadadores brasileiros é preocupante, o Parque Aquático Maria Lenk construído pela prefeitura do Rio para o Pan de 2007 foi cedido no ano seguinte para o COB, desde então recebeu apenas seis edições do troféu Maria Lenk e uma copa do mundo em piscina curta e não deverá receber mais nenhuma competição até 2015, pois será fechada no primeiro semestre de 2014 para reformas visando adequação à disputa do pólo aquático nos jogos olímpicos.

Com a situação do complexo Júlio Delamare continua indefinida, o Rio de Janeiro corre o sério risco de ficar sem um parque aquático em condições de treinamento aos atletas e isso é motivo de muita preocupação para Cesar Cielo que disse: “Não sei aonde vai ter piscina para gente fazer índice. Não adianta a gente ter a exigência de fazer a melhor campanha em 2016 se a gente não tem a melhor estrutura. A gente precisa de uma piscina aquecida adequada. O pessoal que quer aquecer no nado costas não tem bandeirinha, não tem marcação no fim da piscina, não tem baliza para treinar em um horário mais aleatório... Está longe de ser a condição ideal”.

O mundial de atletismo de 2013 realizado em Moscou foi completamente desanimador para as projeções do Brasil para 2016, nenhum atleta brasileiro conseguiu uma única medalha, mais uma vez vimos atletas despreparados que, se quer, conseguiram atingir suas melhores marcas pessoais ou até mesmo os índices que os credenciaram a participar do mundial, além disso, vimos na final do revezamento 4 x 100 feminino um enorme erro estratégico da comissão técnica que colocou uma atleta para fechar o revezamento que, de acordo com as próprias palavras “treinou pouquíssimo com as demais atletas”.

Com grande parte das atenções voltadas para a copa de 2014 até mesmo o vôlei tem passado por dificuldades, alguns times que disputaram a superliga 2012/13 encerraram suas atividades, como o Vôlei Futuro da cidade da Araçatuba – SP, outras equipes lutam com dificuldades para manter elenco e os patrocinadores, caso da equipe carioca do RJX, atual campeã do masculino que perdeu diversos jogadores. Até mesmo campeões olímpicos e mundiais tem enfrentado dificuldades, como o caso de Dante que está saindo para jogar no Japão por falta de opções no cenário nacional e Giba que quase antecipou sua aposentadoria, não fosse o convite do time de Taubaté.

Se tudo ocorrer da melhor forma possível podemos sonhar em até 4 medalhas de ouro no vôlei (masculino e feminino, quadra e praia), mas até hoje nenhum pais conseguiu essa hegemonia no vôlei, uma na natação com Cielo, uma na vela (pela tradição) e até duas no judô, qualquer outro ouro fora isso será realmente uma surpresa.

Muitos podem pensar, mas e o futebol? Em primeiro lugar será necessário colocar um técnico experiente, que leve a sério a competição e que utilize com sabedoria a prerrogativa de utilizar os três atletas com mais de 23 anos, diferente do que ocorreu em Londres 2012, quando o treinador deixou um e às vezes dois jogadores com mais de 23 anos no banco. Com relação aos jogadores, deverá haver um comprometimento com o objetivo maior que é a conquista do ouro, deixando em segundo plano, contratos publicitários, transferências, tatuagens e cabelos extravagantes. Conhecendo a mentalidade dos jogadores de futebol no Brasil, duvido.

O Brasil ganhou em 2009 o privilégio de sediar os jogos e até agora não vimos nada de concreto em termos de infra-estrutura e muito menos na preparação dos atletas, não se faz um atleta de ponta em apenas três anos, muito menos um campeão olímpico.Em Londres o Brasillevou sua maior delegação até hoje, mas a grande maioria foi para passear e “ganhar experiência”. Não dá mais para manter tal mentalidade, temos que investir em atletas e modalidades que possam gerar resultados e isso só será possível com investimentos corretos, treinamentos adequados, infra-estrutura digna e muito, mais muito intercâmbio.

No dia 07/09/13 o COI definiu Tókio como sendo a cidade sede para os jogos de 2020, depois de tudo que está ocorrendo no Rio de Janeiro (ou melhor, não está) a entidade não quis se aventurar novamente escolhendo outra cidade que poderia ser problemática e optou pela estabilidade política, econômica e estrutural da capital japonesa, preterindo Madri afetada pela crise espanhola e Istambul, cidade de maioria muçulmana.

           

Espero estar enganado, mas sinceramente não creio que teremos muito que nos orgulhar quando os jogos de 2016 forem encerrados, com exceção a alguns poucos heróis que, apesar das condições adversas, conseguirão se superar, em termos gerais de participação, estrutura e legado, pouco será digno de lembranças.

REFERÊNCIAS

http://www.cob.org.br – Comitê Olímpico Brasileiro

http://www.olympic.org/ - Comitê Olímpico Internacional

http://www.muco.com.br – Museu da Corrupção