Por que hoje em dia é tão difícil encontrar alguém que tenha responsabilidade emocional? Para aqueles que não sabem ou nunca ouviram o termo, a responsabilidade emocional diz respeito ao controle de seus atos para com os outros, para não despertar sentimentos em vão em outras pessoas e machucá-las ao final.

Como bem há um texto circulando na internet, “é covardia despertar um sentimento em alguém que você não tem a intenção de levar adiante” e é exatamente sobre isso que trata a referida responsabilidade emocional.

Claro que não sou perito no assunto e se pesquisar na internet verá vários psicólogos e outros profissionais gabaritados explicando de maneira melhor sobre o assunto. Mas, apesar de não saber com maestria o teórico, na prática todos nós temos experiências com nossas próprias emoções, bem como com as interpessoais.

Sobre isso, o que se vê atualmente é o quão rápidas e superficiais as relações têm se tornado. Óbvio que, com a tecnologia e aplicativos de relacionamento tudo ficou mais fácil, uma vez que você seleciona as pessoas que estão disponíveis e inicia a conversa e “vê no que dá”.

E, realmente, não há nada de errado com isso, em sair, em se cadastrar em aplicativos e flertar, mesmo que seja virtualmente, (não estou aqui para trazer à tona aquele saudosismo de que “hoje as pessoas não relacionam pessoalmente e coisa do tipo”, muitos se relacionam sim, facilitados pelos aplicativos. Além de que, as gerações mais recentes estão plenamente acostumadas com esse tipo de comunicação virtual, o que não exclui os relacionamentos reais).

Enfim, como estava dizendo, você plenamente utilizar aplicativos e tentar encontrar alguém, ou mesmo ter um lance casual, se quiser. O que me deixa perplexo é como as pessoas te cativam, iludem com um suposto sentimento, com um “você é especial” e, quando você está realmente se deixando levar pela pessoa, ela simplesmente desaparece, como se nada tivesse acontecido.

Por que as pessoas fazem isso? Por que despertar um sentimento em alguém se não há intenção de levar adiante?

Óbvio que em muitos casos, provavelmente na maioria, as pessoas não machucam a outra propositalmente, e muitas vezes não estão sabendo lidar com seus próprios sentimentos. Mas qual a dificuldade em expressar essa confusão de sentimentos para a outra pessoa? Ou mesmo dar uma mínima explicação para que a outra não fique “a ver navios”?

A resposta é bem simples: porque é mais cômodo. É mais cômodo excluir a conversa e o contato e fingir que nada aconteceu, é mais cômodo bloquear, ignorar. Realmente, ignora-se o outro, interrompe-se todos os possíveis meios de comunicação e pronto, segue a vida normalmente, provavelmente com um outro alguém, ou que seja com outros problemas.

O que é difícil encontrar hoje, ao contrário de que muitos dizem, não é encontrar pessoas que querem se relacionar e ter algo mais sério e duradouro, muitas pessoas querem, mas é difícil encontrar alguém que saiba e queira expressar seus sentimentos para o outro.

Ou seja, é muito difícil abordar a pessoa e dizer: “eu errei, dei a entender que estava gostando de você, mas na verdade não estou, há outra pessoa por quem tenho sentimentos e vou seguir meu caminho com ela, ou mesmo que continue sozinho.” É muito difícil assumir a culpa de machucar outra pessoa, mesmo quando não se deseja.

Então, a esmagadora maioria pega o caminho mais fácil: ignorar. Que, apesar de ser fácil para um, é extremamente doloroso para outro, e isso dói demais, é realmente como dizem, “o contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença”. Isso machuca e, às vezes, causa um dano muito maior do que se fosse dito em nossa cara, mesmo que causasse um baque.

Isso machuca porque sempre vem de maneira inesperada e usualmente repentina, pegando-nos de surpresa logo quando nos estávamos deixando levar, deixando nosso inconsciente fantasiar com o indivíduo, pensando na pessoa com aquele sorriso bobo.

Isso dói porque ficamos no escuro, sem explicação alguma. E com isso, passamos a nos questionar se foi nós que fizemos algo errado, começamos a repassar mentalmente todos os momentos juntos, a ver o histórico de conversas, na busca por algum motivo que poderia ter levado o outro ao sumiço repentino. Pior ainda quando encontramos algum detalhe, alguma coisinha e criamos paranoia de que aquele comentário ou aquele ato que fizemos, na melhor nas intenções, pode ter levado a isso.

Depois disso, após o choque inicial passar, começamos a ver com mais clareza, de que a pessoa foi realmente escrota com a gente, para falar o português bem claro. Percebemos que demos nosso melhor e o outro não valorizou, simplesmente jogou nosso amor fora, como um copo descartável.

Aliás, não só o amor. Pega-nos por inteiro e descarta-nos no lixo, após o “consumo” e simplesmente busca o próximo “produto”. Infelizmente essa é triste realidade de muitos.

É a realidade, e infelizmente acontece, e quando achamos que estamos ficando melhores na maneira que estamos lidando com os relacionamentos, principalmente amorosos, surge uma nova experiência e nos dá um tapa na cara, se não uma surra, quebramos a cara, nos machucamos e aprendemos mais um pouco.

E, às vezes, a cara quebrada (e coração também) não cura tão rápido e não há nada de errado com isso. Não ouça às pessoas que simplesmente te dizem para superar, como se fosse simples! Não queira anestesiar a dor, sinta-a e sinta-a à exaustão, chore todas as lágrimas, pense tudo que tiver de pensar, leve o que tempo for necessário, com certeza cada um tem sua velocidade.

E, quando nós estivermos prontos, pegamos nossos pedacinhos quebrados e colamos, às vezes colamos de maneira diferente da última vez e nos reinventamos, e a vida segue. Ao menos seguimos com nossa consciência tranquila de que jogamos limpo o outro, e cientes de que não que não temos culpa sobre as escolhas e a falta de responsabilidade emocional das outras pessoas. E a vida segue.

 

Mateus Cacheta