Resenha do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels

 Lendo na íntegra a tese de Marx e Engels, numa edição panfletária da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo, em comemoração aos 160 anos do Manifesto do Partido Comunista, surpreendo-me com algumas ideias claras, sensatas e extremamente viáveis de destruição do modelo burguês para criação de um modelo desalienado e altamente revolucionário, porque não radical, no sentido de ir à raiz dos problemas a fim de eliminá-los por completo.

A frase-epígrafe “Proletários de todos os países, uni-vos!” já me provoca uma reação contra trabalhadores desunidos de sua classe.

Na apresentação da obra, encontro o argumento de que o Manifesto constitui o mais relevante escrito político-ideológico da História Moderna, pela clareza com que avalia a realidade, presente ainda hoje na estrutura de poder e exploração, uma vez que, para dominar os trabalhadores, que produzem a riqueza, a burguesia desagrega ideologicamente o proletariado. Além disso, apresentam-se as mais variadas lutas em busca da construção de uma sociedade socialista evoluindo para o comunismo, não só no sentido econômico, mas também na questão política e ideológica. Para tanto, observo que a cultura, os hábitos e os pensamentos são trabalhados para manipular as massas. Além disso, vejo a ligação entre a Lei Geral da acumulação, presente na obra O Capital, de Marx, com a globalização que gera fome, miséria, desemprego, exploração e conflitos étnicos.

Delicio-me com a convocação de Marx e Engels: “Que as classes dominantes tremam frente à ameaça de uma revolução comunista. Os proletários nada têm a perder nela, a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar”.

No prefácio à edição alemã, satisfaço-me em ler que as ideias divulgadas no Manifesto comunista conservam grande exatidão de abordagem, mesmo depois de tantos anos. Isso porque o reconhecimento do comunismo no mundo reune pensadores diversos de variadas nações em torno de discutir e formular documento ideológico de cunho revolucionário, o que me agrada no sentido de observar intelectuais se posicionando acerca de política de transformação social.

No capítulo Burgueses e proletários, destaco o óbvio, que não pode deixar de ser dito, a história das lutas de classes e o fato de os governos agirem em defesa da burguesia, sobretudo, como ainda ocorre cotidianamente. Importa salientar também que o pensamento burguês assalariou as atividades, até mesmo as consideradas veneráveis, visto que médicos, juristas, sacerdotes e poetas se tornaram empregados assalariados, dependendo do capital para sobreviverem. Também destaco a crítica de criação de necessidades, a centralização de poder e a subordinação da cidade e do campo como forma de dominação, suprimindo a propriedade de muitos em detrimento de poucos, os donos dos meios de produção. Outro questionamento que me inquieta se revela no fato de os proletariados receberem a educação que a burguesia oferece, dificultando a conscientização da classe mais sofredora e exigindo reformas no sistema.

Sobre Proletários e comunistas, a base comunista me esclarece que a luta se torna ampla, abrangente, envolvendo a todos os explorados contra os exploradores burgueses. Fico alegre em ver no Manifesto a defesa contra a propriedade privada da burguesia, não contra a propriedade adquirida com trabalho pessoal, resultado de independência e liberdade respeitadas. A crítica apenas mostra que o trabalhador produz a riqueza para os donos dos meios de produção e dela não participa, porque fica somente com o “mínimo de salário”. Por essa razão, o comunismo defende uma forma de melhorar a existência dos trabalhadores: “O comunismo não retira de ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outro por meio dessa apropriação”. Quando pede a abolição da família e da religião burguesas, entendo as divisões que estas causam no seio social e a necessidade de rever a presença do modelo burguês diante de tais instituições, como o casamento burguês. Com satisfação vejo, ainda, o comunismo pregar contra o trabalho infantil. Lembro da música Imagine e sinto melhor a proposta de Lennon. Recordo, também, a entrevista de Antônio Cândido, ao pregar que o capitalismo atual se mostra impregnado de ideias socialistas, e o discurso do geógrafo Milton Santos, para o qual a verdadeira função do intelectual é provocar: “a única saída para a humanidade é o socialismo”. Vejo isso no Manifesto em ideias contrárias ao latifúndio e na defesa de sistema de educação e de transportes públicos na mão do Estado.

A leitura sobre a literatura socialista e comunista me enriquece de diferenças e proximidades complementares entre as teses. O socialismo reacionário se apresenta feudal, ao reprimir a classe operária com um verniz favorável ao proletariado; o pequeno-burguês, ao visar, no fundo, mesmo que mostrando as contradições da economia burguesa, à restauração dos antigos meios de produção baseados na troca; o alemão, chamado de verdadeiro socialismo, ao discutir a alienação humana e a ”eliminação do poder da universalidade abstrata”, importante para o crescimento de um proletariado revolucionário.

Já o socialismo conservador ou burguês defende filantropias, beneficências, proteção de animais, diminuindo os gastos da burguesia com seu domínio e simplificando a administração do Estado.

O socialismo e o comunismo crítico-utópicos, por sua vez, trazem uma literatura consciente da luta de classes, porém com o desejo de  melhorar, pacificamente, sem revoluções, as condições de vida para todos, mesmo os já privilegiados.

Por último, leio o derradeiro capítulo do Manisfesto acerca dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição, no qual vejo apoio a lutas agrárias e operárias, à conscientização dos trabalhadores para a revolução e a união mundo afora dos ideais de derrubada da exploração e construção de uma liberdade de ação, longe do domínio econômico, político e ideológico da burguesia exploradora.

Sei que muitos analisam o comunismo sem ter lido o Manifesto do Partido Comunista, e isso representa um enorme erro, pois a obra propõe um trabalho sério bem diferente das ideias revisionistas e relidas por muitos. Por isso, recomendo a todos que discutem cultura, política, história, comunicação e economia a leitura na íntegra da tese de Marx e Engels.