CALDART, Roseli Salete. Sobre Educação do Campo. In: Educação do Campo: campo- políticas públicas- educação. FERNANDES, Bernardo Mançano {et al.}; SANTOS, Clarice Aparecida (org.). Brasília: Incra; MDA, 2008.

 PEREIRA, Viviane de Castro.

Roseli Salete Caldart possui graduação em Pedagogia pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (1982), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (1986) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999). Atualmente é assessora pedagógica do Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária e coordena o curso de Licenciatura em Educação do Campo, parceria Iterra- MEC.

Este trabalho de Caldart apresenta um projeto proposto para o III Seminário do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA).

A autora oferece importantes contribuições sobre Educação do Campo para o campo, com uma visão sistemática referente as tensões, contradições e desafios que devem ser apreendidas/especificadas quanto a relevância do PRONERA para a Educação do Campo.

Ao meu ver, a publicidade aborda os desafios enfrentados pela Educação do Campo, mas principalmente a luta de para implementação pelo PRONERA para uma construção de políticas públicas favoráveis a essa modalidade de ensino.

No que diz respeito a Educação do Campo, a autora enfatiza que é um contexto novo e marcado por contradições fortíssimas mediante a realidade social. A Educação do Campo é uma construção política, que não é fixo e muito menos contraditório, ou seja, é necessário ser materializada de acordo com sua origem e claro, historicidade a que se refere.

Seguindo esta linha de raciocínio a Educação do Campo surgiu de uma grande mobilização de movimentos sociais para garantir nas escolas públicas nas áreas de reformas agrárias uma qualidade da educação que priorize suas experiências, sua identidade e seu território.

Desde o começo a Educação do Campo não tem uma concepção voltada à realidade camponesa, é importante salientar que para a construção de uma educação de cidadão do campo é pensada numa tríade Campo- Política- Educação para que a formação seja construída na luta de trabalhadores em oposição ao sistema brutal do capitalismo, que é implicado no acúmulo de capital.

É primordial que a formação do homem do campo seja fundamentada em sua realidade e na tríade para construir um sujeito de sua própria história.

Para muitos eximir a Educação do Campo é uma solução para desaparecer com as contradições sociais e há também aqueles que desejam que o Estado não se deixe influenciar pela emancipação do homem camponês.

A segunda palavra chave da tríade Política é caracterizada pela aproximação e distanciamento da educação de sujeitos, já que a discussão educacional está vinculada a uma universalização. Esse processo não é construtivo para os indivíduos que vivem e sobrevivem de tudo originário do campo.

A realidade é que o campo tem uma posição essencial na produção de sustentação dos brasileiros, por isso é preciso sim ter um projeto de Educação do Campo que fortaleça seus vínculos culturais, sociais, históricos, abandonando o modo preconceituoso com essa população de muita serventia para minimizar as desigualdades sociais.

A terceira característica da tríade é sobre Educação do Campo que por muitos é vista como algo negativo, os sujeitos do campo são na maioria das vezes tratados como atrasados, ignorantes e miseráveis. É dito, que para ter conhecimento ou “ser alguém na vida” é necessário abandonar a vida de camponês. A Educação do campo é uma perspectiva pra transformar o individuotanto na teoria como na prática, para desenvolver as habilidades e competências fundamentais para a consciência crítica do individuo.

A educação pretendida para o campo busca uma aproximação entre teoria e prática, pedagogia e socialismo, capaz de considerar os sujeitos como elementos construtores de sua própria história, sem ser um alienado a formação que pretende universalizar o ensino para tornar os indivíduos subordinados ao mercado capitalista. De acordo com Freire (1197)a ação do docente transforma, mas é essencial que o professor saiba ensinar e o que ensinar, relacionar a teoria com a realidade do aluno e a partir disso mediar o processo de ensino e aprendizagem para construir um conhecimento crítico e significativo.

Outro fato destacado são as lutas por políticas públicas para materializar uma educação camponesa própria de seu contexto. A contradição torna os indivíduos prisioneiros de uma educação burguesa, sem perspectiva de mudança. É de extrema importância que a educação regida na Constituição Federativa do Brasil de 1988 realmente seja construída e garantida para a qualidade de ensino.

Um projeto de Educação do Campo deve ser emancipatório, assim como de formação social com reflexão pedagógica para eliminar a submissão dos dominadores. É preciso salientar que a Educação do Campo luta para democratizar o conhecimento e tornar o homem do campo um sujeito ativo. A educação do sistema capitalista não é discutida, muito menos reflexiva para não ficar evidente a perversidade imposta pelo sistema do capital.

A Educação do Campo, assim como as demais modalidades de ensino necessita trabalhar o pluralismo no fator político pedagógico, visto que os sujeitos, os valores, as religiões e culturas são diferentes, porquanto há necessidade de respeitar a diversidade, país multicultural que somos.

O PRONERA tem como proposta base fortalecer as práticas educativas do campo com posicionamento eficaz na dimensão política e pedagógica, mas também é evidente que outra finalidade é a organização das famílias. O PRONERA veicula a vida do campo e os homens do campo para implementar uma educação que junto as universidades e o camponês inove o sistema educacional, porque retratam a vida camponesa para a aprendizagem que garanta a qualidade de vida camponesa.

Diz o artigo 205 da Constituição Federal de 1988:

"A educaçãodireito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".

Certamente a educação não é algo fácil de efetivar, mas deve preservar os costumes e valores comuns a sua comunidade escolar. Em razão da legislação brasileira é evidente a necessidade de construir uma educação que valorize a cultura de seu povo junto a toda sociedade e o PRONERA é um projeto que viabiliza e legitima as necessidades do camponês a fim de alcançar a tão almejada qualidade da Educação do Campo.

Concluo, que a obra é uma ferramenta de estudo fundamental para os profissionais da educação principalmente para os que buscam qualidades educacionais, que realizam pesquisa em prol da Educação do Campo, diga- se de passagem que é uma das ações pedagógicas para o desenvolvimento social. A sociedade precisa aprender a valorizar suas tradições do campesinato para que a luta pela qualidade da Educação do Campo seja realmente conquistada pelos cidadãos como direito prescrito em lei. O texto é também uma reflexão para o PRONERA a fim de repensaros problemas enfrentados e fortalecer suas potencialidades para os sujeitos camponeses como um traço diferenciador para o desenvolvimento da vida do campo. 

 

 

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Constituição Federativa do (1988). Art. 205 Da Educação, Da Cultura e Do Desporto. Seção I Da Educação.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1997.

https://www.ecodebate.com.br/2010/12/29/programa-nacional-de-educacao-na-reforma-agraria-pronera-os-desafios-e-avancos-para-a-educacao-do-campo/