Sem dúvida o fenômeno religioso é sempre um assunto instigante que divide opiniões praticamente em todos os ramos do conhecimento. É de fato um debate acirrado que parte desde a apologia da espiritualidade e da religiosidade como se esta fosse uma característica positiva, uma qualidade do ser humano, até a crítica mais dura com relação a esta que pode ser encarada como uma “fuga” do ser humano em relação à realidade, formando para si um mundo imaginário. Por isso o estudo desse tema se torna tão relevante.

            Percorrendo a história do pensamento humano podemos encontrar no Iluminismo o maior representante da crítica contra a religiosidade, o que nse denominou de “humanismo absoluto” onde o homem começou a ser visto como o centro do universo, ou seja, seu valor estava nele mesmo, tamanha a sua importância. O que não poderia ser concebido na visão Teocêntrica, vigente até o surgimento do Iluminismo. Nesta, o protagonismo da história era desempenhado por Deus. Nesse ínterim como se pode observar a visão dos críticos passa a ser antropocêntrica, fazendo com que a regra agora passasse a ser ditada pelo homem e tão somente por ele.

            É um período de uma verdadeira efervescência intelectual que se deu a partir do séc. XIX tendo como principais protagonistas L. Feuerbach, K. Marx, F. Nietzche e S. Freud. Os quais quase que de maneira unânime defendem a ideia de que o homem é que é de fato o “ser supremo”, negando radicalmente a ideia da existência de um Deus, pois o homem é seu próprio criador, o qual também determina seu fim e sua lei.

 

1-           Ludwig Feuerbach

Um grande intelectual de sua época, transitando entre filosofia e teologia, ficou muito conhecido por sua obra lançada em 1841 com o título “A essência dos Cristianismo” na qual defendia a ideia de que a religião estabelecida como cristã na verdade havia se tornado uma religião do homem, e não de Deus. Ele acreditava que a religião nada mais era do que um produto do devaneio humano, não restando nada de divino nela, pois percebia nas práticas religiosas apenas um meio pelo qual o homem procurava satisfazer-se em suas necessidades, de forma que a criação de um ser ilusório o pudesse lhe libertar do fato de estar escravizado às suas próprias demandas.

A exemplo da mitologia grega, Feuerbach afirma que os religiosos conferiam ao ser divino as suas próprias características, como que por uma transferência, adotando o ser imaginário como um ser superior a ele próprio.e por conseguinte passa a adorá-lo. Assim, para Feuerbach Deus não passa de uma construção humana do próprio homem, de forma que sua inteira concepção se trata de uma espécie de projeção das necessidades e desejos humanos.  Isso para Feuerbach tem consequências ainda mais drásticas e profundas pois o ser humano passa necessariamente com o passar do tempo a não se reconhecer mais em sua criação, entendendo-a como um outro ser autônomo e superior, o que só pode ser superado pela tomada de consciência do homem em relação a si mesmo, substituindo esta afeição ao divino pelo seu próximo.

 

2 – Karl Marx (1818-1883)

 

          Marx figura como um dos maiores críticos a religião, especialmente quando se trata do cristianismo institucional, o qual é alvo das mais severas críticas quanto a ideologia cristã, pois defendia a plenitude do ser humano independente da “intervenção” divina. Por isso ainda reforça a ideia de que o ateísmo seria a melhor opção para o homem, até porque para ele mesmo afirmava que o ateísmo nada mais é do que uma  reconciliação do homem consigo mesmo, superando a patologia da religião.

          Marx era de tal modo contra a religião que dizia ser ela o maior obstáculo para que uma sociedade mais justa e igualitária viesse a existir, pois a mesma servia como instrumento do capitalismo para a dominação e domesticação dos oprimidos, ao mesmo tempo em que justificava toda atuação e situação dos donos dos meios de produção, ou seja, os opressores.

          Talvez a mais célebre frase de Marx é a que diz que a “religião é o ópio do povo”, pois adormecia os corações dos oprimidos fazendo com que aceitassem passivamente seu opróbrio, à base do discurso de que seriam recompensados por Deus nos céus.

3 – Friedrich Nietsche (1844-1900)

 

          Original e surpreendente e por vezes incompreensível, são palavra que podem dar uma ideia de quem foi Nietsche, mas sem dúvida podemos colocá-lo no primeiro lugar entre os críticos mais radicais da religião, tanto que ficou conhecido por sua frase “Deus está morto”. Para Nietsche a religião é sinônimo de cerceamento e alienação, pois retira do homem a liberdade que lhe é intrínseca por meio dos seus mandamentos, regras morais, costumes e pudores. E para que o homem um dia volte a desfrutar da sua vontade de poder a religião deve ser destruída, assim o mesmo se encontrará novamente em meio a realidade.

          Em seu livro “Assim falou Zaratustra”, o autor declara que após a morte de Deus um Super-homem ocupará o seu lugar, ou seja, homens aprimorados e superiores.

          Nietsche concordava que a religião foi uma grande invenção do homem, mas ao contrário do que afirmava Marx, acreditava ser um artifício dos fracos para manter o controle sobre os fortes como meio de reprimir sua potência.

 

4 - Sigmund Freud

 

Médico de formação, iniciou sua postura crítica desenvolvendo o que ele mesmo denominou como Psicanálise, e por meio dela também discorreu sobre religião em algumas de suas obras.

Freud acreditava que o pilar inicial da religião era o Totem, o qual só poderia ser interpretado a partir de questões epídicas e por um posterior sentimento de culpa. E é exatamente a culpa a origem neurótica da religião, sem contar com outra de suas críticas que define a religião como ilusão, apenas uma forma artificial de auto-realização dos desejos mais fortes e dominantes do homem, o que por outro lado também pode ser visto como uma sublimação dos seus instintos mais primitivos.




 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, Jairo da Mota. Filosofia da Religião. Batatais: Claretiano, 2012. p. 101-135.