RESENHA SOBRE OS TEXTOS “A EDUCAÇÃO INCLUSIVA BILÍNGUE DOS SURDOS” E “A ESCOLA DE ATENÇÃO ÀS DIFERENÇAS”

Mostra-se polêmico o debate acerca da Educação Inclusiva, mas não deveria ser tal assunto gerador de tamanho conflito ideológico, tendo em vista que a realidade social apresenta pessoas com necessidades educacionais especiais, o que pressupõe a realização de trabalho específico voltado para o processo de ensino-aprendizagem daqueles que carecem de atitude pedagógica interacionista, pois a educação deve se manifestar contextualizada com a convivência entre os diferentes. Nesse contexto, encontra-se a educação bilíngüe dos surdos, tão necessária, cor meio da linguagem, ao desenvolvimento cognitivo e intelectual de crianças com problemas de audição.

Entretanto o processo de implantação de uma educação inclusiva se arrasta lamentavelmente numa lentidão prejudicial àqueles que dela precisam, tanto que na história da humanidade os surdos, por exemplo, foram tratados como irracionais, incapazes, por longo tempo, assim como os demais deficientes. Assim, a primeira escola para surdos só surgiu no século XVIII, na França, e até meados do século XX ainda se viu extermínio de pessoas com deficiência física e mental, por causa das ideias do genocida Hitler, que buscava a raça pura, ariana. Já no Brasil a primeira instituição especializada para surdos surgiu em 1857, com a criação do Instituto dos Surdos, o INES.

Essa preocupação se iniciou nos estudos médicos, abandonando a interferência da Igreja, a qual julgava “endemoniados” muitos deficientes. O precursor destas pesquisas foi Itard, e isso possibilitou, com o passar do tempo, o surgimento da Educação Inclusiva, que se apóia em estudos sociointeracionistas de Vygotsky, que defendia métodos de estímulo à aprendizagem centrados não no defeito das pessoas, mas na capacidade delas.

Em vista disso, considerando a importância da linguagem na comunicação e na interação, mostra-se relevante, na educação dos surdos em escolas regulares, por exemplo, o bilinguismo, viabilizando aos alunos o acesso a Libras, Língua Brasileira de Sinais, associada ao ensino da Língua Portuguesa.

Essa discussão sobre Educação Inclusiva interessa a vários países, e o Brasil não pode ficar de fora de uma questão tão importantes à qualidade de vida de seus cidadãos, por essa razão a Política de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva do MEC-SEESP-2008 orienta serviços pedagógicos de Atendimento Educacional Especial, AEE, realizado no período inverso ao da classe comum frequentada pelos alunos. Isso ainda não está na realidade de todas as escolas brasileiras, portanto ainda não se encontram pesquisas sobre o impacto do AEE, mas já se sabe da necessidade de formação de docentes especializados, de salas multifuncionais e de transformação no interior da escola como um todo, articulada com a adaptação constante ao enfrentamento dos diversos desafios educacionais.

Dessa forma, diante de tantas abordagens, vários teóricos apresentam suas teses sobre o tema.

Hemminggson e Borell (2002) defendem uma educação a partir das perspectivas dos alunos; Soodak (2003) se refere a estratégias de melhora da sala de aula para o acolhimento dos educandos a fim de que desenvolvam sentimento de pertença ao grupo; Bloom e Perlmutter (1999) se preocupam com a interação afetiva nas escolas; Figueiredo (2008) afirma que respeito, segurança e acolhimento em rotinas de ação cotidiana envolvendo os alunos elimina uma escola que exclui e destaca uma escola que inclui.

Para tanto a gestão da escola deve se voltar para a atenção às diferenças, de forma democrática, com o envolvimento direto da direção, segundo Hines (2008), envolvendo toda a instituição no processo. Isso vai exigir uma gestão compartilhada, com ênfase no aspecto da comunicação e da colaboração, conforme explica Penaforte (2009).

A gestão da sala de aula na escola das diferenças exige muito do professor, que precisa atuar como mediador dentro dos saberes de cada educando, envolvendo os alunos em atividades que estimulem a participação deles. Para tanto, de acordo com pesquisa de O’Doneghue e Chalmers, os professores têm utilizados várias estratégias: organização da sala, êmfase em metodologias, foco nos conteúdos. Mas o envolvimento dos professores se dá aos poucos, com uns mais envolvidos e outros mais resistentes. Isso mostra que ainda há muito o que se desenvolver na educação inclusiva, por conta de dificuldades várias, como observam teóricos envolvidos na temática: Figueiredo (2008) apresenta a dificuldade de se criar uma autonomia nos alunos, também constatada por Lustosa (2008); Thousand e Villa (2206) destacam a importância da colaboração entre os alunos e os professores no desenvolvimento de projetos colaborativos de planejamento e ação.

Por tudo isso, observa-se que, mais do que inserir, a inclusão significa a promoção de ações interativas de resposta à diferença de aprendizagem dos alunos, com ampliação de possibilidades pedagógicas de modificação de valores preconceituosos e revolução de práticas de ensino, valorizando a ação dos docentes e a interação entre os cidadãos, com respeito às diferenças e tratamento equitativo. Com tais atitudes, a escola brasileira se fortalecerá para promover a verdadeira transformação social de que o país tanto precisa.

Dério José Faustino Junior

Jean Carlos Neris de Paula
Raul Sartori Bortoloti
 Reynaldo José Pretti