Revolução Industrial: avanços e tropeços 

Desde o século XVI a Inglaterra vinha passando por mudanças. Algumas de cunho político, como o caso da chamada Revolução Gloriosa. Graças a ela a monarquia foi reinstalada no país, passando a atuar com o devido aval do parlamento, tanto que se inaugurou nesse país um novo modelo administrativo: a monarquia parlamentar.

Isso começou com as desavenças no reinado de Henrique VIII, no início do século XVI e terminou com essa Revolução Gloriosa, quando Guilherme de Orange se comprometeu a respeitar a Declaração de Direitos, a qual assegurava o poder do Parlamento, colocando um ponto final no período absolutista inglês.

Lembrando que o Absolutismo foi uma corrente de filosofia que teve em Thomas Hobbes um de seus principais expoentes. Em sua obra, O Leviatã, mostra como deve se portar o monarca com poderes absolutos. Mas também foram pensadores absolutistas: Nicolau Maquiavel, sendo uma de suas principais obras o livro O Príncipe além do francês Jean Bodin e Jacques-Bénigne Bossuet, entre outros.

Essas alterações, no cenário politico, permitiu que os anos e séculos seguintes fossem de profundas mudanças. Essas ocorreram, principalmente no lado econômico da sociedade.

Caracterizou as mudanças do período as inovações no sistema produtivo. Estava passando do modelo manufatureiro, onde o trabalhador, com seus próprios meios, produzia e vendia seu produto, para o maquinofatureiro, no qual ele trabalhavam numa fábrica, em troca de um salário, e aquilo que produzia pertencia ao patrão ou burguês que era o dono da fábrica. Este vendia e ficava com o dinheiro da venda.

Nesse sistema econômico, os burgueses, grupo social que havia apoiado a Revolução Gloriosa, estavam ficando cada vez mais ricos. O motivo? Tinham à sua disposição muitos trabalhadores a quem pagavam baixíssimos salários. Muita produção de matéria prima, pois os camponeses estavam sendo expulsos das suas terras que eram cedidas aos burgueses e aliados da corte, que produziam para a indústria. Além disso, muitas fontes de energia, pois as minas de carvão eram amplamente exploradas e com isso as máquinas a vapor podiam funcionar “a todo vapor”. Sem contar que a exploração das minas de ferro também aumentou. Esse conjunto de situaççoes estava favorecendo ao processo de produção industrial. Tanto que esse processo recebeu o nome de Revolução Industrial, a qual se concretizou já no século XVIII.

Deve-se destacar, entretanto, que nem todos apoiavam as mudanças do jeito que estavam ocorrendo. Um exemplo desse descontentamento é o pensador Thomas Morus. Condenou, em seu livro Utopia, os problemas que estavam se instalando na Inglaterra devido ao modelo econômico: a burguesia estava se apropriando de todas as terras e produzindo um oceano de retirantes que se instalavam nas margens das cidades: eram os marginais. Esses passavam a ser a mão do obra barata explorada pelos burgueses da indústria nascente. Nesse livro ele diz: "para que um só glutão de apetite insaciável, temível flagelo para sua pátria, possa delimitar com um só cercado milhares de alqueires como só seus, cultivadores serão expulsos de suas propriedades, muitas vezes despojados de tudo o que possuíam".

Mas não foi só pobreza que a Revolução Industrial produziu. Nas cidades aumentou o número de desabrigados, famintos, doentes; aumentou a violência e a prostituição. Vitor Hugo, autor francês do século XIX, no livro, Os Miseráveis (livro que virou filme), faz uma excelente descrição da sociedade de sua época.

Do ponto de vista ambiental, também ocorreram alguns tropeços. As fábricas poluíram não só o ar como os rios e provocaram alterações no habitat de várias espécies. Tudo em nome do aumento da produção para ampliar o lucro dos burgueses.

Como se pode ver, a Revolução Industrial, se por um lado foi o ponto de partida para o acelerado desenvolvimento das ciências, da tecnologia e da produção de um novo mundo, por outro lado também produziu pobreza e dor. Se, por um lado produziu uma classe social rica e ostensiva, por outro lado produziu descontentamento e o desenvolvimento de movimentos de contestação e ideais revolucionários, como a organização dos sindicatos e a proliferação de propostas socialistas...

 

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO