1- Martírio de Inácio de Antioquia 

CAPÍTULO I  - Desejo de Inácio pelo Martírio           

            Inácio foi discípulo do Apóstolo João, conheceu Paulo Apóstolo e foi sucessor de Pedro na Igreja que o mesmo fundara em Antioquia, à margem de Orontes, capital da província Romana na Síria. Era a terceira cidade em importância depois de Roma e Alexandria. Ocupa um importante lugar na história do Cristianismo, pois, “foi em Antioquia que os discípulos, pela primeira vez, receberam o nome de cristãos” (Atos 11:26).  Inácio lutou contra as perseguições por parte do Imperador Romano Domiciano, que por sua vez investiu diversas tentativas para aniquilar o movimento Cristão. Nesse ínterim Inácio assumiu a liderança dos cristãos de Antioquia e teve de continuar a fugir da perseguição agora do Imperador Trajano, ao mesmo tempo em que tentava proteger seus seguidores, pois julgava que os mesmos ainda não eram suficientemente fortes na fé.

            Tendo findada a perseguição Inácio se sentiu aliviado e alegre por saber que agora a difusão da mensagem de Cristo não encontraria obstáculo, mas se ressentia por não ter conseguido o martírio, pois acreditava que este seria o ápice da intimidade com Cristo. Assim, continuou ensinando a Igreja por meio de suas pregações e escritos dando maior fundamento para aquele movimento que se iniciara, até que mais tarde conseguiu alcançar seu intento.

           

CAPÍTULO II – Inácio é condenado por Trajano.

            Tendo Trajano alcançado a vitória contra outros reinos como os Citas, Dácios e outras nações, foi apoderado por seu próprio orgulho e pensou que também os cristãos deveriam se submeter à sua vontade adorando os demônios, pois do contrário todos morreriam.

            Como não podia deixar de ser Inácio tomou a frente da igreja de Antioquia por seu grande zelo e foi levado para diante de Trajano que lhe disse: “Quem é você, perverso vilão, que põe-se a transgredir nossos comandos, e persuadir aos outros a fazerem o mesmo, fazendo com que eles miseravelmente pereçam?”

 

            Segue então um diálogo entre Inácio e Trajano, onde o primeiro apresenta sua defesa diante de Trajano, pelo que, sentindo-se contrariado manda que levem o prisioneiro para ser devorado em Roma pelas feras. Notícia que leva Inácio a uma compulsão de alegria por se tornar merecedor do martírio como Paulo Apostolo.

           

CAPÍTULO III - Inácio navega para Esmirna

            Estando condenado foi conduzido a desceu de Antioquia a Selêucida, partindo para Esmirna onde queria se encontrar com Policarpo de quem foi companheiro e condiscípulo de João Apóstolo. Suplicou a ajuda de Policarpo para apoiá-lo na realização de seu intento, o qual por sua vez convocou toda a Igreja para receber dele algum dom espiritual pois logo desapareceria por meio das feras manifestando-se diante da face de Cristo.

CAPÍTULO IV – Inácio escreve as Igrejas

            Assim, estando diante das portas do martírio que sofreria por Cristo seu Senhor, ficou comovido por ver que tantos estavam consternados por seu testemunho, escreveu-lhes cartas que lhes transmitia graças especiais juntamente com orações e exortações.

 

CAPÍTULO V – Inácio é trazido para Roma

            Tendo partido de Esmirma desembarcou próximo a Trôade passou por Neápolis e foi à pé por Felipo através da Macedônia até a região de Épiro, perto de Epdamno onde embarcou em um navio e navegou pelo Adriático adentrando em Tirreno, passando por diversas ilhas e cidades até que passou em Putéoli, de onde partiu em meio a um vento impetuoso que apressara sua viagem ao porto Romano, o que provocou naquele bispo uma alegria sem igual pois queria partir logo deste mundo para os braços do Senhor.

CAPÍTULO VI – Inácio é devorado pelas bestas em Roma

            Levado foi até um local chamado Portus. Sua fama já se espalhara por todo lugar e todos sentiam um misto de alegria e tristeza por saber que este herdaria o céu, mas que porém se perderia um homem valoroso.

            Acalmou a todos que ali estavam ao seu redor e pediu que não impedissem que se encontrasse com seu Senhor. E orou para que a Igreja se mantivesse fiel em seu amor, daí foi então levado ao anfiteatro, onde se encontrou diante das feras para que se cumprisse seu desejo pelo martírio como a exemplo do Apóstolo Paulo.

            Depois do ocorrido apenas as partes mais duras de seu corpo foram levadas para Antioquia envoltas em linho como um tesouro de um mártir para a Igreja.

CAPÍTULO VII – Inácio aparece em uma visão após a morte.

            Sendo que todos fomos testemunhas oculares do ocorrido suplicávamos ao Senhor que nos revelasse o propósito de tudo aquilo pois chorávamos a perda de tão grande homem, quando durante o sono nos apareceu Inácio nos abraçando e orando por nós todo suado como se tivesse saído de grande trabalho para nosso Senhor.

            Por isso é que com alegria testemunhamos todos estes acontecimentos pela vitória deste grande mártir que logrou receber a coroa da glória por sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo que seja também dado glória a Deus Pai e o Espírito Santo. Amém!

 

CAPÍTULO VIII – Epístolas de Inácio às Igrejas

 

1 - Epístola aos Romanos

            Esta carta figura entre outras seis reconhecidas e nos chegou em duas versões, uma curta e outra mais longa. Aqui citamos apenas a mais curta, pois os pesquisadores acreditam ser a mais original.

            Nesta Inácio destaca a primazia da Igreja de Roma sobre as outras, dizendo que a mesma “não guarda inveja, mas instrui as outras” na entrega total a Deus aceitando a coroa do martírio.

            Parte I -  Saudação Inicial

            Nesta saudação Inácio louva a grandeza da Igreja exautando suas virtudes no seguimento de Jesus Cristo sob a luz do Espírito Santo que conduz a Igreja à vontade do Pai.

           

            Parte II – Ver a comunidade ir a Deus

            Inácio recomenda a comunidade à fidelidade a Deus por meio do seu exemplo, exortando-os para que continuem firmes na fé enquanto ele parte para o encontro com o Criador.

            Parte III – Não impedir o martírio

            Pede que seus seguidores não tentem impedir sua morte pois seria um prejuíso para toda a comunidade dos cristãos pois sua morte reforçaria sua mensagem dando credibilidade além de ser um sacrifício agradável a Deus, e a ele próprio que hà muito já aguardava por isso.

            Parte IV – Ser cristão de fato

            Convida seus correligionários para que se mantenham fortes e coerentes com a opção que fizeram sustentando o ser cristão mais pelas atitudes do que pelo título, principalmente porque o cristianismo é uma graça, não uma imposição.

            Parte V – Sou trigo de Deus

            Chama a morte para si dizendo que antes de ser um sofrimento, é uma alegria poder ser entregue às feras que o levarão para Cristo. Diz ainda que provocará as feras para que dele nada sobre, pois já tem convivido com feras desde que aceitou o Cristo, por isso afirma que se tornou “trigo de Cristo”.

            Parte VI – Imitar a paixão de Cristo

            O bispo deixa claro que entende seu martírio como nascimento para Cristo, lembrando novamente que ama a Deus sobre toda carne e desejos humanos e convida a todos a se unirem a Cristo em seu sofrimento, principalmente quando o compara com a imolação de Jesus em seu corpo e Sangue.

            Parte VII – O amor crucificado

            Insiste que o deixem crucificar dizendo que sua decisão não é humana, mas parte do pensamento segundo a vontade de Deus, de que só se ouve a verdade.

            Parte VIII – Despedida e recomendações

            Recomenda que orem pela Igreja da Síria e que estejam unidos às outras Igrejas como a de Esmirna, às quais as tem em grande estima. Termina se despedindo da Igreja convidando a todos a estarem firmes na fé de Cristo até o fim.

2 – Epístola aos Magnésios (versão curta)

Nesta carta de Inácio podemos perceber que a Igreja já estava estruturada como ainda é hoje, com bispos, presbíteros e diáconos, cabendo aos bispos a chefia da igreja local. Cita ainda o problema da observância do Sábado, dizendo que já não mais observam o sábado, mas o “Dia do Senhor” o Domingo, de onde se tira a certeza de que a observância do Domingo é de tradição apostólica. E Inácio ainda radicaliza dizendo que não se deve judaizar, mas o Judaísmo é que deve aceitar o Cristianismo: “o Judaísmo agora chegou ao fim”.

Introdução

Saúda a Igreja de Magnésia próximo ao rio Meandro já os abençoando.

Capítulo I

Alegra-se pela devoção e fidelidade encontrada entre os magnésios dizendo que devem permanecer firmes para que no fim se encontrem juntos com Cristo que é o único bem preferível nesta vida.

Capítulo II

Exalta o presbíteros e a harmonia com que se respeitam e conduzem a Igreja dos Magnésios.

Capítulo III

Exorta a todos que continuem a respeitar o seu próprio bispo à despeito de sua juventude, pois na pessoa do bispo é a Cristo que se obedece.

Capítulo IV

Chama aos magnésios a serem cristãos de verdade, não somente diante do bispo.

Capítulo V

Deve se escolher viver em conformidade com a vontade de Deus e não se deixar seduzir pelos convites do mundo para se encontrar constantemente prontos para a cruz de Cristo.

Capítulo VI

Convida os Magnésios ao estudo das coisas divinas e à obediência a seus liderem em conformidade com a vida pautada na certeza da imortalidade.

Capítulo VII

Como Cristo é um com o Pai e sem ele nada o fez, devem os leigos estarem unidos aos seus líderes sem reservas em tudo que fizerem.

Capítulo VIII

Diz aos Magnésios que não se deixem levar levar por falsas doutrinas e diz que o judaísmo já não mais agradava a Deus e que a verdadeira graça se manifestou pela vinda de Jesus Cristo.

Capítulo IX

Diz que agora se observa o Dia do Senhor e não mais o Sábado, pois foi por Jesus Cristo que alcançaram a salvação, pois o antigo sacrifício já não agradava mais a Deus.

Capítulo X

Se deve viver conforme a nova fé no Cristianismo, por isso não se deve judaizar, mas é o Judaísmo que deve se converter ao Cristianismo.

Capítulo XI

Diz que exorta os cristãos para possam ser fiéis à fé que abraçaram, principalmente em relação à vã doutrina judaica.

Capítulo XII

Elogia os Magnésios por viverem conforme o Espírito de Cristo e diz que prova disso é a humildade com que vivem longe da arrogância.

Capítulo XIII

Convida novamente os cristão a se aprofundarem em sua fé e estarem unidos a seus líderes também na carne como no Espírito, pois Cristo foi obediente ao Pai na carne, como também seus seguidores.

Capítulo XIV

Pede que orem por ele mesmo e pela Igreja da Síria para que também possam contar com a intercessão dos Magnésios.

Capítulo XV

            Transmite aos magnésios as saudações dos Efésios em Esmirna como também das outras Igreja ao redor desejando-lhes harmonia em Deus.

2.2 – Epístola aos Magnésios (versão longa)

A versão longa desta epístola contém o mesmo conteúdo que a primeira, no entanto se alonga mais ao tratar de alguns temas sem acrescentar novas temáticas, por isso preferimos nos reservar ao resumo apenas da versão curta, pois se trataria de grande repetição já que toda a epístola curta está descrita acima.

CAPÍTULO VI – Epístola aos Filadélfos

Aqui Inácio destaca que para os cismáticos não haverá salvação e que há somente uma Eucaristia Verdadeira. Diz ainda que a Igreja mantém sua unidade ao redor de seu legítimo bispo e dá a entender que havia “dioceses” de igrejas particulares unidas entre si formando uma Igreja Universal.

SAUDAÇÃO

Inácio se apresenta e saúda a Igreja de Filadelfos constituída em Jesus Cristo, lembrando que esta deve estar sempre unida a seus líderes.

CAPÍTULO I – Elogio ao Bispo

Enaltece a figura do bispo do Filadelfos por sua qualidades e diz que são todas por gratuidade da graça de Deus.

CAPÍTULO II – Fugir da heresia

Exorta os crentes da Igreja para não se iludirem com a heresia de falsos profetas que podem levar a um cisma e diz que os cismáticos não herdarão o Reino dos Céus.

CAPÍTULO III – Unidade na Eucaristia

Que os cristão sejam unido em uma só Eucaristia, sob um bispo, um presbítero e um diácono assim como Cristo desejou.

CAPÍTULO IV – Fugir do Judaísmo

Começa declarando seu amor à Igreja e apesar de estar preso se sente unido aos apóstolos e aos profetas constituídos por Deus em benefício da Igreja.

Alerta aos Filidelfos para que não se deixem iludir por qualquer que tente pregar algo que não seja Jesus Cristo, e que permaneçam fiéis e unidos na fé e consciência.

CAPÍTULO V – Investidas contra unidade

Diz que ninguém senão o Espírito lhe revelou os problemas da Igreja com relação a unidade, por isso convida a todos a nada fazerem sem os seus líderes, assim como Jesus é unido ao Pai.

Disse ainda que devem abandonar o espírito de desunião e que os documentos necessários para comprovar a autoridade dos líderes está em Jesus e na sua Cruz.

CAPÍTULO VI – Originalidade do Evangelho

Afirma que apesar de toda autoridade do Sumo sacerdote, dos profetas, dos apóstolos e da Igreja, o Evangelho é maior pois trouxe a notícia da imortalidade e se reveste de importância pela confiança no amor.

CONCLUSÃO E DESPEDIDA

Pede que a comunidade eleja um diácono para presidir uma embaixada entre eles e a Igreja de Antioquia, ao mesmo tempo que agradece por receberem bem os diáconos que Inácio mandara a eles. Continua pedindo perdão por algum desrespeito e os recomenda a Jesus Cristo abençoando-os.

3 – Epístola aos Tralianos

Escrita em Esmirna por volta de 107 d. C. que tinha como bispo Policarpo. Inácio aproveita a oportunidade de encontrar Políbio, bispo de Trália, e enviar esta carta aos fiéis. Se percebe nela como em outras cartas que Iinácio convida a Igreja à unidade e fidelidade aos seus líderes, bispo, presbítero e diácono para que estejam em comunhão plena com a Igreja que é o corpo de Cristo, evitando assim o contágio por heresias estranhas a doutrina oficial. Para isso se faz necessária a assiduidade à Eucaristia que é o verdadeiro remédio espirirual.

Nesta carta, principalmente no capítulo 9 se vê o esquema básico do que mais tarde será o credo Niceno. Inclusive já se tem sinais da doutrina sobre a intercessão dos santos  e a comunhão.

Preso em Antioquia, Inácio escreve várias cartas pelo caminho até Roma onde encontraria o martírio.

Disse sua bela e famosa frase: “Trigo de Cristo, moído nos dentes das feras”

Na certeza do martírio prometeu aos Cristãos que continuaria a orar por eles mesmo depois da morte junto de Deus: “Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus. Eu ainda estou exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa. Que sejais encontrados nele sem reprovação” (Inácio - Tralianos 13:3).

4 – Epístola aos Esmirnenses

 

            INTRODUÇÃO

Inácio, como em todas as suas cartas se apresenta devotando a Deus  a graça da misericórdia e a atenção para com a Igreja de Esmirna.

CAPÍTULO I

Elogia os fiéis de Esmirna e dá ensejo para a essência da fé cristã. O que mais tarde se converterá no credo Niceno.

CAPÍTULO II

Critíca os heréticos que difundiam a ideia de que Jesus padeceu apenas aparentemente, dizendo que estes receberão o mesmo destino dos demônios.

CAPÍTULO III

Dá o testemunho da ressurreição de Cristo em corpo e alma, dizendo que este apareceu aos apóstolos e ceou com eles, pelo que creram e deram testemunho.

CAPÍTULO IV

Exorta a comunidade para que não recebam e nem se aproximem dos que espalham as inverdades à cerca da ressurreição de Jesus, e diz que se Ele apenas morreu em aparência, o próprio Inácio está preso em aparência e vivem todos uma ilusão. Mas ao contrário, estar diante da morte é estar com Jesus que se tornou verdadeiro homem.

CAPÍTULO V

Renega aqui os que dizem contra a ressurreição e diz nem querer se recordar dos mesmos, pois de nada vale se o louvam mas não professam a encarnação, nem a Paixão nem a ressurreição de Cristo.

CAPÍTULO VI

Diz que o juízo virá para todos, e pede que não se iludam com a posição temporária pois  os que assim o fazem na verdade não se preocupam com o essencial que é a caridade e o amor para com o próximo.

CAPÍTULO VII

Fugir dos que não creem na Eucaristia como o próprio corpo e sangue de Cristo. Deixar de falar destas pessoas e se concentrar nos profetas e no Evangelho para evitar dissensões.

CAPÍTULO VIII

Sigam os bispos como Jesus obedeceu ao Pai. Assim também aconteça com relação aos presbíteros e os diáconos. E nada fazer sem o consentimento dos líderes da Igreja que representam a vontade de Deus na terra, para que assim vivam na leigitimidade.



 

CAPÍTULO IX – Epístola aos Efésios

Nesta carta se destaca a figura do bispo como representante de Cristo perante a Igreja e Paulo é declarado como santo pela primeira vês. Aqui também se encontra a veemente condenação daqueles que tramam contra a família e também se declara a virgindade perpétua de Maria (antes e após o parto) e se enfatiza a eucaristia como remédio para salvação.

Foi escrita em Esmirna onde Policarpo era bispo, provavelmente em 107 d.C. Na ocasião Inácio se encontra no local com Onésimo que é bispo de Éfeso, e nesta oportunidade o bispo leva a carta de Inácio à sua comunidade.

2 – Pápias de Hierápolis (séc I)

 

CAPÍTULO I – Fragmentos de Pápias de Hierápolis

Pápias viveu entre 70 e 140 d.C. e segundo Eusébio de Cesaréia foi discípulo de João (o presbítero), e foi amigo de Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna.

Conta-se que foi bispo de Hierápolis na Frígia, apesar de não ser dotado de grande inteligência, como pode ser comprovado por seus escritos.

São Jerônimo atribui a ele uma única obra intitulada “Exposição dos Oráculos do Senhor”, onde ele se utiliza apenas de fragmentos dos evangelhos de marcos e Mateus. O interessante de sua obra é que nos traz cerca de setenta atos de Jesus colhidos da tradição oral dos Apóstolos.

São Jerônimo ainda diz que este recusou os livros para basear seus escritos e preferiu o testemunho dos Apóstolos pois considerava-os como “palavra viva e permanente”.

Uma das maiores contribuições de Pápias foi dizer que Jesus não tinha irmãos carnais, que os citados nos evangelhos são na verdade filhos de outra Maria, vindo de encontro às especulações difundidas por protestantes.

CAPÍTULO II – Fragmentos dos escritos de Pápias

Parte I – citados por Eusébio de Cesaréia

Como dissemos são cinco os livros escritos por pápias como atesta Ireneu: "Isso também atestou por escrito Pápias, discípulo de João e companheiro de Policarpo, homem antigo, em seu quarto livro, pois ele redigiu cinco livros."

Pápias começa dizendo que não recebeu as informações diretamente dos Apóstolos, mas de pessoas muito íntimas e próximas destes:

"Para ti, não hesitarei em acrescentar às minhas explicações aquilo que outrora ouvi muito bem dos presbíteros, cuja lembrança guardei muito bem, estando seguro de sua verdade. Realmente, não me comprazia - como faz a maioria - com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade. Também não me comprazia com os que recordam mandamentos alheios, mas com os que recordam os mandamentos dados pelos Senhor à fé, nascidos da própria verdade. Se, por acaso, acontecia de chegar algum dos que tinham seguido os presbíteros, eu me informava sobre a palavra dos presbíteros, isto é, o que tinham dito André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus ou outro discípulo do Senhor. E também o que falam Aristão e João, o presbítero, discípulos do Senhor. Eu não achava que as coisas conhecidas pelos livros pudessem me auxiliar tanto quanto as coisas ouvidas através da palavra viva e permanente".

É interessante notar que Pápias distingue claramente o João Apóstolo do João presbítero quando o ajunta ao nome do primeiro aos outros apóstolos e quando se refere ao segundo antepondo-o ao nome de Aristão. Nisso se comprovam as suspeitas históricas de que deveriam haver duas pessoas chamadas João. De fato Pápias sempre faz referência aos testemunhos de Aritão e João em seus escritos, além é claro, de retomar os ditos dos Apóstolos.

Pápias nos traz relatos interessantes com a passagem do Apóstolo Filipe por Hierápolis com suas filhas, das quais Pápias diz ter ouvido o relato da ressurreição de um morto, e ainda que um tal de Barsabás, tendo bebido veneno nada sofreu por graça do Senhor. Ainda se confirma pelos Atos dos Apóstolos que este mesmo foi colocado ao lado de Matias quando se sorteou o substituto de Judas Scariotes.

Pápias ainda nos traz algumas informações estranhas como quando diz que o um milênio se estabelecerá após a ressurreição dos mortos e, a seguir, o reino de Cristo se fixará fisicamente na nossa terra. Por isso não é de se estranhar que por sua pouca inteligência não tenha entendido corretamente a mensagem dos Apóstolos, levando ao erro seus predecessores que lhe conferiram crédito por sua antiguidade.

Contudo, achamos necessário acrescentar ao que já dissemos sobre Pápias, o que a tradição expõe sobre Marcos, que escreveu o evangelho. Assim se expressou: "O presbítero também dizia o seguinte: 'Marcos, intérprete de Pedro, fielmente escreveu - embora de forma desordenada - tudo o que recordava sobre as palavras e atos do Senhor. De fato, ele não tinha escutado o Senhor, nem o seguido. Mas, como já dissemos, mais tarde seguiu a Pedro, que o instruía conforme o necessário, mas não compondo um relato ordenado das sentenças do Senhor. Portanto, Marcos em momento algum errou ao escrever as coisas conforme recordava. Sua preocupação era apenas uma: não omitir nada do que havia ouvido, nem falsificar o que transmitia".

O relato de Pápias sobre Mateus é o seguinte: "Mateus reuniu, de forma ordenada, na língua hebraica, as sentenças [de Jesus] e cada um as interpretava conforme sua capacidade".

Pápias ainda fala sobre a primeira epístola de João e a de Pedro e ainda conta a história de uma mulher cheia de pecados diante do Senhor que está contida no evangelho segundo os Hebreus.

PARTE II – citados por Ireneu

Quando também a criação, renovada e liberta, frutificar abundantemente todo tipo de alimento, graças ao orvalho do céu e à fertilidade da terra, da forma como recordam os anciãos que viram João, discípulo do Senhor, ouvindo-o da maneira como o Senhor ensinava a respeito desses tempos:


"Haverá dias em que nascerão vinhas que terão, cada uma, dez mil videiras; cada videira terá dez mil ramos; cada ramo terá mil galhos; cada galho terá dez mil cachos e cada cacho terá dez mil uvas e cada uva espremida renderá vinte e cinco metretes de vinho. E quando um dos santos pegar um dos cachos, o outro cacho gritará: 'pega-me porque sou o melhor e, por meu intermédio, bendize o Senhor'. Da mesma forma, um grão de trigo produzirá dez mil espigas e cada espiga dará dez mil grãos; cada grão dará dez libras de farinha branca e limpa. Também os outros frutos, sementes e ervas produzirão nessa mesma proporção. E todos os animais que se alimentam dos alimentos dessa terra se tornarão paçificos e viverão em harmonia entre si, submetendo-se aos homens sem qualquer relutância."

Pápias, discípulo de João, companheiro de Policarpo também acrescentou em seu quarto livro: "Essas coisas são dignas de fé para os que acreditam. E como disse Judas, o traidor, que não acreditava e perguntou: 'Mas como o Senhor realizará tais coisas?'; e o Senhor respondeu: 'Verão aqueles que chegarem a esses tempos'. Estes, então, serão os tempos preditos pelo profeta Isaías: 'Então o lobo habitará com o cordeiro...".

Parte III – fragmentos diversos

1. Os primeiros cristãos chamavam de "filhos" àqueles que praticavam inocente justiça, como declarou Pápias em seu primeiro livro das Exposições do Senhor e também Clemente Alexandrino em sua obra "O Pedagogo".


2. Judas deixou um triste exemplo de impiedade neste mundo; seu corpo inchou de tal forma que ele não conseguiu passar por um caminho onde uma carruagem facilmente passava, de modo que foi esmagado pela carruagem e suas entranhas se derramaram.

3. (1) Maria, a mãe do Senhor; (2) Maria, a esposa de Cléofas ou Alfeu, que era mãe de Tiago, bispo e apóstolo, de Simão, de Tadeu e de um dos que se chamavam José; (3) Maria Salomé, esposa de Zebedeu, mãe de João, o evangelista, e Tiago; (4) e Maria Madalena. Estas quatro mulheres são encontradas no Evangelho. Tiago, Judas e José são filhos de uma tia do Senhor. Maria, mãe de Tiago, o menor, e José, esposa de Alfeu, era irmã de Maria, mãe do Senhor, e que João liga a Cléofas; eram irmãs por parte de pai, por parte da família do clã ou por outra ligação qualquer. Maria Salomé é chamada simplesmente por Salomé por causa de seu marido ou de seu vilarejo. Alguns afirmam que ela é a mesma pessoa que Maria de Cléofas, já que teria se casado duas vezes.

3 – Caio (séc I)

 

Contra Proclo

I. E eu posso mostrar os troféus dos apóstolos. Se você for para o Vaticano ou para a Via Óstia, encontrará os troféus daqueles que fundaram esta igreja (Preservado em História Eclesiástica 2,25, de Eusébio).

 

II. Mas Cerinto, também, através de revelações escritas, como ele nos faria acreditar, por um grande apóstolo, traz ante a nós coisas maravilhosas, que propõe lhe terem sido mostradas por anjos; alegando que depois da ressurreição o reino de Cristo será terreno, e a carne que repousa em Jerusalém será novamente sujeita a desejos e prazeres. E sendo um inimigo das Escrituras de Deus, ao querer enganar os homens, diz que haverá festivais de casamento de mil anos (Idem 3,28).

 

III. E depois disso houve quatro profetizas, filhas de Filipe, em Hierápolis na Ásia. Suas tumbas estão lá, bem como a de seu pai (Ibidem 3,31). * * *

 

4- Didaquê  - Anônimo (séc I)

 

INTRODUÇÃO

A instrução dos doze Apóstolos

Instrução do Senhor para as nações segundo os doze Apóstolos

  Didaquê é uma palavra do grego que significa instrução, doutrina. Se trata de um escrito pequeno, composto por dezesseis capítulos, nos quais se encontra um catecismo da época dos Apóstolos e que constitui grande valor histórico e teológico.

Remonta ao período entre 60 e 90 d. C, produzido na Palestina ou Síria.  Foi escrito provavelmente por mais de uma pessoa em compilação de fontes orais do período e é mencionado por vários escritores antigos como Eusébio de Cesaréia, tento sido encontrado apenas em 1873 em um mosteiro de Constantinopla.

O conteúdo da Didaquê traz escritos sobre Liturgia, catequese, recomenda o evangelho de Jesus, cita o Pai Nosso como sendo de autoria do Senhor, e ainda diz que Jesus voltará, como é explicitado no Apocalipse.

5 – Hérmas de Roma (séc I)

 

O pastor

 

          Este escrito de Hermas é um dos mais valorizados entre as obras dos primeiros séculos do cristianismo, às vezes até tendo sido considerado como inspirado. Foi inclusive muito usado na instrução dos primeiros cristãos, e utilizado por diversos autores da época como pelo próprio Eusébio de Cesaréia. Porém depois de longa controvérsia foi  colocado entre os apócrifos pelo concílio de Nicéia em 393.

          Com 114 capítulos, 3 partes, 5 visões, 12 mandamentos e 10 parábolas, sua mensagem contém um conteúdo de índole moral, convidando o homem à penitência através dos sacramentos da Igreja. Para Hermes a Igreja instituição é necessária à salvação. Mas sua cristologia é problemática pois além de não citar o nome Jesus Cristo, mas apenas o termo “Salvador”, dá a entender que há duas pessoas em Deus: Deus Pai e Deus-Espírito-Filho.

6- Policarpo de Esmirna  - (70 – 155 d. C.)

  Policarpo foi bispo de Esmirna (atualmente Turquia), e foi martirizado aos 87 anos pela perseguição Romana. É tido como santo tanto para os Ortodoxos como para os Católicos. Conviveu com os Santos Apóstolos e serviu de ponte entre a Igreja nascente e o mundo greco-romano.

Foi ordenado bipo de Esmirna pelo próprio João Evangelista, e era respeitado em todo o oriente por sua ortodoxia, saber e amor à Igreja.

Na época do Papa Aniceto policarpo viajou à Roma representando as Igrejas da Ásia menor para discutir o assunto sobre a data da observância da páscoa. Porém não se chegou a um denominador comum, no entanto mantiveram a amizade. Nessa oportunidade ainda conheceu em Roma alguns hereges, dentre ele um tal de Márcio, o qual deu o apelido de “primogênito de Satanás”.

7- São Clemente de Roma  - (35 – 101 d. C.)

 

PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS

São Clemente de Roma (Papa entre 90 e 101 d.C.)

  Esta carta trata de importantes assuntos da
época, tanto que foi considerada canônica até o séc. IV, chamada de “magistral e simultaneamente admirável” por Eusébio. Divide-se em 65 capítulos do Codex Alexandrinus do séc. V, complementado pelo manuscrito de Jerusalém descoberto em 1875.

Alguns agitadores colocaram os fiéis contra os legítimos presbíteros nomeados em Corinto, por isso Clemente escreve esta carta exortando os fiéis que já tinham até mesmo destituído os seus dirigentes de seus cargos (fato único na história da Igreja Cristã). Assim, Clemente prega o respeito à hierarquia e convida a todos à paz.

Segundo Dionísio que era bipo de Corinto, Clemente conseguiu reestabelecer a paz.

Com essa primeira interferência de Roma sobre outra comunidade se reforça a primazia do bispo de Roma sobre as demais. Clemente ainda chama a atenção para com o fato de além de Pedro, Paulo também foi martirizado em Roma e pregou o evangelho até os confins da terra. Ainda exorta sobre a santificação, a constituição da Igreja e o conceito de Deus.

8- São Justino de Roma  - (100 – 160 d. C.)

 

  I APOLOGIA SOBRE A OBRA

  Acreditasse que esta primeira apologia data por volta do ano 155 d. C., pois os seus dados internos a localizam nesta data. Está dividida em três capítulos. Na introdução Justino pleiteia a defesa dos cristãos ao Imperador Antonino Pio e seus filhos e pede que o próprio análise as acusações e não se deixe levar pela plebe. Já na segunda parte Justino crítica a forma como se está conduzindo o julgamento dos cristãos e denuncia as falsas acusações infundadas. Ainda questiona o fato de se prender ou acusar alguém apenas por se dizer cristão. Pergunta como se pode condenar alguém apenas pelo nome, sem que este tenha feito nada. Ainda diz que o medo e a esperança escatológica fazem dos cristãos bons cidadãos, menos no culto aos ídolos. Diz também que as acusações contra os cristãos são calúnias e que seu culto nada mais é que a imitação das virtudes de Cristo.

Dessa maneira Justino usa da verdade como melhor defesa, mostrando confiança em sua doutrina, apresentando a eucaristia e o batismo como razões para sua fé. E por fim recorre à explicação filosófica para elucidar a figura de Cristo.

  II APOLOGIA SOBRE A OBRA

Segundo estudiosos não há nada que indique que esta seja de fato uma segunda apologia, mas tão somente uma apêndice da primeira pois prescinde de elementos para ser chamada assim de segunda apologia, principalmente porque não contém cabeçalho e versa sobre os mesmos temas da primeira.

Esta continuação se detém sobre a indignação de Justino quando questiona o Imperador sobre as condenações de cristãos sobre os quais não se tem prova alguma, mas são condenados unicamente por se dizerem cristãos. Repete então a ideia sobre o nome de Deus, a encarnação de seu filho, a salvação dos crentes e a denúncia contra o extermínio universal dos cristãos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SITE PATRÍSTICA BRASIL: http://patristicabrasil.blogspot.com.br/search/label/S%C3%A9culo%20I