Resenha do livro O Símbolo Perdido

Por Jean Carlos Neris de Paula | 10/04/2011 | Resumos

O poder da mente

O livro O Símbolo Perdido, de Dan Brown, Editora Sextante, 489 páginas, multiplica conhecimentos simbólicos importantes para todos que desejam desvendar o trabalho histórico-cultural-religioso da humanidade. A obra já começa com uma epígrafe que evoca a busca pelo aprendizado: "Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros" (Os Ensinamentos Secretos de Todos os Tempos).

Uma questão relevante no romance de ficção indica que as organizações, os rituais, as informações científicas, as obras de arte e os monumentos incluídos no texto existem de fato, o que representa um enorme cabedal cultural disponível a todos os leitores. Na história, uma frase de Einstein invoca o misticismo: "Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza, há algo sutil, inatingível e inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo o que podemos compreender é minha religião".

A vida de Robert Langdon se mostra cheia de aventuras, viagens e perseguições, bem diferente da realidade dos demais professores, que em sua maioria se restringem a uma existência de leitura, escrita e aula, portanto presos ao universo teórico do saber, muitas vezes sem tempo e condições de vivenciar ricas experiências. No enredo, o professor Langdon é "intimado" pelo Francomaçon Peter Solomon a ministrar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos da América, mas descobre ao chegar que se trata de uma armadilha perigosa que envolve sequestros, torturas, ambições, rituais, perseguições, mortes, segredos, simbologias. Tudo isso percorre os mais significativos pontos de Washington, a capital americana.

Em busca de encontrar e salvar Solomon das mãos de Mal`akh, Langdon conta com Katherine, irmã de Peter, cientista que investiga secretamente a noética, uma ciência que estuda o poder da mente humana no mundo real. É possível provar a existência da alma, avaliar a interferência da mente no mundo físico e mensurar o humor de uma nação em determinado contexto? Essas são indagações "respondidas" de uma forma muito criativa na obra.

Como envolve conhecimentos secretos que podem modificar a ordem estabelecida, Robert e Katherine não sabem em quem confiar, haja vista que muitos estão envolvidos em manter o grande segredo longe das mãos de pessoas irresponsáveis, que podem fazer mau uso do saber: "O conhecimento é uma ferramenta e, como todas as ferramentas, seu impacto está nas mãos do usuário". Por tudo isso: "É possível argumentar que determinadas questões talvez devessem ficar sem resposta".

Com o domínio da mente, o homem pode, segundo indica o livro, chegar à apoteose: "A palavra apoteose significa literalmente ?transformação divina?: o homem que se torna deus. Vem do grego antigo: apo, que significa ?tornar-se?, e theos, ?deus?. O livro ensina: "Eu aprendi a nunca fechar a mente a nenhuma ideia pelo simples fato de ela parecer milagrosa".

Alegorias, mitos, símbolos e metáforas se mostram muito presentes nos segredos das organizações secretas e enriquecem culturalmente aquele que se aventura pela escrita de Dan Brown, o qual recebe instruções precisas de sua esposa, a pintora e historiadora da arte Blythe, que contribui nos estudos abordados nos livros do marido.

Despertar a mente para descobrir Washington, com seus mistérios e suas obras de arte, bem como entrar em contato com algumas teorias de pesquisa, revela-se como o grande valor da narrativa, digna de cenas cinematográficas, emocionantes. A narração aborda a organização da Francomaçonaria, os valores de uma família centrada diante de um filho rebelde e a relação entre poder, dinheiro e política. Os capítulos se sucedem de forma envolvente e apresentam um final surpreendente, mas a descoberta precisa ficar a cargo do leitor.

Já a Câmara de Reflexões da maçonaria pode assustar qualquer leigo desavisado: "Essas câmaras sempre contêm os mesmos símbolos: uma caveira e ossos cruzados, uma foice, uma ampulheta, enxofre, sal, um papel em branco, uma vela, etc. Os símbolos da morte inspiram os maçons a refletir sobre a melhor forma como conduzir suas vidas na Terra. (...) " ? A caveira, ou caput mortuum, representa a última transformação do homem, pela decomposição. É um lembrete de que todos nós um dia perderemos nossa carne mortal. O enxofre e o sal são catalisadores alquímicos que facilitam a transformação. A ampulheta representa o poder transformador do tempo. (...) ? E esta vela representa o fogo primordial criador e o despertar do homem do sono da ignorância... a transformação pela iluminação. (...) ? A foice, na verdade, simboliza o alimento transformador da natureza: a colheita de suas dádivas".

O livro surpreende em alguns momentos quando foge ao estilo do autor e apresenta uma cena dialógica em que surgem palavrões, naturalmente representativos de expressão de raiva. Esse recurso, não muito valorizado pelos pais de alunos, mostra a fala das personagens de modo natural, por isso deve ser mais bem compreendido pelos leitores, para que professores possam adotar nas escolas livros que exibem mais realismo as suas cenas, com linguagem condizente aos tipos representativos dos personagens da história.

Constitui a obra um exemplar de texto que valoriza as leituras e os ensinamentos religiosos: "As preciosas palavras desses adeptos ? Buda, Jesus, Maomé, Zoroastro e inúmeros outros ? foram transmitidas ao longo da história por meio dos suportes mais antigos e preciosos. Os livros". Na ficção, aprende-se que a Bíblia Maçônica contém o Velho Testamento, o Novo Testamento e uma coletânea de textos filosóficos da maçonaria, lindamente apresentada com o seguinte prefácio: "O TEMPO É UM RIO... E OS LIVROS SÃO BARCOS. MUITOS VOLUMES NAVEGAM POR ESSAS ÁGUAS E ACABAM NAUFRAGADOS E IRREMEDIAVELMENTE PERDIDOS EM SUAS AREIAS. POUQUÍSSIMOS SÃO AQUELES QUE SUPORTAM OS RIGORES DO TEMPO E VIVEM PARA ABENÇOAR ÉPOCAS FUTURAS".

A Bíblia é mostrada no romance como uma pesquisa da mente humana, tal qual se observa em Coríntios 3:16: Vós sois o templo de Deus. Em inglês, a palavra Temple pode representar tanto têmpora como templo. Dessa forma, ciência e religião são aproximadas: "Nossas mentes podem gerar energia capaz de transformar a matéria física. (...) ? As partículas reagem aos pensamentos... O que significa que nossos pensamentos têm o poder de mudar o mundo. (...) - Nós provamos cientificamente que o poder do pensamento humano cresce exponencialmente em proporção à quantidade de mentes que compartilham um mesmo pensamento".

A trama de Dan Brown termina com a palavra esperança, o que sugere a crença de que os limites entre fé e razão possam ser superados na criação de um mundo unido pela força do pensamento: (...) "duas cabeças pensam melhor do que uma, mas não duas vezes melhor, e sim muitas vezes melhor". Assim, a obra se revela um tratado de paz, união e superação de diferenças entre as mais diversas correntes científicas e religiosas, com demonstrações de proximidades espantosas e otimistas com relação ao desenvolvimento da humanidade. Por todas essas razões, o livro deve ser lido com bastante atenção, pois nos mínimos detalhes é possível encontrar grandiosos ensinamentos.

Jean Carlos Neris de Paula