No Capítulo I em que Brandão enfatiza o Gótico em sua trajetória histórica podese perceber que, após o despertar do mundo românico, a Europa da baixa Idade Média (das cruzadas até o século XV), conhecida como Europa das catedrais, experimentou excepcional apogeu cultural, político e econômico, cujo expoente artístico manifestou-se no florescimento do gótico, como relação de reciprocidade com o universo, onde o cosmos e algo de divino foram fontes de inspiração das edificações. Embora durante muito tempo se tendesse a tratar o gótico – nome depreciativo que o Renascimento deu a esse estilo, por alusão a seu caráter bárbaro, "godo" – como uma contraposição ao românico, ele foi na realidade um aprofundamento dos elementos básicos do românico, particularmente de sua verticalidade. O termo designa um conjunto de manifestações artísticas desenvolvidas entre meados do século XII e início do XV – em alguns lugares, até o século XVI. Tais manifestações foram possibilitadas pela evolução das técnicas de construção, com o aparecimento do arco ogival, por exemplo, e em conseqüência do surgimento de uma forma de vida e uma cultura urbana, dominadas pela burguesia e inferindo às edificações uma sensação orgânica e mística escolástica do espaço, que reflete no íntimo do espectador. Com vistas no que autor procura passar por intermédio do contexto, é conveniente, antes de tudo ressaltar que a arquitetura é uma arte útil por excelência, sendo dentre todas as criações do homem, a que revela de maneira mais profunda a evolução das sociedades ao longo de sua história. Segundo Payot, apud Brandão (1999) ao argumentar sobre a arte clássica medieval românico e bizantina e a semelhança das edificações com o cosmos e a criação do universo, relata que: O templo representa o mundo; mas o mundo, inversamente, é construído como um tempo. Aqui, o reenvio é recíproco (...) e o edifício como arqui-tetura, isto é, ordem simétrica, reenvia ao mundo como modelo, isto é, harmonia, proporcionalidade universal. Para compreender a gênese da arquitetura, é conveniente atentar para três fatores determinantes: as possibilidades que em dado momento as técnicas e materiais propiciam; as 2 necessidades a que um edifício concreto atende; e as concepções artísticas predominantes. São, portanto, três elementos sincrônicos – técnico, social e estético – cuja inter-relação ao longo dos séculos marcou os diferentes períodos arquitetônicos. Seu estudo constitui a base do desenvolvimento histórico. Todavia a forma gótica infere à arquitetura certa superioridade, segundo as prescrições divinas herdadas de concepções anteriores, como foi o caso da construção do Pantheon ou mesmo da Santa Sabina, dentre outras como ventila o autor. Na verdade o sentido da disposição espacial das edificações medievais relevava ao indivíduo à condição de quase divino, tendo ruptura com a decadência do império romano. Se antes a elaboração espacial impunha a impressão de que os céus descia à terra, daí para frente, embora permanecesse essa idéia, a arquitetura proferia um outro sentimento: de que o homem é quem deveria elevar-se a Deus e à graça divina. Nesse caso a elevação, isto é, a ascensão também era vista nas igrejas, nas suas formas globais, de cosmos onde o altar delinearia o centro da ascensão. O período impunha o foco para o interior das edificações. Segundo a literatura e os próprios enciclopedistas, dos séculos que medeiam entre o fim do Império Romano e o aparecimento da arte românica restam edifícios religiosos, inspirados na tradição paleocristã e bizantina. Exemplos desta última são a capela Palatina, de Aquisgrana (atual Aachen, Alemanha), erigida por Carlos Magno em 805, conforme o modelo de planta octogonal, e a igreja de São Marcos, em Veneza, construída no século XI. (Britânica, 2000) O mais comum, porém, foi o emprego da planta em cruz latina, devido fundamentalmente à necessidade de ampliar o corpo longitudinal da nave central para acolher comunidades cada vez mais numerosas de fiéis. Desta forma, as variantes regionais – arte carolíngia, arte otoniana na Alemanha, arte visigótica e asturiana na Espanha – foram-se aproximando até chegarem, em torno de 1150, à formação de um estilo europeu de traços essencialmente comuns, o românico, cuja expansão se deveu sobretudo às ordens monásticas, com destaque para a de Cluny. A designação "românica", emprestada à arquitetura desse período, remonta ao século XIX e é uma alusão ao retorno de certos elementos arquitetônicos romanos. Na realidade, o românico nada mais é que a culminação de um processo estrutural iniciado nas igrejas paleocristãs e que encontraria sua expressão máxima no gótico