A bem da explicação dos contrários, Pessanha (p. 81), declina que muitas vezes um estado é reconhecido pelo seu contrário, e não menos freqüentemente os estados serão reconhecidos pelos "sujeitos" que os manifesta; porque: a) quando conhecemos a boa condição, a má condição também se nos torna conhecida; e b) a boa condição é conhecida pelas coisas que se acham em boa condição, e as segundas pelas primeiras. Isto é, só se percebe o bem ou o bom, pela existência do mal ou do mau, ou ainda, todo positivo tem seu contrário negativo, ou não haveria razão de ser. Com referência à justiça e à injustiça considera-se: l) com que espécie de ações se relacionam elas; 2) que espécie de meio-termo é a justiça; e 3) entre que extremos o ato justo é intermediário. A Justiça é entendida como uma disposição de caráter que leva as pessoas a fazer e a desejar o que é justo e vice-versa quando se trata da injustiça. Considera-se que uma faculdade ou ciência, que é a mesma coisa, se relaciona com objetos contrários, mas uma disposição de caráter, que é um de dois contrários, não produz resultados opostos. O autor exemplifica com a saúde. Justiça e Injustiça parecem ser termos ambíguos, mas, como os seus diferentes significados se aproximam uns dos outros, a ambigüidade escapa à atenção e não é evidente como nos casos em que os significados se afastam muito um do outro. O justo é, por tanto, o respeitador d lei e o probo, e o injusto é o homem sem lei e ímprobo. Visto que o homem injusto é ganancioso, deve ter algo que ver com bens — não todos os bens, mas aqueles a que dizem respeito à prosperidade e a adversidade. Chamamos justos aqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para a sociedade política, a felicidade e os elementos que a compõe. A lei, entretanto, ordena a prática de atos considerados justos do ponto de vista da justiça, mas as vezes contrária à vontade subjetiva. Assim, a forma da justiça, é uma virtude completa em relação ao nosso próximo, que as vezes se distancia da relação com nós mesmos. É por essa razão que se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes é o "bem de um outro". A justiça nesse sentido não é um parte da virtude, mas a virtude inteira; nem é seu contrário ou uma parte do vício, mas o vício inteiro, descobrindo portanto, a diferença entre a virtude e a justiça.