BOLOGNINI, Carmen Zink, OLIVEIRA, Ênio, HASHIGUTI, Simone. Línguas Estrangeiras no Brasil: Histórias e histórias. (p. 05 - 64).

Os autores do texto abordam como: a história brasileira, a representação dos imigrantes, ao lado dos indígenas, dos africanos e do colonizador português, teve um lugar significativo como parte da constituição do povo brasileiro. A análise da questão a partir da linguística, focalizando a diversidade das línguas introduzidas no Brasil pelos imigrantes,permite reler o significado da presença da diversidade de línguas no Brasil a partir do fenômeno imigratório.

O texto menciona dados referentes a algumas línguas de imigrantes e expõe temas relacionados ao modo de presença e de ensino destas línguas na constituição histórica do povo brasileiro, propondo questões relativas à relação entre língua materna, língua estrangeira e língua nacional, no âmbito dessa história e do ensino de línguas. A língua oficial determina a relação que os sujeitos têm com o país, no caso, o Brasil.É ressaltado que temos que pensar sobre algumas das políticas de colonização,de imigração e de línguas que tivemos e ainda temos em nossa história,visto que fomos nos constituindo como um "povo histórico muito heterogênico"(p.8-9).O português entrou no país por meio do processo de colonização,ocupando e dividindo espaços com outras línguas praticadas neste território,principalmente a dos índios. Sendo assim, o português nem sempre foi à língua mais falada no Brasil. Houve um período no qual a língua mais falada no Brasil era a língua indígena, e foi apenas a partir dos séculos XVII e XVIII que essa língua perdeu espaço para o português, devido à obrigatoriedade do seu uso e do seu ensino.

Os imigrantes entraram no país e trouxeram as suas línguas maternas: outras histórias, outras ideologias e o modo pelo qual eles foram constituídos por suas línguas maternas foram determinantes para a forma com a qual eles se relacionaram com o português e com o Brasil. Para os imigrantes, o português era a língua do estrangeiro, do diferente e a maneira pela qual se deu a entrada e a adaptação do imigrante no novo ambiente (dos falantes de português) estava articulada com a forma que eles se relacionaram com o aprendizado do português. Esse status de estrangeira da língua portuguesa no Brasil, entretanto, foi apagado em nossa história, a partir do momento que a própria língua se coloca na origem da nação brasileira (p.13).

No Brasil, dada à variedade de imigrantes que para cá vieram, principalmente da Europa e da Ásia, são faladas várias dessas línguas. É possível citar o alemão, o francês, o espanhol, o holandês, o inglês, o italiano, o japonês, o africano, dentre muitas outras línguas. A existência e a expansão dessas línguas até a predominância do português não foram, seguramente desvinculadas dos movimentos da colonização (p.16). De forma gradual, entretanto, em decorrência do efeito produzido por essa política de línguas e dos acontecimentos que viriam marcar a história da nação no século seguinte, as línguas indígenas também foram sucumbindo, até a extinção de muitas delas (p.21).

Entre a língua materna e a língua nacional trabalha-se a questão do sujeito constituído pela linguagem, pensando o falante de determinada língua a partir do lugar de interlocução que lhe cabe na cadeia discursiva. O texto nos faz refletir sobre a maneira pela qual os discursos se articulam para definir esse lugar que o imigrante ocupa em relação ao brasileiro. Portanto, é na prática de linguagem dos falantes descendentes de imigrantes que se apresenta uma tensão entre a língua nacional e a língua materna, que se produz na história e atinge tanto a estrutura da língua quanto o sujeito. Cada uma das línguas estrangeiras que foi se estabelecendo aqui foi deixado algum traço na nossa língua.E se foi deixado na nossa língua,faz parte de nossa cultura.A cultura não acontece fora da língua (p.51).

O estudo dessa tensão na prática de linguagem leva a desvendar-se questões sobre o ensino de língua (português), tal como a importância de não silenciar as relações históricas tensas entre a língua nacional e as línguas maternas da população, e de se considerar as situações internas do país, em que a língua nacional ensinada na escola não coincide com a língua materna dos alunos. É importante, nesse sentido, lembrar também que há situações em que a língua materna se compõe de materialidades linguísticas que se constituem de elementos de mais de uma língua. A diferença entre as gerações é algo importante a considerar nesta reflexão histórica sobre estrangeiros e suas línguas no país, não só porque se discute a história de uma "discursividade brasileira”, mas a forma de como as línguas estrangeiras chegaram até hoje (p.56).

A última abordagem contida no texto dá-se pela visão de relações entre as gerações com a língua de origem. Os imigrantes que permaneceram no Brasil, onde se fala o português, de modo geral em suas famílias, não conseguiram manter a língua de origem entre seus membros(p.57). A relação histórica densa entre as línguas interfere, portanto, na constituição do sujeito de linguagem,fazendo-se com que muitas gerações de imigrantes realizem o movimento de procura por cursos de idiomas referentes a sua geração familiar histórica, na tentativa de resgate: das suas origens,de reconstituição de sua identificação social e de uma unidade nacional originária.O fato é que apesar de nossa língua nacional oficial ser o português,as línguas estrangeiras ainda se mantêm vivas em nosso país(p.58).