O artigo trata dos resultados de uma pesquisa realizada sobre os saberes profissionais de professores da educação profissional em escolas profissionalizantes localizadas na região metropolitana de Belo Horizonte. O objetivo do trabalho foi de analisar os processos que constituem a prática docente e as características dos saberes docentes dos professores pesquisados, bem como identificar os modelos de ação pedagógica que orientam e estruturam a prática de ensino dos referidos docentes.

            Na parte introdutória do texto os autores fazem algumas indagações, a saber:

De que forma o ensino de conteúdos de áreas profissionais tem relação com o desenvolvimento de habilidades profissionais próprias do ofício docente na EP? Quais seriam essas habilidades pedagógicas? Em que medida o peso e as influências do mundo produtivo e as demandas do mercado impactam a ação pedagógica dos professores da EP? O que dizem os professores da EP sobre a sua formação inicial e continuada? Que subsídios os saberes da experiência na docência, edificados pelos professores da EP, podem trazer para a formulação de propostas de formação de qualidade social para esses mesmos docentes? (GARIGLIO & BURNIER, 2014).

            Na parte que trata dos saberes docentes em questão, abriu-se a discussão sobre a necessidade de profissionalizar o magistério. Pois se evidenciou pouca importância dada à formação de professores gerando fragilidade da profissão docente e contribuindo para uma crise da escola. Essa crise é oriunda da dificuldade da escola de lidar com a sociedade globalizada.

            A justificativa desta pesquisa realizada por esses dois pesquisadores pode ser facilmente compreendida, uma vez que são muito escassas pesquisas sobre o tema saberes docente e formação de professores da educação profissional no Brasil. Geralmente, as pesquisas privilegiam o ensino mais científico.

Para Tardif (2000, p. 11):

[...] os saberes profissionais são saberes trabalhados, lapidados e incorporados no processo de trabalho docente e que só têm sentido em relação às situações de trabalho concretas, em seus contextos singulares e que é nessas situações que são construídos, modelados e utilizados de maneira significativa pelos trabalhadores.

            Concordo com o autor quando menciona a concretude que deve haver entre o saber profissional e o trabalho docente para que haja sentido. Para que haja entendimento de qualquer assunto deve haver a realização da experiência no mundo real.

            Segundo Gauthier et al. (1998) apud Gariglio & Burnier (2014) citam que o saber que é necessário para ensinar algo não pode ser reduzido apenas do conteúdo das disciplinas. Concordo novamente com os autores, percebo que para ensinar, nos moldes da educação escolar, se faz necessário ter domínio sim dos conhecimentos específicos, mas também, de conhecimentos ligados a processo de ensinar em si. Na parte do texto que tem como subtítulo a docência na educação profissional: um ofício sem saberes?, esse debate fica bem evidente.

            Existe uma ideia de que o professor do ensino técnico não tido como um profissional da área de educação, mas sim como um profissional de uma área técnica e que porventura leciona. Essa falta de identidade docente é percebida muitas vezes pelos próprios professores da área técnica. Os autores salientam que essa falta de identificação é acentuada muitas vezes pela falta de estudos sobre a questão, pois existem poucos estudos sobre a formação de professores do ensino técnico profissional. Geralmente, a ênfase dos estudos foi dada para a formação de professores do ensino científico.

            A pesquisa foi realizada com oito professores de quatro escolas técnicas de nível médio, sendo pesquisados dois docentes por escolas. Segundo os autores o reduzido número de professores se deu por possibilitar o estudo mais aprofundado na prática docente de cada um. Para isso utilizou-se de entrevistas, questionários, observação in loco e análise documental.

            Os resultados da pesquisa apontam que os docentes ressaltam a importância da experiência no mercado de trabalho daqueles que se propõe a trabalhar no ensino profissional, ou seja, a experiência prática por eles seria algo fundamental para o exercício da docência. De acordo com os autores, esse pré-requisito de ter um mínimo de experiência nas empresas se deve ao fato destas estarem na vanguarda tecnológica, pois é uma exigência do sistema capitalista estarem sempre inovado, fator primordial para manter o lucro. O que não costuma ocorrer de forma corrente na academia, que muitas vezes não conseguem acompanhar o desenvolvimento tecnológico. No entanto, Tardif (2002), alerta:

para o fato de que nenhum saber é por si mesmo formador. Os professores não possuem mais saberes-mestres, cuja posse venha garantir sua maestria: saber alguma coisa não é mais suficiente; é preciso também saber ensinar. Esse saber ensinar é o que Shulman (1986) denomina de conhecimento das possibilidades representacionais da matéria, considerandoaspectos específicos dos contextos em que leciona, da população, sua escola e suas classes.

Ficou evidente na pesquisa que os conhecimentos pedagógicos ficam num segundo plano quando relacionados com os conhecimentos técnicos, segundo os relatos dos professores pesquisados.

Os autores constataram também que a concepção de docência que os professores revelavam variava dependendo da instituição na qual estavam vinculados, o que nos leva a crer que a ideologia institucional de certa forma contribuía para moldar a ideologia docente.

Os autores finalizam o texto mostrando que a pesquisa identificou três tipos de saberes: os saberes laborais (obtidos na prática), os conhecimentos dos conteúdos das disciplinas (obtidos na sua formação específica) e os conhecimentos pedagógicos (obtidos em cursos de licenciatura ou mesmo na própria sala de aula, ou seja, na própria prática docente).

Lembraram novamente a questão da identidade docente quando relatam que “o professor do ensino técnico não é concebido como um profissional da área da educação, mas sim como um profissional de outra área e que nela também leciona”.

Os autores chamam a atenção para o fato de que poucos docentes relataram a necessidade de se promover uma educação profissional voltada para a formação integral do ser humano, ficando seus discursos presos a uma formação estritamente para o mercado do trabalho. Essa sem dúvida é uma visão extremamente reducionista.

Por fim, os autores citam que é urgente construir uma profissionalização dos docentes da educação profissional. Neste contexto, faz-se necessário a criação de uma política pública de formação inicial e continuada de professores para a educação profissional, com o objetivo de superar as diversas dificuldades constatadas na pesquisa. 

Referências

GARIGLIO, J. A.; BURNIER, S. L. Os Professores da Educação Profissional: Saberes e Práticas. Cadernos de Pesquisa. 2014, 26p.

Por Sátiro Ramos