RESPOSTAS DO  CAPÍTULO 1: A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA 

Respostas do Livro: Filosofando: Introdução à Filosofia 

Prof. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 
Alana Thaís Mayza da Silva 
Eduarda Carvalho da Silva Fontain 

 

1. O que há de rebeldia e originalidade na arte impressionista de Claude Monet?


Resposta: Professor, Espera-se que os alunos identifiquem a postura crítica de recusa de Claude Monet, quando ele questiona o que era dado como verdadeiro ou certo na forma de pintar, procurando outro modo de retratar o que via.


2. Analise o texto do filósofo espanhol Fernando Savater e, posteriormente, explique se há semelhanças entre o filosofar e a arte? Justificando sua resposta.


"Filosofar não deveria ser sair de dúvidas, mas entrar nelas. [...l Há coisas que nenhum bom professor de filosofia deveria esconder de seus alunos: [...l que não existe "a" filosofia, mas "as" filosofias, e, sobretudo, o filosofar. E que em determinadas questões extremamente gerais aprender a perguntar bem também é aprender a desconfiar das respostas demasiado taxativas. Filosofamos partindo do que sabemos para o que não sabemos, ou melhor, repensando e questionando o que acreditávamos saber. (SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 209-210).


Resposta: O texto do filósofo espanhol Fernando Savater oferece elementos importantes para a reflexão. Pode-se relacionar a afirmação "Filosofamos partindo do que sabemos para o que não sabemos, ou melhor, repensando e questionando o que acreditávamos saber" à atitude de Monet, pois ele questionou a tradição do fazer artístico e buscou um novo modo de retratar paisagens. Da mesma forma, as correntes artísticas propuseram outras maneiras de interpretar o mundo. Pode ser explorado também "que não existe 'a' filosofia, mas 'as' filosofias, e, sobretudo, o filosofar". Na arte, de modo semelhante, não existe o melhor ou o mais belo, mas sim propostas diferentes de expressão.


3. Para refletir: Sempre há os que ignoram os filósofos. Muitos deles, porém, foram perseguidos, exilados ou até mortos por causa de suas ideias, como Sócrates, Giordano Bruno e Galileu. Frequentemente, os ditadores fazem calar os filósofos pela censura, porque bem sabem o quanto a filosofia pode ameaçar seu poder. Em que sentido os filósofos ameaçariam os poderosos ditadores?


Resposta: Todos os estados autoritários recusam a crítica e a contestação, atitudes típicas da filosofia. Não aceitam tampouco a diversidade de pensamento, impondo pela força o que consideram verdade, enquanto o filósofo é aquele que prefere a dúvida e a indagação. O filósofo é quem teoriza sobre as condições d a liberdade humana e se torna capaz de esclarecer onde o ditador, que impõe o pensamento único, a cerceia. Assim, o filósofo é visto pelos estados autoritários como perigoso por conscientizar os oprimidos e eventualmente levá-los a se rebelar.


4. Luc Ferry indica dois motivos pelos quais todos deveriam estudar ao menos um pouco de filosofia. Quais são eles? 


Resposta: O primeiro motivo é que a filosofia nos ajuda a refletir sobre nossa vida, a compreender melhor o mundo e a nós mesmos. O segundo motivo está envolvido nesse primeiro, ou seja, a reflexão filosófica depende do contato que fazemos com o pensamento de outros filósofos ,sejam atuais ou anteriores a nós. É por meio deles que conhecemos uma infinidade de ideias e pensamentos que poderão oferecer elementos para nossa reflexão pessoal.


5. Em que sentido estudar a história da filosofia é diferente de estudar a história da ciência?


Resposta: A história da ciência tem um objetivo puramente histórico, no sentido de erudição, porque, à medida que o conhecimento científico evolui, as antigas teorias deixam de ser aplicáveis. Já a reflexão filosófica depende fundamentalmente da sua história. Ela é constantemente revisitada e se mostra fecunda para refletirmos sobre os problemas contemporâneos.
6. Por que é válido comparar a história da filosofia com a história da arte?


Resposta: Do mesmo modo que o pensamento dos filósofos do passado continua tendo importância para a reflexão atual, as obras de arte de outros tempos podem exercer, com a mesma intensidade, fascínio e deslumbramento sobre o apreciador. A filosofia e a arte não se tornam obsoletas, mas permanecem vivas e instigantes.


7. Por que é possível dizer que não existe "a" filosofia, mas "as" filosofias?


Resposta: O filosofar não é propriamente um saber, mas uma atividade que busca dar sentido à experiência, apoiada em uma problematização inicial. Para tanto, contraria o senso comum ao questionar — e duvidar — das verdades estabelecidas. Decorre dessa disposição ao questionamento a diversidade das concepções filosóficas.


8. O que significa a máxima socrática "Só sei que nada sei"? Explique por que ela se refere a Sócrates e também à própria filosofia.


Resposta: Reveja a resposta do oráculo de Delfos a Querofonte, com base na qual Sócrates inicia sua tarefa filosófica de indagar sobre os conceitos. Assim como Sócrates , a atitude do filósofo não é a de quem sabe de antemão, mas daquele que indaga, questiona tudo que parece óbvio.


9. Na Grécia antiga, os filósofos se ocupavam de todas as áreas do conhecimento de seu tempo. Quando ocorreu a Revolução Científica do século XVII, as ciências da natureza e posteriormente as ciências humanas foram se separando do corpo da filosofia. Atualmente, de que objeto se ocupa a filosofia?


Resposta: Quando, a partir do século WII, as ciências se tornaram autônomas, a filosofia continuou tratando da mesma realidade, mas sob outro olhar, o de crítica e problematização. Enquanto o cientista procura saber como as coisas são, o filósofo busca o significado delas.


10. Com base na tira do personagem Calvin e na citação, responda às questões propostas.

- Explique em que sentido tanto o texto de Rachels quanto a tira do personagem Calvin têm como tema central a argumentação.


Resposta: No texto de Rachels, Sócrates é lembrado como alguém sempre disposto a questionar e a verificar os possíveis argumentos racionais sobre qualquer problema proposto. Na tira, Calvin se recusa a discutir e a se posicionar diante de dois lados de um tema. O personagem nega a possibilidade de argumentação porque já tem certeza a respeito de tudo que pensa.


- Supondo que o quadrinista Bill Watterson quisesse representar a fala de Calvin como se fosse a de um adulto, critique esse comportamento tendo em vista o que estudamos a respeito do significado do filosofar.


Resposta: Segundo a hipótese sugerida, estaríamos diante de um adulto infantilizado, egocêntrico, incapaz de examinar posições contrárias às suas. Essa recusa decorre do fato de ter certezas e não se abrir às dúvidas, o que significa se afastar da filosofia. No texto, Rachels remete ao caráter central da filosofia, sempre tecida por meio de argumentos e aberta à indagação. A problematização do mundo e de si mesmo supõe questionar o saber cotidiano, as doutrinas e também as próprias convicções, por mais arraigadas que sejam. Caso contrário, caímos no imobilismo do preconceito, que leva ao autoritarismo da ação, ao querer impor o que pensamos aos demais.


11. Esta citação trata de uma das contribuições da filosofia. Comente-a.


A técnica só fornece meios de ação ao homem. Ela emudece quanto aos fins que devem guiar nossa conduta. [...] No mundo atual, o esplendor de nossos poderes humanos faz com que se ressalte, numa visão trágica, a ambiguidade de nossos desejos. Somente a filosofia levanta o problema dos valores. (HUISMAN, Denis; VERGEZ, André. Compêndio moderno de filosofia: a ação. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1966. p. 28. v. 1).


Resposta: A indagação sobre os valores é uma tarefa filosófica. Ao dizer que a técnica nos dá os meios para agir sobre o mundo, os autores deixam em aberto a discussão sobre o que é mais importante produzir e com que fins. Esses "fins " são questionados pela reflexão filosófica: por exemplo, por que seria trágico o desequilíbrio ambiental? Os negócios sempre devem visar apenas ao lucro? A guerra é imoral ou há guerras justas? A mídia é um instrumento a serviço da democracia? E quando ela manipula consciências, continua sendo democrática? A eutanásia é assassinato ou ato de piedade? Cabe à filosofia refletir eticamente sobre essas questões.


12. No trecho abaixo, de autoria de Platão, o protagonista Sócrates afirma que é acusado de corromper a juventude. Leia-o e, em grupo, discuta: quais seriam, nos dias atuais, os acusadores de Sócrates? 


[...] os jovens [...] seguindo-me espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens, e muitas vezes me imitam [...] e então encontram grande quantidade daqueles que acreditam saber alguma coisa [...]. Daí, aqueles que são examinados por eles encolerizam-se comigo [...] e dizem que há um tal Sócrates, perfidíssimo, que corrompe os jovens. (PLATÃO. Apologia de Sócrates. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/d. p. 02).


Resposta: Professor, o debate estimula o respeito à pluralidade de pontos de vista, além de desenvolver a habilidade argumentativa. Por meio dessa atividade, o aluno pode defender seu próprio posicionamento, elaborar argumentos ou adequá-los em face de outros mais consistentes. No decorrer das discussões, espera-se que os alunos identifiquem que os "acusadores" de Sócrates não aceitam a crítica, a divergência de opiniões, o debate plural. Se atualizarmos a discussão, dentre eles estarão os ditadores, que impõem censura a intelectuais, artistas, oposicionistas; como também os religiosos fundamentalistas e radicais convictos da posse da verdade absoluta, a qual não ousam questionar.


13. Elabore uma dissertação inspirada no texto de Aristóteles transcrito a seguir.


Foi, com efeito, pela admiração que os homens, assim hoje como no começo, foram levados a filosofar. [...] Pelo que, se foi para fugir à ignorância que filosofaram, claro está que procuraram a ciência pelo desejo de conhecer, e não em vista de qualquer utilidade. (ARISTÓTELES. Metafisica. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 214. (Coleção Os Pensadores).


Resposta: Aristóteles destaca a surpresa que estimula o filósofo a questionar a obviedade das verdades dadas, a levantar problemas e a buscar respostas para eles. Na sequência, o aluno poderá ater-se ao que foi visto no capítulo ou analisar que tipo de problemas provocaria hoje o filosofar. O aluno também pode tratar do caráter desinteressado dessa reflexão, que não visa à aplicação prática imediata. Duas observações: em relação ao texto de Aristóteles, é importante lembrar que alguns tradutores utilizam o termo admiração , enquanto outros preferem espanto; além disso, o termo ciência, para os gregos, também se refere ao saber rigoroso que culmina com a reflexão filosófica. Dessa forma, não se identifica com o sentido atual de atividade científica.


ATIVIDADES COMPLEMENTARES


1. Pedir aos alunos que respondam à questão a seguir: Explique o que Edmund Husserl quis dizer com a aparente ambiguidade segundo a qual ele "sabe" e, ao mesmo tempo, "não sabe" o que é filosofia.


Resposta: Husserl quis dizer que não há uma definição única de filosofia, já que cada filósofo repensa e reconstrói constantemente o que entende por filosofia. Esse conceito variou conforme o tempo e o lugar.


2. Leitura analítica da citação de Karl Jaspers:


A filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A autocomplacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário — tudo isso proclama a antifilosofia. E os homens não a percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida, que, se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação. (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 2005. p. 139-140).

- Indagar a respeito de Karl Jaspers.

Resposta: Karl Jaspers (1883-1969), filósofo alemão, iniciou seus estudos pela medicina e pela psiquiatria, o que marcou sua reflexão a respeito da liberdade e dos limites da existência humana.

- Solicitar aos alunos que procurem o significado de diversos termos ou expressões que aparecem no texto (ou discuti-los com eles).

Resposta: Exemplos:
• Autocomplacência burguesa: autocomplacência significa "a disposição de atender aos desejos e às manias de si mesmo " (complacência é essa mesma disposição para com os outros); burguesa: no contexto, reflete os gostos de pessoas da classe média ou da classe média alta.
• Bonomia dos políticos: literalmente, a bondade dos políticos; mas o autor usa o termo em sentido pejorativo, denunciando os que são simplórios (simplicidade excessiva, ignorância nos limites da estultice).
• Fanatismo das ideologias: ideologias no sentido de visão de mundo sem crítica que alimenta fanatismos, ou seja, convicções inabaláveis.

- Verificar se os alunos compreenderam a crítica feita pelo filósofo.

Resposta: Trata-se da recusa do filosofar (a antifilosofia), que traz consequências perversas, já que o indivíduo se recusa a pensar e se amolda a convicções inabaláveis, a hábitos não questionados, sobretudo aqueles influenciados pelo mundo contemporâneo, que exalta o bem-estar material, o pragmatismo, o hedonismo, o desejo de glória e o sucesso a qualquer custo. Para Jaspers, porém, a antifilosofia é filosofia porque, em última instância, recusar- se a refletir sobre o seu modo de viver de determinada maneira já é um pensamento, só que pervertido, porque desvirtuado de seu significado humano mais fundamental, ou seja, o conhecimento de si mesmo.

- Problematizar o texto com base no cotidiano de algumas pessoas conhecidas dos alunos (ou a vida deles mesmos), dando exemplos.

Resposta: Supor que a reflexão filosófica é prerrogativa apenas daqueles que se ocupam com as ciências humanas é um equívoco, quando, na verdade, a filosofia abrange todas as áreas. Nesse sentido, deveria fazer parte da vida de todos, sejam cientistas, engenheiros, negociantes e outros. Pode-se exemplificar a questão citando o apreço que certas pessoas têm pelos avanços da tecnologia sem considerar os efeitos prejudiciais ao ambiente, ou com os benefícios do progresso que não são distribuídos de maneira justa entre todos etc.

Resposta do livro: Filosofando - Introdução à Filosofia de Maria Lúcia Aranha e Helena Pires Martins.

Emanuel Isaque Cordeiro da Silva - ©2019